Comissão Europeia critica déficit francês e provoca reações da imprensa
As tensões geradas entre o governo da França e a Comissão Europeia, por causa do déficit público francês, voltam às manchetes nesta quarta-feira (5). Ontem, a Comissão Europeia publicou novas previsões econômicas para o bloco e o déficit público francês foi projetado em 4,7% do PIB em 2016, um índice bem superior aos 3,8% previstos pelo governo socialista. Os jornais de hoje analisam esses dados.
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O jornal de esquerda Libération afirma que a França não sofre de má gestão das contas públicas. "O problema está nas medidas de rigor impostas por Bruxelas, que agravam os déficits ao impedir a retomada do crescimento econômico", escreve Libération. O jornal assinala que as previsões publicadas ontem pela Comissão Europeia confirmam o impasse criado pelas políticas de austeridade.
A zona do euro vai crescer um terço a menos do que o previsto neste ano. As duas maiores economias do bloco, França e Alemanha, terão indicadores do PIB inferiores a 2% até 2016. Resultado: esse "pibinho" não é suficiente para aliviar o peso das dívidas e estimular os investimentos, só aumentando o rombo nos cofres públicos.
Libération demonstra indignação com essa situação e questiona a competência dos responsáveis pela economia europeia em Bruxelas. "Há muito tempo ficou evidente que a aplicação simultânea de políticas de austeridade fiscal e monetária bloqueia a retomada do crescimento."
Nos últimos quatro anos, "os europeus empobreceram e esse sacrifício não deu resultados". Essa ortodoxia é uma experiência funesta e se não houver uma guinada rápida, a Europa vai sucumbir, lamenta Libération.
Le Figaro critica otimismo de Hollande
O jornal conservador Le Figaro destaca em manchete que a Comissão Europeia não deu credibilidade às previsões apresentadas pelo governo Hollande no orçamento de 2015. Em página interna, o diário explica que os números do governo e os da Comissão divergem porque Bruxelas só leva em conta medidas aprovadas por lei e alguns cortes no orçamento do ano que vem ainda não foram votados.
De qualquer forma, na opinião do Le Figaro, o otimismo exagerado do governo socialista e a "visão cor de rosa" do presidente François Hollande sobre a economia acabam prejudicando o país.
Projetos de futuro
Com o elevado índice de desemprego e o dinheiro curto no fim do mês, os franceses andam deprimidos. A ideia de que a França se tornou um país em declínio, ingovernável, avesso a reformas, é bombardeada diariamente na mídia.
Para mostrar que os franceses têm poder para mudar essa situação, o diário Aujourd'hui en France publica uma reportagem com 20 propostas para modernizar o país. Franceses das mais diversas áreas e categorias sociais dão ideias de projetos voltados para o futuro. "O declínio não é uma fatalidade", diz Aujourd'hui en France.
Entre as propostas citadas pelos leitores estão a arrecadação de impostos na fonte, ampliação dos horários nas creches, qualificação profissional para os que recebem o benefício do programa de renda mínima, criação do contrato de trabalho único e mais direitos para os imigrantes, como votar nas eleições municipais.
Coração artificial
Uma prova que a França tem capacidade de desenvolver grandes projetos é a manchete do Les Echos. O jornal econômico entrevista o inventor do coração artificial, o professor Alain Carpentier. Ele conta que o segundo paciente a receber um implante da empresa Carmat, há três meses, apresenta um prognóstico de saúde promissor.
A experiência é tão positiva que a Carmat já prepara a certificação do produto em nível europeu, para começar a vender o coração artificial em 2016.
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