Jornais se mostram contrários a projeto de lei francês para condenar genocídios

O exame, pelo Parlamento francês, de um projeto de lei que visa condenar a negação de genocídios cometidos no passado é alvo de críticas tanto da imprensa de esquerda quanto da liberal nesta quinta-feira. Por trás do projeto, está a intenção do governo do presidente Nicolas Sarkozy de forçar a Turquia a admitir a sua responsabilidade pela morte de centenas de milhares de armênios no final do Império Otomano.

Turcos que vivem na França protestam nesta quinta-feira perto do parlamento francês, em Paris. REUTERS

A iniciativa, entretanto, provocou fortes reações dos turcos, que veem no projeto uma tentativa de ingerência dos franceses na política do país. As críticas encontram eco na própria França.

No editorial da sua edição de hoje, o jornal econômico Les Echos afirma que o momento atual, de grave crise na zona do euro, não poderia ser pior para a França criar impasses políticos com seus vizinhos. "Seria lamentável se, por razões erradas, a França se estranhasse com um país que está em pleno crescimento e que é também um líder econômico regional importante", diz o texto. O diário destaca que o projeto "é inútil, perigoso e contraprodutivo", e que cabe à Turquia refletir sobre o seu próprio passado.

Em linha semelhante segue o jornal de esquerda Libération. A publicação reconhece que a negação do genocídio armênio pelo governo turco, há quase um século, é "indefensável" e "uma tentativa de a Turquia reescrever a sua história e mentir sobre o seu passado". Mas o Libération argumenta que nenhum historiador estaria de acordo com o projeto de lei francês, que segundo o jornal representa um pensamento "colonialista" do governo.

A proposta, defende o diário, tem como pano de fundo interesses eleitorais de Sarkozy e é "não apenas oportunista como perigosa". Além disso, o jornal lembra que em 2010 os dois países realizaram trocas comerciais no valor de quase € 12 bilhões, e que a Turquia ameaça a França de represálias caso o projeto seja aprovado pelos deputados e senadores.