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Valéry Giscard d'Estaing, a memória de uma época

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O antigo Presidente francês Valéry Giscard d'Estaing faleceu esta Quarta-feira, 2 de Dezembro, aos 94 anos de idade. O anúncio foi feito na noite passada pela família, que revelou que o antigo Presidente morreu com Covid-19.

Portrait officiel du président Valéry Giscard d'Estaing.
Portrait officiel du président Valéry Giscard d'Estaing. @ Elysée / Larigue
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Presidente da República entre 1974 e 1981, Valery Giscard d'Estaing era até à chegada ao poder de Emmanuel Macron, o político que mais cedo tinha chegado à magistratura suprema em França, aos 48 anos.

Com uma imagem de modernizador, Valéry Giscard d'Estaing, chegou à presidência com a ambição de renovar as relações da França com África e pretendia também deixar a sua marca, uma certa ideia do progresso nas ideias e na economia do seu país.

Durante o seu mandato, foram adoptados a despenalização do aborto, o divórcio por consentimento mútuo ou ainda o estabelecimento da idade legal para votar aos 18 anos. Nos sete anos que esteve no poder, foram conduzidas as primeiras reflexões para uma maior integração europeia nomeadamente através de uma moeda única, que na altura era apenas uma longínqua hipótese.

Foi este legado que foi homenageado hoje pelos seus pares. Num longo obituário, o actual inquilino do palácio do Eliseu, Emmanuel Macron, considerou que “os rumos que Valéry Giscard d'Estaing deu à França ainda guiam os nossos passos".

O antigo Presidente Nicolas Sarkozy expressou também a sua admiração por "um homem que trabalhou a vida inteira para estreitar os laços entre as nações europeias, procurando e conseguindo modernizar a vida política e dedicando a sua grande inteligência à análise das questões internacionais mais complexas." No mesmo sentido, para outro antigo chefe de Estado, François Hollande, “Hoje, o nosso país perdeu um estadista que fez a opção de se abrir ao mundo e que acreditou que a Europa era a condição para a França ser maior."

No campo da política externa e particularmente com África, Valéry Giscard d'Estaing quis recriar os elos com África. Símbolo forte desta vontade de virar a página da França colonial, Valéry Giscard d'Estaing será, em 1975, o primeiro Presidente francês a deslocar-se à Argélia independente.

Rompendo com as redes que durante era De Gaulle mantinham os seus contactos e interesses no continente Africano, Valéry Giscard d'Estaing dizia pretender abordar os elos de cooperação de uma forma mais pragmática. 

Na prática, durante o seu mandato, entre os anos de 1977 e 1981, a França interveio militarmente na actual RDC, na Mauritânia, no Chade e na República Centro-Africana na defesa dos seus interesses.

Em 1976, apesar da rejeição quase unânime que suscitava o apartheid da África do Sul, a França de Valéry Giscard d'Estaing ajudou Pretoria a construir uma central nuclear perto da cidade do Cabo.

Mas o que ficou sobretudo na memória colectiva dos franceses, foi o "caso dos diamantes" que Valery Giscard d'Estaing terá recebido do então ditador centro-africano Jean-Bédel Bokassa e que, segundo analistas, poderá ter-lhe custado a possibilidade de uma reeleição em 1981.

Foi sobre este legado feito de contrastes de um Presidente que dirigiu a França do pós-Maio de 68 e do pós-colonialismo que conversamos com Michel Cahen, historiador ligado ao Instituto de Ciências Políticas de Bordéus.

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