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Coronavírus: “Acabar não acaba, mas vamos acabar por ser imunes”

Rita Alvim é enfermeira em Montauban, no sul de França, e também está com receio do novo tipo de coronavírus porque pode “tocar a todos”, porque se vive uma “bola de neve” numa França incapaz de cumprir a quarentena e porque há profissionais obrigados a trabalhar mesmo sob suspeita de estarem infectados. Quanto ao novo tipo de coronavírus acredita que “acabar não acaba” mas que a imunidade colectiva ou uma vacina acabarão por vencer o vírus.

Imagem de um centro onde se fazem testes de Covid-19. Paris, 27 de Março de 2020.
Imagem de um centro onde se fazem testes de Covid-19. Paris, 27 de Março de 2020. AFP - PHILIPPE LOPEZ
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As enfermeiras estão na linha da frente contra o novo tipo de coronavírus. Rita Alvim vai regressar à sua clínica em Montauban, no sul de França, para a semana, em pleno pico de Covid-19, depois da licença de maternidade. Admite estar com medo de regressar ao trabalho porque o novo tipo de coronavírus pode “tocar a todos” e tem dois bebés em casa.

Ainda que a sua clínica esteja na “terceira linha” porque só deverá receber pacientes com covid-19 prestes a receber alta para libertar camas no hospital e noutra clínica maior, a eventual falta de material é uma possibilidade, pelo que "se fechou o bloco e agora é só urgências para se poupar material".

É que quando temos de fazer endoscopias, num dia normal não temos de estar vestidos como se fôssemos operar. Agora, como não sabemos se o paciente está infectado temos de nos vestir para nos proteger da cabeça aos pés praticamente (...) Num dia normal de endoscopias, para um cirurgião fazemos à vontade 15 pacientes. Ora, vestir e despir, o meu colega perguntou e a farmácia disse que temos material até à próxima sexta-feira", descreve para justificar o fecho do seu serviço em prol do serviço de urgências e da poupança de material.

"Tenho uma colega que tinha uma caixa de máscaras das FFP2 já fora de prazo e ela disse ‘em último caso vou deixar no bloco porque, se for necessário, alguma coisa há-de proteger. Sei também de uma colega que está a pensar coser as próprias máscaras”, conta.

A França está preparada para esta pandemia? “Acho que não”, responde, apontando logo o comportamento dos franceses que continuam a passear na rua mas têm comportamentos “sem lógica nenhuma” como esvaziar farinha, açúcar, iogurtes e até ração para cães nos supermercados.

Isto é uma bola de neve. Ou fecham mesmo tudo de vez e põem os militares na rua a controlar ao máximo porque eu acho que há muita gente que não está a cumprir. Enquanto houver gente na rua, vão estar sempre a surgir casos”, considera a portuguesa de 31 anos.

O problema não é só da população. Nos corredores dos hospitais e clínicas, há gente a trabalhar horas a fio, com pouco material, altamente exposta ao coronavírus e que chega a ser forçada a trabalhar mesmo tendo estado em contacto com pacientes infectados e suspeitando poderem ter contraído o vírus.

“Eu tenho um colega num hospital aqui que esteve em contacto com um senhor que morreu de um traumatismo craniano mas estava infectado e fez-se o teste só quando ele morreu. O meu colega não estava lá de máscara, mas agora continua a trabalhar, todo protegido para não contaminar outros. Eu acho que estão a fazer isso em todo o lado”, revela.

Também em Portugal, Rita tem “uma amiga que esteve em contacto com outra colega enfermeira que deu positivo ontem ou anteontem” e, apesar de a Direcção-Geral da Saúde ter sido alertada, foi decidido que “se não tem sintomas, vai trabalhar na mesma, protegida, e não lhe fazemos o teste porque ela está assintomática”.

Por isso, não lhe espanta que os testes não sejam generalizados a toda a população visto que, por um lado, “não há testes para toda a gente” e há assintomáticos que “dão falsos negativos”, ou seja, são portadores do vírus mas o teste diz que é negativo.

Questionada sobre quando a situação sanitária se pode acalmar em França, Rita Alvim aponta que “acalmar acalmar, se toda a gente ficar em casa e Macron prolongar por mais um mês a quarentena, talvez no fim de Abril começasse uma redução de casos”. Porém, também seria necessário “fechar fronteiras, fechar aeroportos e restringir ainda mais a saída das pessoas”.

 

Sobre se esta situação pode “acabar” ou se no próximo Inverno vamos viver o mesmo, a resposta é imediata: “Não, não. Acabar não acaba. É um vírus, para mim não acaba. O que vai acontecer é que vamos acabar por sermos imunes a este vírus, tal como somos imunes a muitos outros. Vai acabar por se criar a imunidade colectiva, só que até lá ainda vai morrer muita gente”.

Quanto a esperar por uma vacina, “o problema é que vai ter que se esperar, no mínimo, um ano”. 

Sobre as palmas que se ouvem em algumas cidades francesas para agradecer o trabalho do pessoal hospitalar na luta contra o novo coronavírus, Rita alerta : "Podem continuar a bater palmas, mas fiquem em casa".

Oiça aqui a entrevista:

12:28

Rita Alvim, enfermeira portuguesa a trabalhar em França

 

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