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França-EUA/Intervenção na Síria

França e EUA devem formar aliança inédita para intervir na Síria

O presidente François Hollande reiterou nesta sexta-feira sua disposição de intervir militarmente na Síria ao lado dos norte-americanos, apesar da negativa do Parlamento britânico. Assim, pela primeira vez, Paris é o principal aliado militar de Washington. Em entrevista ao jornal Le Monde, o chefe do Estado francês pregou uma ação "proporcional e firme" contra Damasco. "Cada país tem soberania para participar ou não de uma operação", disse. "Isso vale tanto para o Reino Unido quanto para a França".

Obama e Hollande em coletiva de imprensa na Casa Branca, maio de 2012
Obama e Hollande em coletiva de imprensa na Casa Branca, maio de 2012
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Essa aliança ofensiva franco-americana constitui "uma situação inédita no período contemporâneo", avalia Bruno Tertrais, da Fondation pour la recherche stratégique (Fundação pela pesquisa estratégica). "Americanos e franceses já compartilharam a linha de frente em gestões de crise, como no Líbano, nos anos 80 e 90, mas não me lembro de uma coalizão ofensiva construída em torno dos Estados Unidos e da França, sem participação britânica", explica.

Se a operação se concretizar, ela acontece exatamente dez anos depois da invasão do Iraque pelos EUA ao lado do Reino Unido, à qual a França se opôs enfaticamente. Para Tertrais, a situação atual é exatamente oposta àquela de 2003: "Os Estados Unidos não precisam de ninguém no plano militar, mas é extremamente importante que eles não estejam sozinhos no plano político".

Neste sentido, os dois países também contarão bastante com o apoio de aliados árabes, para que não pareça uma ação do Ocidente contra a Síria. "A coalizão se apoiará sobre a Liga Árabe, que condenou o crime e alertou a comunidade internacional", declarou François Hollande em alusão ao ataque com armas químicas que matou ao menos 300 pessoas no último dia 21 de agosto, e que as potências ocidentais atribuem a Bashar al-Assad.

Recursos militares
Resta saber qual será o engajamento real da França e que recursos ela colocará à disposição dos EUA. Paris tem capacidade para lançar mísseis de longo alcance a partir caças ou submarinos. Os franceses dispõem também de sete caças no Djibuti e seis em Abu Dhabi, além de fragatas porta-helicópteros no Mediterrâneo. A saída do Reino Unido, declarou um alto funcionário francês, obriga a coalizão a repensar seu plano operacional.

Ainda assim, os recursos militares são abundantes. Além dos quatro destroyers ancorados no Mediterrâneo e um quinto a caminho, o exército americano conta com duas bases aéreas na Turquia, várias embarcações dos fuzileiros navais em um porto dos Emirados Árabes e dois porta-aviões no norte do Oceano Índico. Existe ainda a possibilidade de um engajamento da Turquia dentro do quadro da OTAN, que adicionaria 510 mil homens e 354 aviões de combate à missão.

Missão da ONU
Hollande descarta iniciar a operação antes de divulgado o resultado da missão da ONU que investiga o uso de armas químicas no conflito sírio, mas não esperará uma decisão do Parlamento, que debate o assunto na próxima quarta-feira. A discussão pode ser tensa, já que a proposta de uma intervenção divide tanto a oposição quanto a situação.

Nesta sexta-feira, a televisão oficial síria informou que o regime "recusa qualquer relatório parcial" que possa ser apresentado pela ONU assim que a missão for concluída. Essa afirmação teria sido feita pelo ministro sírio das Relações Exteriores Walid Muallem em conversa telefônica com o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon.

Quanto aos objetivos da guerra, Paris e Washington estão de acordo: a ideia não é derrubar o regime, mas sancionar o uso de armas químicas, uma "linha vermelha" estabelecida pelo presidente americano no ano passado. O presidente francês repetiu que não é "favorável a uma intervenção internacional que vise 'liberar' a Síria ou derrubar um ditador, mas reprimir um regime que faz o impensável contra sua própria população".

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