França quer usar Igrejas para abrigar os sem-teto no inverno

A ministra francesa da Habitação, Cécile Duflot, escreveu à Cúria Metropolitana de Paris pedindo a cessão de imóveis da Igreja para abrigar os sem-teto durante o inverno.  O principal partido de oposição, UMP, acusa a ministra de apontar "bodes expiatórios" e recorrer a anúncios para chamar a atenção da mídia ao invés de buscar soluções concretas para resolver um dos problemas mais graves do país.  

Igreja Saint Bernard em Paris, onde em 1996 refugiados clandestinos se instalaram antes de ser expulsos por ordem do primeiro-ministro Alain Juppé. Wikipédia

"Eu espero não ter que utilizar a minha autoridade", disse a ministra. Duflot afirmou que não vai entender se o arcebispo de Paris for contrário à ideia, já que, segundo ela, "Estado e Igreja têm os mesmos objetivos de solidariedade".

Há vários anos Paris vive um agravamento da crise no setor imobiliário. Muitos proprietários que compraram imóveis para investimento na cidade preferem manter os apartamentos vazios, mesmo pagando condomínio e impostos. A demanda maior que a oferta elevou os preços artificialmente e em casos extremos levou centenas de famílias de baixa renda às ruas.

Nos últimos dois anos, o número de mulheres com crianças morando nas ruas da região metropolitana aumentou a olhos vistos. Esse fenômeno choca os franceses pelas condições rudes do inverno, quando as temperaturas baixam a menos de 5 graus. Muitos franceses exclamam publicamente que essa situação não é digna de um país rico. 

Apesar da crise econômica, o preço do metro quadrado não recua em Paris e segue cotado em média a 10 mil euros, cerca de 26 mil reais. Os preços dos aluguéis acompanham essa tendência.

Este ano, o governo socialista ampliou a verba empenhada nos alojamentos temporários de inverno em 50 milhões de euros, cerca de 130 milhões de reais, e colocou 19 mil vagas à disposição dos sem-teto. Se esse número de leitos for insuficiente, a ministra da Habitação diz que vai requisitar na justiça os imóveis vazios em poder de bancos, seguradoras e da Igreja.