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Mianmar/Abertura

Jornais privados voltam a circular em Mianmar depois de meio século de censura

O partido da líder de oposição birmanesa Aung San Suu Kyi comemora nesta segunda-feira, 1° de abril de 2013, um ano da sua entrada no Parlamento do país. No mesmo dia, quatro jornais privados começaram a circular em Mianmar, ex-Birmânia, em mais um gesto de abertura do governo. No entanto, o país continua sacudido por violências entre grupos religiosos.

Depois de meio século de monópolio estatal, jornais privados voltaram a circular em Mianmar, ex-Birmânia, nesta segunda-feira, 1° de abril de 2013.
Depois de meio século de monópolio estatal, jornais privados voltaram a circular em Mianmar, ex-Birmânia, nesta segunda-feira, 1° de abril de 2013. Getty Images/Bloomberg/Dario Pignatelli
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Dezesseis jornais obtiveram a licença do governo para circular, mas somente quatro foram lançadas por enquanto. The Voice, a versão diária de uma das maiores revistas do país, The Union, próximo do partido majoritário, The Golden Fresh Land e The Standard Time chegaram às bancas nesta segunda-feira, para atender à demanda por informação livre de censura de uma população de 60 milhões de habitantes.

As outras doze publicações não conseguiram se preparar a tempo, como D-Wave, o jornal do partido da opositora Aung San Suu Kyi, que deve começar a circular somente em julho.

Muitos questionam a viabilidade econômica de tantos jornais concorrentes, que custam 200 kyats (menos de € 0,20), em um dos países mais pobres do planeta.

"Teremos que esperar para ver como a população vai aceitá-los", disse Thiha Saw, da publicação semanal Open News. "O governo não pode ajudar o setor privado porque está ocupado em transformar os veículos estatais em serviço público", acrescentou.

O governo anunciou há alguns meses uma reforma dos jornais estatais, que são vendidos pela metade do preço dos jornais privados e considerados como simples porta-vozes do regime.

O governo militar nacionalizou os jornais há meio século. Até esta segunda-feira, todas as publicações privadas eram semanais.

Mas após a autodissolução da junta militar em março de 2011, as reformas do novo governo se estenderam ao setor da mídia. A censura foi abolida em agosto do ano passado e jornalistas presos foram libertados. Temas que antes eram tabu, como as atividades da opositora Aung San Suu Kyi, agora estão nas manchetes.

Apesar desse progresso descrito pela ong Repórteres sem Fronteiras como uma "revolução de papel", o país figura ainda, após ter ganhado 18 lugares, na 151ª colocação de um total de 179 no ranking de liberdade de imprensa da organização. E os textos que devem substituir as antigas leis repressoras ainda estão sendo discutidos.

Violência

A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch exigiu nesta segunda-feira uma investigação sobre o que ela descreve como o fracasso das forças de segurança em impedir as violências entre budistas e muçulmanos em Mianmar.

O grupo baseado em Nova York divulgou imagens de satélite da cidade de Meiktila, no centro do país, mostrando a destruição de 800 prédios e de grandes áreas da cidade.

Os confrontos que aconteceram de 20 a 22 de março se espalharam em seguida a outras cidades. No total 43 pessoas foram mortas e mais de 12 mil ficaram desabrigadas. O governo declarou estado de emergência e mandou o exército para controlar a situação.

"Muitas das informações que recolhemos e que foram divulgadas por outros meios indicam que a polícia não interferiu e deixou que a violência acontecesse", disse Phil Robertson, diretor-adjunto da organização.

Segundo ele, esses confrontos têm muitas semelhanças com as violências do ano passado entre budistas da minoria étnica Rakhine e os muçulmanos da minoria apátrida Rohingya, que havia deixado mais de 180 mortos e 125 mil desabrigados no oeste do país.

No ano passado, a Human Rights Watch já havia acusado as forças de segurança do Estado Rakhine de não ter cumprido seu dever.

Nos últimos dias, o regime tentou dar mostras de firmeza. Na sexta-feira, ele rejeitou as acusações de uma autoridade da ONU que falava de "implicação do Estado" e das forças de segurança em certos atos de violência.

Na quinta-feira, o presidente Thein Sein fez uma declaração na televisão alertando contra "os oportunistas políticos e extremistas religiosos". Já no domingo ele pediu aos membros do clero budista "que ajudem o governo na promoção da paz e da estabilidade".

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