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Ciência

Instalação de base com humanos em Marte adiada "décadas" devido à guerra na Ucrânia

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A invasão da Ucrânia pela Rússia não se limita às fronteiras geográficas destes dois países, enviando ondas de choque que se traduzem no aumentos dos preços dos combustíveis em todo o Mundo, criou uma escassez de certos produtos alimentares e chegou mesmo ao Espaço. O investigador português, Pedro Machado, explica em entrevista à RFI qual o impacto do conflito na exploração de Marte.

Réplica do rover que a missão ExoMars tinha previsto enviar este ano para Marte, mas cujo lançmento foi suspenso devido à invasão da Ucrânia por parte da Rússia.
Réplica do rover que a missão ExoMars tinha previsto enviar este ano para Marte, mas cujo lançmento foi suspenso devido à invasão da Ucrânia por parte da Rússia. © ESA
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"Eu não pensava que ia ver este tipo de situações no Mundo, nem a afectarem a Europa directamente até em processos aos quais eu estou ligado. O que conheço, por exemplo, da missão ExoMars da Agência Espacial Europeia, onde havia uma colaboração russa que foi cancelada e, por isso, a missão está em perigo, a missão está em vias de ser cancelada", disse o investigador português.

Pedro Machado é investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, participando na missão Mars Express, também da Agência Especial Europeia (ESA), trabalhando de perto com os dados recolhidos pela ExoMars.

A ExoMars é a missão europeia para averiguar se já houve vida em Marte e também a possibilidade da existência de água neste planeta. Constituída por duas fases, a primeira levada a cabo em 2016 com um orbitador que visa avaliar os gases que rodeiam Marte, e uma segunda fase com o envio de um rover, um robot explorador, em 2022.

No entanto, esta missão era levada a cabo em conjunto com a agência espacial russa, a Roscosmos, e em Março a ESA anunciou que o rover já não seria enviado para o espaço em Setembro, como estava previsto, devido à invasão da Ucrânia por parte da Rússia, o que dificulta a cooperação com Moscovo.

"Em consequência desta falta de ética internacional da parte de pessoas que têm demasiado poder e pouca ética, a nossa missão a Marte para trazer uma amostra de volta vai estar adiada muito tempo. Isto tem como impacto, obviamente, que a exploração espacial no seu todo, mas no caso específico da ida a Marte e da possível instalação de uma base com humanos em Marte vai estar adiada mais duas ou três décadas", lamentou o cientista português.

Pedro Machado lamenta não poder continuar a cooperar com os colegas russos, defendendo que a ciência tem "uma bandeira de irmandade" e uma utopia que têm como objetivo avançar o conhecimento global.

No entanto, o investigador, apesar de dizer que haverá uma desaceleração da dinâmica especial fruto das pontes cortadas com a Rússia, reconhece que esta poder ser uma oportunidade para maiores avanços neste campo, sobretudo com a entrada de actores privados que querem também fazer parte da corrida espacial.

"Desaceleração vai haver com certeza, eram utilizados muitos lançadores, muitos foguetões russos. Mas eu não acho que havia uma dinâmica na exploração espacial, eu acho que continua a haver neste momento, e de que maneira, uma grande proliferação de missão espaciais, com o advento de companhias privadas. O que eu acho é que isto [a exclusão da Rússia] vai ter o efeito contrário, em vez de desacelerar vai acelerar a entrada de companhias internacionais para substituir os lançadores russos que estavam a ser usados até agora, irá ficar mais barato e mais rápido, além de se passar a usar tecnologia mais recente e talvez até mais fiável", concluiu.

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