Candidatura de Villepin ameaça reeleição de Sarkozy

Dominique de Villepin, ex-primeiro-ministro do governo Chirac de 2005 a 2007, surpreendeu os simpatizantes do partido do governo (UMP) ao lançar sua candidatura às eleições presidenciais de 2012. O anúncio de mais uma candidatura de direita divide o eleitorado conservador e ameaça a reeleição de Nicolas Sarkozy.

Dominique de Villepin anunciou neste domingo sua candidatura às presidenciais na França. Flickr/Nicolas_Mauduit

Dominique de Villepin é o décimo quarto candidato declarado às eleições presidenciais francesas de 2012. O lançamento de sua candidatura surpreendeu o presidente Nicolas Sarkozy, que pensava ter afastado o adversário político da disputa. O ex-premiê põe em perigo a reeleição do atual presidente que enfrenta uma multiplicação de candidaturas à direita.

Os dois inimigos passaram os últimos seis anos numa intensa batalha judicial, mas pareciam ter selado uma trégua em outubro, quando Sarkozy recebeu Villepin no Palácio do Eliseu. O encontro aconteceu logo depois de Villepin ser absolvido pela justiça no escândalo que ficou conhecido como Clearstream. O ex-premiê foi processado por Sarkozy, que o acusou de ter inventado a existência de uma conta bancária no exterior para prejudicar sua candidatura à sucessão de Jacques Chirac. A briga entre os dois chegou ao auge quando Sarkozy prometeu "pendurar" Villepin na justiça "como se faz com um pedaço de carne no açougue".  

Agora, o ex-primeiro-ministro revela ter outras ambições. Decidiu enfrentar o teste das urnas pela primeira vez, já que foi ministro e chefe de governo mas nunca se submeteu à escolha do eleitorado.

No partido de Sarkozy, muitos acreditam que ele vai renunciar à disputa algumas semanas antes das presidenciais. O partido que Villepin criou, República Solidária, tem apenas 20 mil associados e Villepin, 1% das intenções de voto. Para validar sua candidatura, o ex-premiê precisa ainda recolher 500 assinaturas de apoio de prefeitos. Outro obstáculo será a questão dos recursos - uma campanha presidencial custa caro e precisa ser planejada com antecedência.

O ex-ministro de Relações Exteriores de Jacques Chirac, que encantou o mundo ao rejeitar, na tribuna da ONU, a intervenção americana no Iraque, em 2003, diz que quer ser eleito presidente para defender a soberania do país, em perigo devido à crise na zona do euro. Villepin se declara aflito de ver a França humilhada pelos mercados financeiros que "impõem medidas de austeridade" à população.

Analistas estimam que se Villepin angariar os recursos e o apoio necessários para enfrentar o primeiro-turno, o segundo turno poderia ter um cenário às avessas das eleições de 2002. Naquele ano, o socialista Lionel Jospin ficou em terceiro lugar e Jacques Chirac disputou o segundo turno contra o então candidato da extrema-direita, Jean Marie Le Pen. Desta vez, Sarkozy poderia ser o terceiro colocado e o socialista François Hollande, líder nas pesquisas, disputar o segundo turno contra a candidata da extrema-direita Marine Le Pen. O presidente francês deve oficializar no início do ano sua candidatura à reeleição.