Mundial2022: "A estratégia do Catar para se projectar na cena internacional"
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Estamos em contagem decrescente para o Mundial mais caro e, certamente, um dos mais controversos da História. A faltar menos de uma semana para o arranque do mundial 2022, previsto para domingo, 20 de Novembro, o habitual fervilhar ainda não se manifestou e surgem inúmeras polémicas em torno desta edição: direitos humanos, condições de trabalho, pegada ecológica ou ainda corrupção.
"A questão do mundial no Catar começou com uma série de questões que foram levantadas pela rapidez como foram construídos os próprios estádios, como foi o processo de escolha", começa por explicar o docente universitário em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, Ivo Sobral, que acrescentando ter havido, "desde o início, factores que atraíram as piores atenções possíveis para o evento, ao contrário dos objectivos da diplomacia do Catar", que via neste mundial "uma estratégia de softpower de projecção do país na cena internacional".
O docente lembra que através do futebol, o Catar quer passar uma imagem positiva para "garantir que o país possa, depois, atrair investimento económico e presença política ao mais alto nível". "Um mundial, um evento internacional desde género vale mais para a política externa do Catar que qualquer outra representação nas Nações Unidas. O futebol é identificado como um meio para obter uma maior visibilidade política na agenda do Catar. O país que tem uma grande ambição de se transformar em central regional, como capacidade negocial", acrescenta.
O escândalo Catargate envolveu países como a Suíça, os EUA e a França. Em 2010, tem lugar no Palácio do Eliseu uma "reunião secreta", 10 dias antes da votação da FIFA para escolher o país organizador do mundial de 2022, entre Nicolas Sarkozy, o príncipe do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani, o Presidente da UEFA, Michel Platini, e Sébastien Bazin, representante da Colony Capital e proprietário do clube de futebol Paris Saint Germain (PSG), que na altura enfrentava dificuldades financeiras. Deste encontro resultaram a compra do PSG, contratos de venda de aviões de combate de Rafale com grandes empresas francesas.
"Desde os anos 70 é tradição do Estado francês usar tudo o que seja necessário para vender as suas armas internacionalmente. Esta tem sido uma política estatal forte e eficiente na venda de equipamento militar. O papel do futebol, aqui, é uma outra carta, que está em cima da mesa, porque tudo é válido para vender material militar extremamente sofisticado e caro", lembra o docente.
No Catar, as temperaturas podem subir até aos 50 graus celsius, o que obrigou ao adiamento da data por razões meteorológicas e para evitar expor jogadores e espectadores às temperaturas elevadas de 40-50 °C do verão do Catar. A prova foi, por isso, adiada para Novembro-Dezembro, meses de "inverno" do país anfitrião do Campeonato do Mundo. O balanço carbono vai ser oito vezes superior ao estipulado pela FIFA, apontam ONG's ambientalistas, obrigando o Catar a investir 3,6 milhões de dólares em crédito carbono.
"A realidade do Golfo é esta. São sociedades completamente vocacionadas para a utilização de energias fósseis em massa, do qual o Catar é um dos maiores produtores do mundo. Quando se fala da pegada de 3 bilhões também temos de falar da pegada de 200 a 300 bilhões de euros que a Europa vai pagar ao Catar pela compra de gás natural. O Catar é o terceiro produtor de gás natural do mundo a seguir à Rússia e Irão, proibidos de vender gás à Europa", conclui o docente universitário.
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