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Órfãos do 27 de Maio pedem uma investigação isenta

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Gilberto da Silva e Josefa da Silva são órfãos do 27 de Maio de 1977, mas também perderam outros familiares e amigos da família num dos episódios mais trágicos da história de Angola. Gilberto fala em “genocídio” e pede uma Comissão da Verdade. Josefa alerta que “a reconciliação não se impõe” e tem dúvidas sobre o plano de reconciliação em curso. Oiça aqui novo episódio da série “Reconciliação Nacional em Angola”.

Luanda, 12 de Julho de 2021.
Luanda, 12 de Julho de 2021. © Carina Branco/RFI
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Estará Angola preparada para se reconciliar? Os irmãos Gilberto da Silva e Josefa da Silva têm as suas dúvidas. O seu pai, António Lourenço Galiano da Silva, conhecido por Galiano Kitumba, e mencionado pelo Presidente no histórico discurso à nação este ano, foi uma das vozes da revolta do 27 de Maio de 1977 e a sua família foi destruída.  

Josefa da Silva tem, por isso, “dúvidas em relação à reconciliação nacional” e defendeu que “a reconciliação não se impõe”, mas pessoalmente já perdoou quem matou o pai.

Para o seu irmão, perdoar cabe a cada um, mas a justiça tem um papel a cumprir em nome do Estado.

RFI: Como vêem este plano de reconciliação?

Gilberto da Silva: “Um país só vai poder ser um país normal e ter valores - e um dos valores dos países é a justiça - quando se fizer justiça. A justiça até pode não ser feita pelos órgãos de justiça, as próprias pessoas porque eu acho que até as próprias pessoas que estiveram dentro disso só se vão sentir bem um dia se poderem libertar tudo isso o que aconteceu.”

As pessoas que torturaram, as pessoas que prenderam e mataram?

Gilberto da Silva: “Sim, as pessoas que mataram, sim. Acho que ninguém quer viver com esse peso na consciência porque eles mataram com a mão as pessoas. As pessoas sabem como é que eles fizeram. Mataram milhares de pessoas, pessoas que não tinham nada a ver com os acontecimentos, por ter simpatia com aquele, por ser amigo daquele, por ser namorada daquele, foram presas, torturadas, uns até mortos.

Dizem que morreram cerca de 30.000 pessoas, isso é um genocídio! Então, tem que haver um esclarecimento. Não podemos continuar a viver dessa maneira. O país ser um país normal, reconciliados verdadeiramente, essas coisas têm que ser esclarecidas.”

Quem é que era o vosso pai? Porque é que ele foi uma das vítimas do 27 de Maio?

Gilberto da Silva: “O meu pai era militar, era comissário político militar, era também relator do programa ‘Povo em Armas’ na Rádio Nacional que era um programa das Forças Armadas, um programa muito conhecido. Já um tempo antes do 27 de Maio, fim de 76, esse programa e o Kudibanguela foram proibidos. O nosso pai, na altura dos acontecimentos do 27 de Maio, já estava preso."

Josefa da Silva: "Ele foi preso acho que deve ter sido nos fins de Março."

Gilberto da Silva: "Tanto assim que um dos acontecimentos do 27 de Maio dessa madrugada foi o assalto às cadeias. Uma das cadeias que foi assaltada foi a cadeia de São Paulo, onde o meu pai estava preso. Dizem que depois daí o meu pai foi para a rádio."

Josefa da Silva: "Naquela altura, devido às divergências entre as alas que havia no MPLA, havia dois programas que incitavam muito os acontecimentos na altura, que estavam contra a linha ideológica que o MPLA estava a seguir porque, segundo eles, o MPLA estava-se a desvirtuar porque diziam uma coisa e faziam uma outra. Eram programas muito ouvidos e tinham sido proibidos e ele e mais o apresentador do programa Kudibanguela estavam presos."

O vosso pai era locutor, então.

Gilberto da Silva: "Sim, ele não trabalhava na rádio, ele era militar, mas ele fazia esse programa."

Ele era assumidamente “nitista”?

Gilberto da Silva: "Assumidamente, ele era uma das pessoas muito conhecidas por causa desse programa, tanto assim que ele estava preso antes."

