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Lula da Silva na China: “Novo eixo de poder geopolítico?”

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Lula da Silva tinha prometido colocar o Brasil no centro do que chamou “nova geopolítica mundial” e a visita oficial à China inscreve-se nesse objectivo. O Presidente brasileiro vai reunir-se, na sexta-feira, com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, com quem deverá abordar a questão da guerra na Ucrânia e a quem deverá convidar para ir a Brasília. Ambos os países não impuseram sanções à Rússia e aspiram ser mediadores no conflito. Até que ponto a viagem marca um novo eixo de poder geopolítico?

Lula da Silva, Presidente do Brasil, entre a bandeira brasileira e a chinesa. 3 de Fevereiro de 2023.
Lula da Silva, Presidente do Brasil, entre a bandeira brasileira e a chinesa. 3 de Fevereiro de 2023. AFP - SERGIO LIMA
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Eu diria que oficiosamente, esse encontro entre os líderes do Brasil e da China deve ter alguma função para afinar as relações diplomáticas e entre os Estados, fortalecendo uma acção económica conjunta e alternativa ao Hemisfério Norte”, começa por explicar Emerson Cervi, professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, acrescentando que também “tem a ver com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia”.

Por um lado, o politólogo destaca que a “nova geopolítica mundial” que Lula da Silva prometeu “passa necessariamente pelo poderio económico” que, neste caso, passaria pelo banco do BRICS, o grupo dos países emergentes que reúne Brasil, China, India, Rússia e África do Sul. Lula da Silva deverá assistir, esta quinta-feira, em Xangai, à tomada de posse da antiga Presidente Dilma Rousseff no comando desse banco, o New Development Bank. A China é o principal parceiro comercial do Brasil, mas a agenda do presidente nesta visita deverá ser essencialmente política, dias depois de um fórum empresarial com quase 500 empresários brasileiros e chineses ter resultado na assinatura de mais de 20 acordos de cooperação. Fomentar as trocas comerciais entre Brasil e China é, porém, o “objectivo oficial” da viagem, sublinha Emerson Cervi.

Por outro lado, o Brasil poderá querer fazer parte da solução ao conflito na Ucrânia. Lula da Silva já se posicionou ao dizer que o Presidente russo Vladimir "Putin não pode ficar com o terreno da Ucrânia", mas que o presidente ucraniano Volodimir Zelensky "não pode querer tudo". Ou seja, sugeriu que Kiev renunciasse à península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, algo descartado pelo governo da Ucrânia. A 25 de Março, em Moscovo, houve um encontro entre Celso Amorim, principal conselheiro de Lula para assuntos internacionais, e Vladimir Putin. Também o ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergei Lavrov vai visitar o Brasil a 17 de Abril. Além disso, Lula da Silva recusou enviar armamento para a Ucrânia e rejeitou impor sanções contra a Rússia, propondo a criação de um grupo de países mediadores. A China também já se tinha proposto como mediadora e avançou uma proposta para uma resolução política que pede o fim das hostilidades e diálogo. Poderá o Brasil ter um papel de mediador neste conflito? Emerson Cervi responde que sim porque “esse é o objectivo do Presidente Lula”, mas resta saber “se essa concertação de forças alternativas não será bloqueada ou impedida pelo poder geopolítico central que pode ter outros interesses e não ter interesse que surja um novo eixo de poder geopolítico”.

Sem dúvida nenhuma que seria uma vitória para o Brasil e para o Presidente Lula se isso acontecesse, mas eu tenho dúvidas que nós possamos, ao final, identificar o papel central do Brasil ou do Presidente Lula numa possível solução. Eu acho que é mais provável que ele seja um actor facilitador ou intermediador das relações entre as partes e que outros países, como a própria China, possam ter uma intervenção mais directa, sem desconsiderar o papel sempre relevante dos Estados Unidos como essa força geopolítica central hoje”, explica Emerson Cervi.

Neste programa, oiça a análise de Emerson Cervi, professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, no Brasil.

10:44

CONVIDADO 12 de Abril de 2023 - Emerson Cervi

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