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Joe Biden visita Irlanda do Norte para celebrar acordo de Sexta-feira Santa

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O Presidente americano, Joe Biden, aterra, esta terça-feira, em Belfast, na Irlanda do Norte, a propósito das comemorações do 25° aniversário do acordo de paz, o Acordo de Sexta-feira Santa. O pacto celebrado entre Londres, Dublin e Washington colocou fim a décadas de violência entre Unionistas e Republicanos na região. No total, mais de 3.500 pessoas perderam a vida.

Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos da América.
Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos da América. AP - Alex Brandon
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Para António Soares, director do Think Thank Centre for Cross Border Studies, na Irlanda do Norte, esta visita do chefe de Estado norte-americano é "extremamente importante" porque dá a devida relevância a este momento histórico, que é o acordo de paz celebrado em 1998.

RFI: Na sua óptica, qual é a importância desta visita?

António Soares: Esta visita é extremamente importante porque dá a devida importância a este momento, portanto, 25 anos após chegarmos a esse acordo de paz, importantíssimo para a Irlanda do Norte, mas não só para a Irlanda do Norte, também para a Irlanda do Norte e as suas relações com a vizinha República da Irlanda e a posição da Irlanda do Norte com parte do Reino Unido e claro que esse acordo de paz colocou fim a três décadas de violência, que resultaram na morte de mais de 3.500 pessoas e com muitas, muitas dezenas de milhares de feridos. Praticamente todas as famílias aqui na Irlanda do Norte sofreram durante essa violência, portanto, a chegada do Presidente Joe Biden aqui dá o devido significado a este momento histórico, neste processo de paz, que não acabou em 1998. Estamos apenas a meio caminho desse processo de paz, que durará, segundo dizem muitas pessoas, pelo menos 50 anos.

RFI: O professor António Soares vive em Belfast, local onde Joe Biden chega esta terça-feira. Nota que o dispositivo policial foi reforçado nas ruas? Como é que nos pode descrever o ambiente que se vive em Belfast, pouco tempo antes da chegada do Presidente americano?

António Soares: Esta não é a primeira visita de um Presidente dos Estados Unidos da América aqui à Irlanda do Norte. Já estamos acostumados aos dispositivos de segurança. É claro que é a primeira visita do Presidente Biden aqui a Belfast. As ruas no centro da cidade foram encerradas já ontem. Continuam encerradas hoje e continuarão encerradas até ao fim da tarde de amanhã, portanto, já notamos a presença policial, das forças de polícia daqui da Irlanda do Norte, que foram reforçadas pela presença de forças da polícia, vindas da Inglaterra e da Escócia.

RFI: E os habitantes esperam com expectativa e euforia esta visita? Tem falado com algumas pessoas que vivem aí? Qual é o sentimento? O que é que lhe dizem?

António Soares: O sentimento de muitas pessoas que moram aqui em Belfast, mas também de toda a Irlanda do Norte... Consideram que este é um momento importante, muito importante, embora toda a gente reconheça que o Presidente Biden chega aqui à Irlanda do Norte num momento onde a Irlanda do Norte continua sem governo. Portanto, a sua visita teria tido outro aspecto mais positivo se, na realidade, a Irlanda do Norte tivesse um governo a funcionar, que, neste momento, não tem.

RFI: Falou de um ponto importante. A Irlanda do Norte está há mais de um ano sem executivo porque o partido Unionista se recusa a formar governo, como forma de protesto devido aos acordos comerciais pós-Brexit e ao regresso de uma fronteira física com a Grã-Bretanha. Em que sentido vai o plano apresentado pelo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, ajudar, de algum modo, a resolver este impasse?

António Soares: É um impasse bastante difícil. O plano apresentado pelo primeiro-ministro britânico, o plano a que o governo britânico chegou com a União Europeia, em meses recentes, resolve muitas das questões que se teriam apresentado, em termos do movimento de bens da Grã-Bretanha para a Irlanda do Norte. Resolveu muitas dessas dificuldades, mas o Partido Unionista Democrático, o DUP, continua a recusar formar um executivo. Na minha perspectiva, esse partido posicionou-se num beco sem saída e temos de encontrar uma maneira de facilitar a saída desse partido desse beco sem saída, onde se terá posicionado. Será difícil, mas talvez com a chegada do Presidente Joe Biden, isso terá outro ímpeto, a encontrar um meio do Partido Unionista Democrático de sair do beco sem saída onde se terá posicionado.