Josefa da Silva: "Ele dava voz às reivindicações na ala."

Gilberto da Silva: "Era das pessoas mais conhecidas e mais visadas mesmo."

Então, o que aconteceu no 27 de Maio? Ele chegou a ser libertado da cadeia de São Paulo?

Gilberto da Silva: "Sim, foi libertado. Depois, aconteceu aquela situação em que tomaram a rádio."

O seu pai foi para a rádio?

Gilberto da Silva: "Não tenho a certeza, mas tudo indica que eles foram soltos e como eles eram as pessoas que davam voz, ele e o Betinho, davam a voz nesses programas, eles foram para a rádio porque esses programas voltaram naquele dia a ser emitidos e apelavam às pessoas a irem para a rádio, para se manifestarem."

Mas esse apelar às pessoas a ir para a rádio foi considerado sublevação e também por isso se falou em tentativa de golpe de Estado… Foi uma tentativa de golpe de Estado, o 27 de Maio? 

Gilberto da Silva: "Essa é uma situação que há alguma dúvida porque a parte da ala do Presidente Neto, do governo, dizia que houve um golpe de Estado, uma tentativa de golpe de Estado."

Josefa da Silva: "No meu entender, eu não concordo que tenha havido golpe de Estado porque pela aderência que eles tinham e o poder que eles tinham nas Forças Armadas eu não acredito que um grupo vá fazer golpe de Estado e a parte armada não estivesse organizada. Porque se tu vais fazer golpe de Estado, a primeira coisa que tens de fazer é tomar conta das Forças Armadas."

Mas, de qualquer maneira, tomaram conta, por exemplo, de uma prisão e da rádio. Isso pode ser considerado como uma alteração à ordem vigente…

Josefa da Silva: "Quer dizer, eu particularmente não acredito porque eu acho que se queres fazer um golpe de Estado não podes estar tão despreparado como eles estavam militarmente porque eles, tendo o controlo, segundo dizem entre aspas, das Forças Armadas, eles deveriam ter uma retaguarda bem montada e uma estratégia para isso. O que eu acho hoje é que eles eram mais sonhadores, eles achavam que só a força do poder popular seria suficiente para dar força às suas ideias. Então, eu não posso achar que isso seja golpe de Estado."

Gilberto da Silva: "Pronto, é verdade, eles utilizaram alguma força militar até para soltar nas cadeias. Mas isso foi em resposta ao que estava a ser preparado porque, se notarmos, antes desses acontecimentos, o Nito Alves e o José Van Dunem foram expulsos do Comité Central, começaram a prender pessoas que tinham alguma simpatia ou conotados com o movimento deles. Então, a força militar que saiu era no sentido de proteger a população que se iria manifestar. Até porque se fosse assim eles iriam tomar o Palácio onde estava o Presidente."

Vocês que idade tinham no 27 de Maio?

Gilberto da Silva: "Eu tinha 3 anos."

Josefa da Silva: "Eu nasci em 67, tinha dez."

E depois o que aconteceu ao vosso pai? Ele voltou a casa no 27 de Maio ou nunca mais voltou a casa?

Gilberto da silva: "O nosso pai nunca mais voltou a casa." 

E sabem o que é que aconteceu?

Josefa da Silva: "Sim. Quando houve a reviravolta, quando os cubanos chegaram na rádio, ele e mais o Betinho foram para a Precol, para a casa do sogro do meu pai. Como tinha umas obras ao lado da casa dele e as obras estavam inacabadas, ele ficou aí escondido durante uns dias, não foi pego logo no dia 27, não."

Gilberto da Silva: "Foi pego já uns dias depois."

E o que é que aconteceu? Vocês sabem?

