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Guiné-Bissau

Deputado guineense Marciano Indi denuncia uma nova tentativa de rapto

O líder da bancada parlamentar da Assembleia do Povo Unido - Partido Social Democrata da Guiné-Bissau (APU-PDGB), Marciano Indi, denunciou esta quarta-feira ter sido alvo de uma tentativa de rapto na noite de ontem por parte de elementos da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) junto da sua residência em Safim, a 25 quilómetros da capital.

O deputado Marciano Indi, depois de ter sido alvo de tentativa de rapto e agressão no passado dia 22 de Maio de 2020.
O deputado Marciano Indi, depois de ter sido alvo de tentativa de rapto e agressão no passado dia 22 de Maio de 2020. © RFI
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"Um carro passou, como se estivesse em reconhecimento. Veio uma pessoa, era uma hora da madrugada, e essa pessoa estava encostada ao muro da minha casa. Eu já tinha informação daquilo que iria acontecer, então jovens estavam lá à volta do muro da minha casa. Interrogaram o indivíduo 'o que é que tu queres?'. Ele respondeu 'eu estou indo para cumprimentar uns amigos em casa do vizinho'. Afinal ele estava lá para reconhecer se lá estavam algumas pessoas para proteger o deputado", começou por relatar à RFI o deputado.

"Uns minutos depois, apareceu uma viatura com 12 pessoas com fardas da Polícia de Intervenção Rápida, à frente da minha casa", contou Marciano Indi referindo que os indivíduos disseram aos jovens que estavam no encalço de um ladrão. "Com a pressão dos jovens querendo logo avançar para a viatura da polícia, eles retiraram-se a uma distância de 100 metros, ficaram lá e depois lançaram luz máxima para a minha casa, isto para ver se há lá muitas pessoas ou não. Foi assim que começou uma briga", declarou o deputado ao referir que os indivíduos fardados acabaram por partir em direcção a Bissau, face à pressão popular.

Marciano Indi que referiu ter sido alvo de ameaças antes desta alegada tentativa de rapto, disse que o objectivo era "levá-lo para parte incerta e eliminá-lo fisicamente". Ao referir acreditar que as suas tomadas de posição condenando o rapto e espancamento do jornalista Aly Silva na semana passada poderiam ser o motivo desta possível tentativa de rapto, o deputado declarou "não querer acusar ninguém", considerou que "cabe às autoridades investigar e apurar as responsabilidades" e informou ainda que vai apresentar queixa.

Este responsável político que já em Maio do ano passado foi raptado e espancado, faz parte do grupo de membros da APU-PDGB que apoiaram a candidatura de Domingos Simões Pereira na segunda volta das eleições presidenciais de 2019, enquanto o líder do partido e actual chefe do governo, Nuno Nabiam, apoiou Umaro Sissoco Embaló, actual Presidente da República.

Já nesta segunda-feira, Batista Té, amigo de Marciano Indi e igualmente membro da APU-PDGB declarou publicamente ter informações de que Indi poderia ser novamente raptado.

Perante esta nova denúncia de tentativa de rapto, vários quadrantes da sociedade guineense expressaram a sua indignação. A Liga Guineense dos Direitos Humanos condenou a ocorrência. Em comunicado, o PAIGC denunciou "um clima de terror que o regime tenta implantar" no país, Yaya Djaló, líder do Partido da Nova Democracia (PND) recordou que a constituição guineense prevê a liberdade de expressão e Agnelo Regala, presidente da União para a Mudança (UM), responsabilizou o Presidente guineense por ter nomeado o que qualifica de "Governo ilegal".

Do outro lado do xadrez político, o Movimento para a Alternância Democrática (Madem G15) e o Partido da Renovação Social (PRS) não se pronunciaram, referindo não terem conhecimento do caso. Por seu turno, o Ministério do Interior que tutela a Polícia de Intervenção Rápida remeteu uma reacção sobre a denúncia do deputado Marciano Indi para um "tempo oportuno".

De referir que esta denúncia acontece num contexto já por si tenso. Ainda ontem a Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau denunciou tentativas de intimidação contra profissionais do sector da comunicação social, referindo-se nomeadamente ao rapto e espancamento do jornalista Aly Silva assim como a agressão do jornalista da rádio Capital Adão Ramalho, na semana passada.

Em declarações públicas na segunda-feira, o chefe do governo guineense condenou estes acontecimentos. “Achamos que a imprensa tem de ser livre, as pessoas têm de se expressar livremente. Portanto, não compactuamos com este tipo de atitudes”, declarou Nuno Nabiam.

 

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