Filme português de Miguel Gomes em competição para a Palma de Ouro em Cannes
Paris/Cannes – "Grand Tour" do realizador português Miguel Gomes consta dos filmes seleccionados pelo Festival de cinema de Cannes. Tal não acontecia já há 18 anos. O certame anunciou em Paris ao todo 19 filmes em luta pela Palma de Ouro no mês de Maio em Cannes. O americano Francis Ford Coppola " é um dos grandes destaques desta edição de 2024 com "Megapolis", ele que há 45 anos tinha obtido a sua segunda recompensa suprema no certame com "Apocalypse now".
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A 77a edição do Festival de cinema de Cannes decorre entre 14 e 25 de Maio na emblemática cidade do sul da França.
Foram divulgados os filmes em competição na selecção oficial e na mostra "Un certain regard" [Um certo olhar] numa conferência de imprensa em Paris a 11 de Abril.
O regresso do norte-americano Francis Ford Coppola ao concurso de Cannes é uma das principais novidades da edição de 2024.
Coppola, com 85 anos, já ganhou duas Palmas de ouro, em 1974 e 1979. "Megapolis" conta com um orçamento avaliado em 100 milhões de dólares e versa sobre a reconstrução de uma megalópole, parecida com Nova Iorque, um processo em que intervêm o autarca e um arquitecto.
Outros pesos pesados da sétima arte marcarão presença em Cannes. É o caso do canadiano David Cronenberg com um filme de luto com os actores Diane Kruger e Vincent Kassel.
O cineasta russo no exílio Kirill Serebrennikov vem defender as cores de "Limanov" adaptado da obra do célebre escritor francês Emmanuel Carrère.
"Marcello mio" do francês Christophe Honoré pega no mito do actor italiano Marcello Mastroianni, que se estivesse vivo festejaria este ano o seu centenário. Uma obra que inclui a filha Chiara Mastroianni e a mãe, Catherine Deneuve.
A lusofonia fica representada com dois filmes em competição: "Grand Tour" de Miguel Gomes e uma grande viagem pela Ásia com planos em preto e branco, também, a lembrar o seu "Tabu" filmado em Moçambique, e o brasileiro "Motel Destino" de Karim Ainouz, passado no Ceará.
Já não havia um filme português em competição há 18 anos !
O filme de abertura será "Segundo acto" do francês Quentin Dupieux com a emblemática actriz Léa Seydoux.
Greta Gerwig, realizadora do sucesso Barbie, do ano passado, presidirá o júri. A cerimónia de abertura e de encerramento de um dos maiores festivais de cinema do mundo será da responsabilidade da actriz francesa Camille Cottin.
Grand Tour
O filme é uma co-produção luso-franco-italiana implicando a portuguesa Uma Pedra no Sapato e conta com os actores Gonçalo Waddington e Crista Alfaiate nos papéis principais: ele é funcionário público do Império Britânico, ela é a Molly.
Ambos vão percorrer a Ásia, nomeadamente Myanmar, a antiga Birmânia.
Para além das cenas filmadas em estúdio em Lisboa e Roma constam filmes de viagem por outros países como o Vietname, a Tailândia, as Filipinas, Singapuraa, Japão e China.
Um projecto que acabou por viver ao ritmo das peripécias ditadas pela pandemia de Covid 19 que implicou confinamentos em vários desses países.
O filme marca, pois, o regresso à competição de filmes portugueses em Cannes, após "Juventude em Marcha" de Pedro Costa em 2006.
Reagindo a esta selecção Filipa Reis, da produtora Uma Pedra no Sapato, afirmou-se confiante na competição confidenciando saber há já algum tempo desta feliz selecção para o oficial de um dos maiores certames de cinema do mundo.
"Nós já sabemos há algum tempo. Não podíamos era comunicar. Foi obviamente uma alegria e um orgulho. Tenho muita confiança no trabalho que o Miguel [Gomes] fez e por isso também tinha alguma confiança que isto poderia acontecer."
Foi ainda por cima um projecto bastante turbulento devido à pandemia, nomeadamente em relação às filmagens. Portanto, foi um trabalho longo.
"Um trabalho longo, bastante divertido, bastante desafiante. Mas foi assim, uma aventura e um prazer viver."
Miguel Gomes tem sempre um lado muito estético que marcou muito, nomeadamente aqui em França, com o Tabu, com as filmagens a preto e branco no Gurué, e em Moçambique. Aqui também constam, nomeadamente planos na Ásia, em vários destinos da Ásia.
"Sim, foi constituído um arquivo de imagens contemporâneas em sete países asiáticos em Myanmar, Singapura, Vietname, Tailândia, Filipinas, Japão e China, que foi um pouco mais tarde devido à pandemia."
Mas como é que estão a viver o facto de estarem ao lado do Francis Ford Coppola de Cronenberg... pronto, de nomes tão consagrados do cinema à escala planetária, juntos em Cannes para esta edição.
"Com confiança."
Filipa Reis, produtora de "Uma Pedra no Sapato", 12/4/2024
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