Gilberto da Silva: "Sim. Estavam escondidos e, depois dos acontecimentos, a rádio estava a apelar a eles serem presos e serem mortos, serem castigados, aquele incentivo da rádio à  vingança e à morte dos fraccionistas…"

Josefa da Silva: "E eles estavam a preparar-se para uma fuga para o interior do país porque o meu pai fez a tropa colonial na 1ª Região, aqui no Bengo e ele conhecia. Eles estavam a preparar uma fuga para lá e o intermediário era um compadre dele que também era militar e que aparentemente estaria a ajudar só que afinal ele trabalhava para a DISA e então foi ele que os entregou porque o dia em que ele disse que tinha conseguido os carros e não sei o quê para irem apanhar os carros à noite, então foi lá buscá-los e afinal…"

E depois perderam-lhe o rasto?

Gilberto da Silva: "Foi preso."

Josefa da Silva: "Já algum tempo depois, uma pessoa conhecida disse-me exactamente como é que ele morreu e até disse-me quem era a pessoa. Segundo ele, ele não morreu fuzilado, ele morreu no interrogatório. Segundo dizem, estava o meu tio Luís também, o meu tio mais novo, estava a ser interrogado."

Gilberto da Silva: "O meu tio era muito jovem. Ele nunca deixava que o meu tio fosse interrogado sozinho. Estavam a torturar o meu tio, ele não aceitou, meteu-se."

Josefa da Silva: "E então bateram-lhe até morrer."

Gilberto da Silva: "A minha madrasta diz que o nosso pai morreu já dia 8 de Junho."

Josefa da Silva: "Porque segundo ela, nesse dia, ela recebeu a visita de um primo que era da segurança e foi lá como se fosse visitá-la. Quando ela se pôs a chorar e disse ‘Vens fazer o quê, vens dizer que o meu marido morreu?’ e ele não desmentiu."

E agora, como é que vocês olham para todo este processo de reconciliação nacional, o facto de haver uma comissão para a reconciliação, de entregarem certidões de óbito, de procurarem os restos mortais…

Gilberto da Silva: "O meu avô perdeu quatro filhos no 27 de Maio. O meu avô perdeu o meu tio mais velho, o Manuel da Silva, que era comissário de Malanje, perdeu o meu pai, perdeu o meu tio Luís Kitumba que era da JMPLA, perdeu a minha tia Nanda que trabalhava no Cuanza Norte.

Mas além disso ainda esteve preso o meu tio Lolo Kitumba que ficou preso até 79 ou 78, o meu tio Edmundo Silva que ficou preso até 78 ou 79. Esteve preso o marido da minha tia, António Afonso, que era o director de gabinete do Nito Alves, esteve presa até a Esperança que era noiva do irmão do meu pai também.

Portanto, a minha família foi das famílias que mais sofreu. Directamente o meu avô perdeu quatro filhos de uma só vez. Como deve entender, o que é que foi a nossa vida depois disso."

O que é que foi a vossa vida depois disso? Foi uma reconstrução constante?

Gilberto da Silva: "Uma reconstrução constante, uma família totalmente destruída. Todos eles tinham postos de destaque na sociedade. Naquela altura, ser fraccionista era crime e os amigos deixaram de visitar-nos…"

Josefa da Silva: "A maior parte dos amigos tinham sido presos também, desaparecidos, uns morreram, outros desaparecidos. Eu costumo dizer que nós não ficámos só órfãos de pai, nós ficámos órfãos dos amigos do meu pai, dos tios e as pessoas que não morreram também tinham medo de ter assim muito contacto directo connosco. Era como se fôssemos cancro. As pessoas não se podiam misturar connosco. Quem continuou connosco foram só pessoas mesmo muito amigas. Até houve familiares também que uns também se afastaram porque quem vai conviver com fraccionistas. 

Malanje é uma cidade pequena, nós éramos uma família proeminente em Malanje e, de repente, o meu avô ficou com todos os filhos presos e temos um tio que em Maio mesmo daquele ano tinha ido para a União Soviética fazer curso de pilotagem. Mandaram-no buscar lá, os amigos é que o esconderam porque se ele tivesse vindo tinha sido morto porque as pessoas que vieram também foram mortas."

É possível uma reconciliação? Consideram o perdão?

Gilberto da Silva: "Nós só sobrevivemos por causa da força espiritual do meu avô. O meu avô, com tudo isso, com pessoas a fugir de nós, o meu avô continuou a sair todos os dias de casa de fato, gravata, colete e chapéu, com a cara levantada. As pessoas é que não tinham coragem de olhar para a cara do meu avô. O meu avô não disse nem um oi nem um ai. E esse tipo de educação é que nos fortaleceu como família. 

