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Artes

Azagaia, "um dos melhores rappers da lusofonia"

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Morreu o rapper moçambicano Azagaia aos 38 anos. O anúncio foi feito ontem à noite pela Televisão de Moçambique Não foram avançadas as causas da morte do artista.Azagaia era um nome cimeiro da cena musical moçambicana, nomeadamente do espectro do hip-hop.

Azagaia em concerto. Imagem da sua página Facebook.
Azagaia em concerto. Imagem da sua página Facebook. © Página Facebook de Azagaia
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De seu nome Edson da Luz é autor de letras de intervenção que lhe valeram o título de rapper do povo.

As rimas de Azagaia são “dedos na ferida” na governação moçambicana. Em 2008 três dias após violentas manifestações que paralisaram Maputo, devido a aumentos de preços, Azagaia lançou "O povo no poder".

Já não caímos na velha história / Saímos para combater a escória / Ladrões / Corruptos /

Gritem comigo para essa gente ir embora / Gritem comigo pois o povo já não chora.

Isto é Maputo, ninguém sabe bem como / O povo que ontem dormia hoje...perdeu o sono /

Tudo por causa desse vosso salário mísero / O povo sai de casa e atira para o primeiro

vidro / Sobe o preço do transporte, sobe o preço do pão /

Deixam o meu povo sem Norte deixam o Povo sem chão.

A música e a voz de Azagaia não têm espaço na rádio e televisão públicas. Foi várias vezes acusado de ser intérprete da oposição. Todavia Azagaia nunca poupou nada, nem ninguém nas palavras e nas críticas como se pode ouvir em “As mentiras da verdade”:

E se eu te dissesse / Que a oposição neste país não tem esperança /

Porque o povo foi ensinado a ter medo da mudança / Mas e se eu te dissesse /

Que a oposição e o governo não se diferem / Comem todos no mesmo prato /

E tudo está como eles querem.

Filho de pai cabo-verdiano e mãe moçambicana, em 2014, Azagaia afastou-se dos palcos e pouco tempo depois anunciou que padecia de um tumor cerebral.

Em Abril de 2016, voltou ao palco, mas desde essa altura permaneceu numa posição discreta no panorama artístico.

rapper moçambicano Duas Caras conheceu e trabalhou com Azagaia e ao microfone da RFI fala no desaparecimento de “um dos melhores rapper da lusofonia”.

Azagaia é um dos melhores rappers da lusofonia e é uma figura incontornável da sociedade moçambicana.

Deixa um grande vazio no hip-hop lusófono e em particular no hip-hop nacional. (...)

Era um revolucionário, tinha uma abordagem sociopolítica bastante profunda, bastante abrangente. Em todos os países onde se fala português, praticamente todos conhecem o nome Azagaia. É uma grande perda para a cultura moçambicana, para o activismo político também.

É uma voz que se cala, uma voz inconformada com as diferenças sociais no nosso país.

Deixa um grande vazio.”

Adriano Nuvunga, presidente do Centro Para Democracia e Desenvolvimento, sublinha que o legado de Azagaia irá permanecer para “a eternidade”.

O povo moçambicano acordou com um sentimento de profunda tristeza pelo desaparecimento físico do seu mais querido filho que é o Azagaia, que soube pelo seu trabalho, pela sua voz, interpretar o sofrimento diário, a miséria e a fome causadas pela corrupção da liderança, da cúpula política deste país e, por isso, Azagaia é chorado por todos.

Autor de músicas emblemáticas, apesar de estar retirado dos holofotes continuava a ser ouvido por toda a gente “e para a eternidade. Azagaia é um ícone da luta, é um ícone da resiliência do povo moçambicano perante as injustiças. As suas músicas são o instrumento que ele utilizava para galvanizar o povo moçambicano para continuar a lutar,” acrescentou. 

Edson da Luz, o nome do rapper Azagaia, morreu, aos 38 anos, na quinta-feira à noite, em casa, na cidade da Matola, em circunstâncias até agora não esclarecidas. 

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