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Ciência

Covid-19: "Há alguma perda da eficácia protectora das vacinas ao longo do tempo"

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Os casos de Covid-19 têm aumentado nas últimas semanas um pouco por todo o mundo. A Áustria adoptou ontem um confinamento geral para combater o aumento do número de casos. A população ficará confinada pelo menos 10 dias, num limite que poderá ir até aos 20 dias após o número de mortes por Covid-19 ter triplicado nas últimas semanas.

Jovem é vacinada em escola de Berlim. 13 de Setembro de 2021.
Jovem é vacinada em escola de Berlim. 13 de Setembro de 2021. AP - Markus Schreiber
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A Áustria começou por tentar confinar apenas as pessoas não vacinadas, medida que viria a revelar-se infrutífera no combate à doença. Isto acontece numa altura em que vários outros países, incluindo países europeus, enfrentam já uma quinta vaga da doença.

Miguel Prudêncio, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular português considera que a hipótese de um confinamento em outros países europeus depende da percentagem de população vacinada e deu o exemplo concreto de Portugal.

O também especialista em vacinas explica que a decisão tomada na Áustria se prende com a baixa cobertura vacinal nesse país.

Miguel Prudêncio deu depois o exemplo concreto de Portugal em que cerca de 87% da população já está totalmente vacinada, um dado que corresponde a practicamente 98% da população elegível para receber a vacina.

Tendo em conta estes dados, o especialista refere que "em Portugal, não existem razões para se pensar em confinamentos gerais ou em estados de emergência, medidas mais radicais".

"Nós, com esta cobertura vacinal, garantimos uma barreira de protecção muito eficiente contra as formas mais graves da doença", defende ainda, referindo que as vacinas conferem também uma protecção contra a própria infecção, embora esta não seja tão elevada.

Relativamente ao aumento do número de casos em vários países, o investigador aponta duas razões principais: o inverno, estação do ano propicia à transmissão de vírus respiratórios e, por outro lado, a baixa taxa de vacinação nesses países. 

A terceira dose de combate à Covid-19 está a ser administrada em vários países, no entanto, existe uma discrepância no que diz respeito à idade "ideal" para a aplicação deste reforço vacinal.

Em Portugal continental, por exemplo, a terceira dose de combate ao novo coronavírus é para maiores de 65 anos, mas na ilha da Madeira, arquipélago português, o limite fixou-se nas pessoas maiores de 18 anos. Em França começou por ser aplicada aos maiores de 65 anos e a partir de 1 de dezembro será para maiores de 50. Na passada quinta-feira, as autoridades de saúde preconizaram a necessidade de baixar esse limiar para os maiores de 40.

Miguel Prudêncio explicou, em entrevista à RFI, como funciona o critério para a aplicação da terceira dose da vacina.

"A decisão sobre a administração desta dose de reforço da vacina é uma decisão que se baseia nos dados que são obtidos através da monitorização da protecção conferida pelas vacinas no mundo real e dados esses que nos mostram que há alguma perda da eficácia protectora das vacinas, sobretudo nas populações mais idosas", daí ser esta faixa etária a primeira a ser contemplada, conforme elucida Miguel Prudêncio.

Apesar disso, à medida que o tempo passa e que vão sendo recolhidos mais dados, "pode fazer sentido alargar esta dose de reforço a outras faixas etárias, de maneira a repor alguma da protecção que é perdida ao longo do tempo".

Na China, por exemplo, as crianças, que não estão inseridas no grupo de pessoas mais vulneráveis, vão começar a ser vacinadas a partir dos 3 anos de idade, assunto que ainda é, de certo modo, tabu na Europa.

Relativamente a esta matéria, Miguel Prudêncio considera que esta é uma questão delicada porque têm de ser tidas em conta várias questões, nomeadamente, o benefício para a própria criança vacinada.

Essas idades muito jovens "não são um grupo de risco para formas graves da Covid-19 e, portanto, o benefício para a própria criança vacinada não é elevado, na medida em que o seu risco de ter complicações da doença também não é elevado", salienta o especialista.

Miguel Prudêncio disse ainda que, neste momento, está a ser aguardado um comunicado da Agência Europeia do Medicamento sobre uma avaliação de todos os dados disponíveis a respeito da vacinação de crianças.

Após a divulgação deste comunicado, a decisão de vacinar ou não as crianças dos 5 aos 11 anos de idade deve ser tomada por cada país.

No que diz respeito à vacinação obrigatória, a Áustria passará a adoptá-la a partir de Fevereiro de 2022. Questionado sobre se a obrigatoriedade da vacina de Covid-19 será necessária para vencer de vez o novo coronavírus, o especialista em vacinas reiterou a necessidade de se avaliar a situação à luz de cada país.

No caso de Portugal, essa obrigatoriedade não será necessária, uma vez que a população aderiu, na sua maioria, às vacinas.

Quanto à proximidade do Natal que é, por excelência, uma altura do ano em que existem ajuntamentos familiares e várias iniciativas que juntam grandes aglomerados, Miguel Prudêncio defende a necessidade de se adoptarem comportamentos adequados junto da população mais vulnerável, como, por exemplo, a realização de um teste rápido antes do reencontro com a população mais idosa.

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