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França/Cinema/Portugal

Morreu Michel Piccoli: monstro sagrado do cinema francês e europeu

O actor francês Michel Piccoli morreu dia 12 de Maio com 94 anos de idade de um acidente vascular cerebral, anunciou a família esta segunda-feira (18/05), desaparece assim um dos últimos monstros sagrados do cinema francês e europeu, Piccoli participou em mais de 200 filmes e em vários do produtor português Paulo Branco, entre os quais as suas três longas metragens "Alors voilà" e "Amoureuses em 1997 e "La plage noire" em 2001.

Michel Piccoli com 94 anos de idade faleceu a 12 de Maio de um AVC, anunciou a família esta segunda-feira (18/05).
Michel Piccoli com 94 anos de idade faleceu a 12 de Maio de um AVC, anunciou a família esta segunda-feira (18/05). AP - Laurent Gillieron
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Michel Piccoli nasceu no seio de uma família burguesa de artistas a 27 de Dezembro de 1925, no XIII bairro de Paris, os seus pais eram ambos músicos, o pai de origem italianana violinista e a mãe rica herdeira de industriais franceses e pianista. 

Actor de teatro e cinema, mas também cantor e escritor, comprometido com a esquerda, Michel Piccoli foi membro do grupo comunista Movimento da Paz, apoiou a candidatura de François Miterrand em 1974 e em 1981, foi acérrimo crítico do partido de extrema-direita Frente Nacional e mobilisou-se muito em campanhas das ongs Amnistia Internacional e SOS Racismo, mas desiludiu-se pela política nos últimos anos.

Personagem discreto, misterioso, simultaneamente famoso e secreto, Michel Piccoli formou-se em teatro na célebre escola parisiense Cours Simon e sempre fugiu ao estrelato, assumindo-se como uma "anti-star"

Ecléctico nas suas escolhas, Michel Piccoli participou em mais de 200 filmes, de um leque de realizadores oriundos de vários países e de universos distintos, casos de hispano-mexicano Luis Buñuel, dos italianos (de que falava perfeitamente a língua), Marco Ferreri, Marco Bellochio, Ettore Scola, Nanni Moretti, mas também do norte-americano Alfred Hitchcock, sem esquecer os franceses Jean Renoir, Michel Deville, Jean Pierre Melville, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Claude Chabrol, Costa-Gavras, Philippe De Broca, Yves Boisset, Jacques Rivette, Jacques Doillon, Bertrand Blier, Claude Sautet, Henri Tavernier, Louis Malle, Léos Carax, Alain Cavalier, Raul Ruiz, Agnès Varda, Jacques Demy, Claude Lelouch, Claude Miller, ou ainda o grego Théo Angelopoulos, ou o português Manoel de Oliveira, mas começou pela televisão e distinguiu-se igualmente no teatro.

Michel Piccoli sempre negou distinguir o cinema popular do cinema dito intelectual, daí a diversidade de paises e realizadores com quem colaborou.

Célebre em França com papeis emblemáticos, em filmes como "Le Mépris" em 1963 de Jean-Luc Godard , "Les choses de la vie" de 1970, "Max et les Ferrailleurs" de 1971 (este dois últimos com Romy Schneider) ou mais recentemente "Habemus Papam", Michel Piccoli rodou seis filmes com o cineasta surrealista hispoano-mexicano Luis Bünuel - o seu realizador preferido - dos quais entre os mais famosos "Journal d'une femme de chambre" de 1964 ou "Fantôme de la Liberté" de 1974, nos quais desempenhou papeis de manipulador subversivo ou de burguês em plena crise existencial. 

Também com o italiano Marco Ferreri rodou seis filmes, entre os quais o famoso "La Grande Bouffe" em 1973.

Michel Piccoli entrou em vários filmes produzidos pelo produtor português Paulo Branco a começar por "Party" de Manoel de Oliveira em 1996, seguidos em 1997 pelos seus dois primeiros filmes como realizador "Alors Voilà" e "Amoureuses" nesse mesmo ano, bem como "La plage noire" em 2001.

Ainda em 1997 Michel Piccoli desempenhou o papel principal em "Généalogies d'un crime" do cineasta franco-chileno Raul Ruíz (falecido em 2011), em 2001 "Je rentre à la maison" de Manoel de Oliveira, que foi Globo de Ouro do melhor filmes português, também de Manoel de Oliveira "Belle toujours" em 2006 e  mais recentemente em 2012 em "Les lignes de Wellington" ou "As linhas de Torres Vedras" um filme inacabado de Raul Ruíz, que a sua viúva Valéria Sarmiento terminou, com base num argumento do português Carlos Saboga.

Paulo Branco enfatizou à rfi que toda esta série de projectos comuns com Michel Piccoli cimentaram uma grande amizade.

Para o produtor português é "um dos grandes nomes do cinema" que desaparece.

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Paulo Branco, produtor português de cinema

Michel Piccoli, foi recompensado em 1980 com um prémio de interpretação no Festival Internacional de Cinema de Cannes pelo filme " Le saut dans le vide" de Marco Belocchio e foi nomeado quatro vezes para os Césares com os filmes "Une étrange affaire" de Pierre Granier Deferre em 1982, "La diagonale du fou" de Richard Dembo - 1985, "Milou em Mai" de Louis Malle - 1989 e "La belle noiseuse" de Jacques Rivette - 1992, sem nunca ter sido consagrado com a estatueta, equivalente dos Oscares em França, o que não o preocupou de sobremaneira.

 

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