RFI: E a tensão entre Unionistas e Republicanos tem vindo a intensificar-se nos últimos meses devido exactamente a estas questões pós-Brexit. Considera que este impasse político coloca em risco o processo de paz? Como é que qualifica neste momento as relações entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda?

António Soares: Em termos dessas relações Norte-Sul, entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, acho que essas relações terão melhorado nos últimos meses. Temos agora um novo primeiro-ministro na República da Irlanda. Terá tentando melhorar as relações entre o governo irlandês e alguns partidos aqui da Irlanda do Norte, partidos do lado Unionista. Essas relações têm melhorado ultimamente e, em termos de chegarmos a um ponto onde poderemos formar um executivo, aqui na Irlanda do Norte, eu acho que esse momento chegará, talvez não este mês, nem para o mês que vem, mas talvez chegando a Setembro, teremos chegado a um momento onde esse partido, o Partido Unionista Democrático terá encontrado a maneira de se posicionar para formar um novo executivo aqui na Irlanda do Norte.

RFI: Considera, portanto, que a tensão entre Unionistas e Republicanos não colocará em risco o processo de paz em vigor?

António Soares: Não, mas a razão principal é porque todos os outros partidos já ultrapassaram esse momento e a maioria da população valoriza o processo de paz e não quer meter o processo de paz em risco e, portanto, esse partido está numa posição muito isolada. É o único partido praticamente que toma essa posição. O resto da população, o resto dos partidos estão noutro ponto da viagem e não querem pôr o processo de paz em risco. Não deixarão que isso aconteça.

RFI: Por falar em processo de paz, as autoridades decidiram aumentar o nível de ameaça terrorista na Irlanda do Norte para "grave", após a tentativa de homícidio de um polícia em Fevereiro passado, levada a cabo por membros de um grupo republicano dissidente. Considera que estamos perante um perigo real de novos ataques terroristas e do retorno da violência à Irlanda do Norte?

António Soares: Eu acho que é importante não exagerarmos o significado de alguns elementos que existem. Não podemos negar que não existam. Existem elementos, dentro do movimento Republicano, os dissidentes, que são elementos que nunca acolheram o processo de paz. Estiveram sempre fora do processo de paz. E também existem elementos do outro lado, do lado Unionista, que também resistiram ao processo de paz, estão fora. Em termos de números, são muito insignificantes. Sim, claro, apresentam perigo porque têm essa capacidade de, de vez em quando, conseguirem ataques contra elementos da polícia, ataques também contra a outra comunidade, mas não podemos exagerar a importância. Eu não creio que essas forças minúsculas põe em risco o processo de paz.

RFI: Considera que o Brexit continua a ser uma pedra no sapato entre Dublin, Belfast e Londres?

António Soares: Sim, continua, sem dúvida. Continua a ser um obstáculo, mas tenho de dizer que, desde que o primeiro-ministro, Rishi Sunak, tomou poder, que as relações têm melhorado e a prova disso é o acordo selado entre o governo britânico e a União Europeia. Continua a ser uma pedra no sapato, mas creio que com paciência e com a continuação de relações positivas entre Londres e Bruxelas, que poderemos a ultrapassar estes obstáculos que agora estamos a viver.

RFI: A um mês da coroação do rei Carlos III, que consequências poderá trazer esta instabilidade política para esse momento tão importante para o Reino Unido?

António Soares: Não creio que irá apresentar problemas significativos. Claro que esse momento, outro momento histórico, teria um aspecto ainda mais positivo se a situação aqui na Irlanda do Norte, não fosse aquela em que agora estamos a viver, um momento em que não temos governo aqui na Irlanda do Norte, mas não creio que isso apresente dificuldades significativas à coroação do rei Carlos III.

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