Quando fala em reconciliação, nós queremos um esclarecimento imparcial dos acontecimentos. Esse esclarecimento até pode dizer que houve tentativa de golpe de Estado, mas nós queremos um esclarecimento por uma comissão independente. Isso relativamente à questão política.

Do ponto de vista da questão pessoal e familiar, nós até agora sem enterrar o nosso pai e os nossos tios, nós não vamos ter paz de espírito. Isso é uma questão pessoal e familiar, não tem a ver com a questão política porque eu acho que toda a gente tem direito a viver, nascer, morrer e a ser enterrado. Na nossa cultura é assim. Eu quero enterrar o meu pai. Acho que eu tenho esse direito. Independentemente de tudo, qualquer pessoa tem esse direito."

Mas isso agora foi acedido, portanto, vocês agora podem recuperar, se encontrarem, os restos mortais do vosso pai… 

Gilberto da Silva: "Aliás, o nome do nosso pai foi um dos nomes que foi dito pelo Presidente nesse discurso. Sim, achamos que desse ponto de vista dessa questão pessoal e familiar, sim, estamos à espera. Requeremos já a certidão de óbito e estamos à espera dos outros passos que o governo vai dar relativamente à exumação dos corpos. Mas também entendemos que mesmo esse processo de exumação seja com pessoas especialistas a fazerem esse processo. Nós queremos ter a certeza de que o corpo que vamos enterrar é mesmo o do nosso pai."

Josefa da Silva: "Eu, em relação à reconciliação, eu tenho cá as minhas dúvidas porque eu não confio muito no nosso governo porque o governo não nos dá a confiança, não nos dá passos que nos mostram a confiança. Eu, durante anos, o meu sonho era me vingar da pessoa que foi dita que foi a pessoa que bateu o meu pai até ele morrer."

Conhece o nome dessa pessoa?

Josefa da Silva: "Conheço o nome dessa pessoa, mas à medida que o tempo foi passando, eu aprendi, talvez tenha sido na altura em que comecei a ter os meus filhos, eu perdoei. Perdoei e achei que não, vingança não é aquilo que eu queria, mas a minha ideia mesmo durante todo o tempo, enquanto eu fui adolescente, isso sempre ficou. 

Esse é um sentimento que as pessoas acho que não conseguem viver porque é uma coisa esquisita porque, de repente, dizem ‘O teu pai morreu’, não te explicam como morreu. Na minha família, esse assunto nunca foi abordado assim abertamente. Como é que nós ouvíamos? Alguém fala, tu lês alguma coisa, ouves alguma coisa, porque é um assunto que nunca foi debatido na minha família e eu acho que isso a mim me fez muito mal."

Gostava que a pessoa que matou o seu pai fosse para a justiça? 

Josefa da Silva: "Não, neste momento para mim não é prioritário porque chegou uma altura em que eu achei que não vai trazer nada de volta, então, acho que naquele momento eu perdoei."

Gilberto da Silva: "Eu sempre abordei essa situação de forma um pouco diferente. A minha irmã como conheceu o pai, viveu muito mais do ponto de vista emocional essa situação. Eu perdoar, eu acho que um país só pode ser país se existir justiça. Eu acho que toda a gente que cometeu crime tem que pagar. Não vou ser eu a condenar, até pode não ser a justiça porque o tempo passou e os crimes prescreveram, mas a sociedade tem que saber o que é que se passou. Uma sociedade só pode viver bem se expurgar os seus fantasmas. Se continuarmos a viver com esses fantasmas, nós não vamos ser uma sociedade justa."

Mas o Presidente da República veio publicamente dizer que houve erros e veio pedir perdão e desculpas públicas…

Gilberto da Silva: "Esse perdão e essas desculpas públicas, nós aceitamos, mas do ponto de vista do crime, de direito penal, se alguém matou o meu pai e vem pedir desculpa, eu posso perdoar, mas o crime, eu não tenho o poder de fazer o crime acabar porque quando alguém mata alguém cometeu contra a sociedade. Por isso é que o direito penal diz que o Estado é que pode.

