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Estados Unidos da América

Boy Scouts declara falência para evitar indemnizações por abuso sexual

A organização Boy Scouts of America, o principal movimento de escuteiros dos Estados Unidos abriram falência para evitar o pagamento de indemnizações por abuso sexual. Dez dias depois de assinalarem 110 anos, a associação de escuteiros enfrenta 12 mil acusações de abuso sexual.

Boy Scouts declara falência para evitar o pagamento de indemnizações por abuso sexual.
Boy Scouts declara falência para evitar o pagamento de indemnizações por abuso sexual. REUTERS/Tim Sharp
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Carícias, exposição a pornografia e sexo oral ou anal forçado são várias das denúncias de uma lista de vítimas que conta, neste momento, com mais de 12 mil nomes. A organização admite que mais de 7.800 ex-dirigentes estiveram alegadamente implicados em abusos sexuais a mais de 12 mil crianças, ao longo dos últimos 72 anos.

A Boy Scouts of America (BSA) abriu esta terça-feira um processo de falência, num tribunal do estado do Delaware. Com esta diligência, todas as acções cíveis promovidas contra a associação ficam suspensas.

Segundo a BSA, a declaração de falência tem como objectivo "compensar as vítimas que foram afectadas durante o tempo em que foram escuteiros assim como manter a instituição nos próximos anos", pode ler-se no comunicado oficial.

Fundada em 1910, a associação completou 110 anos a 8 de Fevereiro de 2020. No seu relatório anual declarou um passivo que se situa entre os 100 e os 500 milhões de euros. A organização conta com 2,2 milhões de aderentes, com idades compreendidas entre os 5 e os 21 anos e tem 800 mil voluntários em conselhos locais em todo o país.

São mais de 12 mil crianças que dizem ter sido vítimas de abuso sexual quando fizeram parte dos escuteiros, de 1944 a 2016, e cerca de 8 mil escuteiros (entre líderes e voluntários dos escuteiros) são suspeitos de cometerem os abusos.

Os dados constam do relatório “os ficheiros da perversão”, apresentado em tribunal e divulgado ao público, em 2019, por Jeff Anderson, advogado especialista na defesa de vítimas de abuso sexual.

Os alegados agressores terão sido afastados da organização e as autoridades alertadas. Grande parte dos casos remonta às décadas de 1960, 1970 e 1980.

Michael Pfau, advogado de Seattle que representa mais de 300 alegadas vítimas, em declarações à CNN lamentou que os seus clientes não possam ir a tribunal dar o seu testemunho perante um júri: "não vão ter de depor no contexto da sua história de vida. As suas vidas não vão ser escrutinadas, mas também perdem o direito a um julgamento com júri. Para muitos dos sobreviventes de abusos, contar a sua história em tribunal e forçar as organizações a defenderem-se é catártico. Isso não vai acontecer num processo de falência".

Também em declarações à CNN, Paul Mones, advogado de Los Angeles que representa centenas de vítimas de abusos sexuais, o processo de falência é uma "tragédia" para os afectados: "estes jovens fizeram um juramento. Comprometeram-se a ser obedientes, comprometeram-se a apoiar os escuteiros e comprometeram-se a ser honrados. O que lhes aconteceu na BSA foi precisamente o contrário."

Fundada em 1910, a BSA mantém confidenciais, desde os anos 1920, a lista de staff e voluntários implicados em escândalos de abuso sexual, sob a justificação de que quereria manter os predadores longe das crianças.

A organização garante que nunca deixou que um abusador trabalhasse com os jovens. Todavia em Maio do ano passado a agência de notícias Associated Press revelou que advogados de vítimas identificaram vários casos de abusadores condenados que puderam voltar a postos de liderança dentro dos Boy Scouts.

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