A Europa voltou a ser “o epicentro da pandemia” de Covid-19, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Fala-se em quinta vaga que afecta especialmente o leste da Europa, nos países com baixas taxas de vacinação. Porém, até no Norte e em países com altas taxas de vacinação, o número de casos aumentou face ao levantamento de restrições sanitárias. Até agora, Portugal, Espanha, Itália e França parecem resistir. Por quanto tempo?
A Europa enfrenta a quinta vaga de Covid-19, com “o Leste a perder o controlo e o Oeste a perder a confiança”, escreve o jornal francês Libération, esta quinta-feira. O continente voltou a ser “o epicentro da pandemia” de Covid-19, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Na primeira semana de Novembro, a Europa registou mais de 60% de novos casos e 55% das mortes. Os países mais afectados são os que têm as mais baixas taxas de vacinação, sobretudo no Leste da Europa, como a Roménia e a Bulgária, os menos vacinados da União Europeia com 42,8% e 28,2% da população vacinada contra uma média de 76% na Europa. Até agora, Portugal, Espanha, Itália e França parecem resistir. Por quanto tempo?
“Depende do comportamento das pessoas, das taxas de vacinação que estamos a observar em cada país e de um terceiro factor que são as eventuais medidas de contenção que os governos vierem a preparar. Eu penso que vamos ter, e à semelhança do que aconteceu também nas outras vagas anteriores, comportamentos e tempos distintos em cada um destes países, mas o padrão será bastante idêntico depois em todos”, explica Celso Cunha, virologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa.
Entrevista ao virologista Celso Cunha
“O que se passou foi provavelmente um erro de comunicação porque nós - nem com 85 nem com 90% de vacinação - nós não vamos conseguir ter imunidade de grupo. A imunidade de grupo contra este tipo de vírus é um conceito que neste momento não existe, portanto, nunca teremos uma imunidade de grupo contra este tipo de agentes patogénicos”, descreve o virologista, destacando que “esta imunidade é sempre uma imunidade que é passageira”.
A vacinação ajudou a evitar a saturação dos hospitais, mas não chegou para travar a pandemia. Por exemplo, na Bélgica, as duas províncias mais afectadas pelo aumento do número de casos estão na Flandres, uma das regiões mais vacinadas da Europa. Aliás, tinha sido isso mesmo que levou à supressão do uso obrigatório de máscara. Na Dinamarca, depois de se terem suspenso todas as restrições sanitárias em Setembro, o governo fez marcha atrás e voltou a implementar o passe sanitário a 12 de Novembro após uma subida em flecha do número de casos.
“O que nós estamos a observar é um aumento do número de casos independentemente das taxas de vacinação porque as pessoas estão-se a libertar das máscaras, os comportamentos estão a ser mais relaxados, começam a frequentar espectáculos, os transportes também começam a estar mais relaxados, e por aí adiante. Portanto, todas estas medidas de relaxamento promovem um aumento de contágios”, continua Celso Cunha.
Em França, esta quinta vaga está a afectar sobretudo os não vacinados, de acordo com a imprensa gaulesa. A Áustria decidiu confinar os não vacinados. No estado da Baviera, na Alemanha, foi introduzido um passe de vacinação e a República Checa anunciou que iria fazer o mesmo para limitar o acesso aos locais públicos apenas aos vacinados e recuperados do Covid-19 e deixar de reconhecer os testes PCR e antigénio. A Suécia também deverá adoptar o passe de vacinação para os eventos com mais de 100 pessoas.
Celso Cunha sublinha, ainda, que “é preciso que as pessoas percebam” que “as vacinas não protegem contra contágios” mas “contra a doença grave”. Além disso, nos países onde há maiores taxas de vacinação “vai haver muito menos peso para o sistema nacional de saúde” porque o número de pessoas internadas continua a estar “a níveis bastante manejáveis, incomparavelmente inferiores àqueles de há um ano quando o número de contágios era semelhante todos os dias”.
A terceira dose da vacina contra a Covid-19 começa a ser administrada em alguns países, devido à aparente curta duração da imunidade que gera, e muitos questionam-se se esta vacina vai passar a ser tão comum como a da gripe. “O mais provável é que sim, que vamos ter de vacinar-nos contra esta doença tal como nos vacinamos contra a gripe todos os anos ou com outra periodicidade qualquer”, conclui o especialista.
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