O perdão aceitámos, muito bem. Agora vamos deixar o próprio processo continuar. Se um dia existir um outro governo e achar que tem que existir um processo como na África do Sul em que haja uma Comissão de Verdade. Nós perdoamos, mas a justiça tem que fazer o seu papel. Outra coisa é a própria sociedade porque eu não quero que os meus filhos continuem a viver o que eu passei, ser considerado neto de fraccionista."

O que foi viver com o rótulo de neto de fraccionista?

Gilberto da Silva: "O rótulo neto de fraccionista era ser neto de um criminoso, eles consideraram isso como um crime, foi por isso que mataram as pessoas. Eu não quero que os meus filhos continuem a viver isso."

E como é que eles podem não viver com isso? Como é que se acaba com esse tabu?

Gilberto da Silva: "Que as coisas sejam ditas, que seja esclarecida a verdade pelas partes envolvidas, que haja uma Comissão de Verdade em que quem matou vem dizer quem matou, porque é que matou. Nós ouvimos dizer que o meu pai morreu mas não sabemos, ouvimos dizer."

Mas não vai haver essa comissão da verdade, o governo já disse que não há uma Comissão da Verdade, há uma Comissão de Reconciliação porque a verdade pode abrir mais feridas.

Gilberto da Silva: "É a intenção deles. Da nossa parte nós achamos que tem que haver um esclarecimento porque nós temos dúvidas e vamos continuar a viver com essas dúvidas. Eu quero saber como é que o meu pai morreu."

Josefa da Silva: "A reconciliação não se impõe, não se impõe."

Gilberto da Silva: "Não é justo eu ficar com isso, todos os dias pensar como é que o meu pai morreu."

Josefa da Silva: "E não é só pensar como morreu, é pensar ‘morreu porquê? É fraccionismo, fraccionismo é o quê?’ O próprio MPLA até hoje não conseguiu explicar o que é que é. ‘É fraccionismo porquê?’ Fraccionismo quer dizer uma fracção, mas é fracção de quê?

Eu, para mim, as pessoas que foram mortas no dia 27, foi mais uma coisa no auge, as pessoas estavam emotivas, quem vai para a guerra pode morrer. Mas a maior parte das pessoas morreu premeditadamente, quer dizer, foi com uma intenção de ser morto. Essa intenção é que deve ser estudada porque depois do dia 27, dia 28, dia 29, as pessoas acalmam-se e já começam a pensar, já não é aquilo do momento. Então, todas as outras pessoas que morreram depois, tem que se explicar."

Gilberto da Silva: "Não sei o número mas dizem que morreram 30.000. Mas eu pergunto porque é que a minha tia Nanda faleceu? Por ser irmã de fraccionistas? E aconteceu a muita gente assim. Então isso tem a ver com o 27 de Maio? É por ser fraccionista? E a forma como dizem que a minha tia morreu. É macabro, macabro, e as pessoas que fizeram isso estão aí."

Josefa da Silva: "Batiam-lhe, torturavam-lhe, violavam-na constantemente durante uns dois, três, quatro meses, mas mesmo assim sempre que as pessoas fossem procurar diziam que estava viva. Até mesmo depois de morrer, pediam coisas em nome dela, roupa, comida, não sei quê e nada. Disseram que ela foi morta lentamente. Torturavam, violavam, torturavam, violavam, consequentemente, durante dias e dias. Quer dizer, foi horrível e ela não era política."

Gilberto da Silva: "A minha madrasta contou-me uma. Eu estava a falar da Nandy, que era lá do Batalhão Feminino que dizem que foi todo dizimado. Ela estava grávida de oito meses e esperaram ela ter o bebé e no dia que teve o filho, a segurança foi lá e a enfermeira disse: ‘Não, ela acabou de ter o filho, precisa descansar’. E o senhor da segurança disse ‘Não, ela precisa de descansar porquê? Ela vai já morrer agora’."

Pode ouvir todas as entrevistas desta série aqui.

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