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COP 28: Jovens querem mais representatividade nas decisões climáticas

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Jovens vindos de todo o mundo participam, no Dubai, na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, entre eles a moçambicana Ilda Cerveja, o guineense Mohamadu Saido Baldé e o angolano Timóteo Júlio. Três activistas que querem mais representatividade juvenil nas decisões climáticas.

Jovens vindos de todo o mundo participam, no Dubai, na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima.
Jovens vindos de todo o mundo participam, no Dubai, na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima. © facebook.com/COP28UAEOfficial
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Jovens vindos de todo o mundo participam, no Dubai, na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima. Integram o programa Jovens para o Clima, financiado pelos Emirados Árabes Unidos, que assume a presidência rotativa da COP.

O programa é facilitado pela YOUNGO, o grupo oficial de crianças e jovens da Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC). Uma rede mundial de crianças e jovens activistas até aos 35 anos, assim como de ong’s juvenis, que trabalham na construção de uma agenda em prol da juventude entre eles a moçambicana Ilda Cerveja, o guineense Mohamadu Saido Baldé e o angolano Timóteo Júlio.

Ilda Cerveja faz parte da Plataforma Juvenil para Acção Climática em Moçambique e nesta COP 28 procura também potenciais exemplos a parcerias para projectos e acções a serem implementados no seu país.

Sublinha que o futuro está nas mãos das novas gerações e, por isso, é importante que se envolva na causa climática.

Primeiro, nós [os jovens] somos a maioria de acordo com as Nações Unidas, o mundo nunca esteve tão jovem como agora. Se olharmos para Moçambique, em particular, a população de crianças e jovens é maior do que a população de pessoas adultas. 

Segundo, porque nós somos a continuidade, somos aqueles que vão criar novos negócios. Nós somos aqueles que vão desenvolver o país, que vão levar o país para um novo patamar.

Com conhecimento sobre o que são mudanças climáticas, podemos fazer de forma sustentável e as nossas ações podem influenciar para o alcance dos objectivos globais do nosso país.

Ilda Cerveja explica que os eventos climáticos extremos, além das infra-estruturas acabam por afectar a própria educação dos mais novos e são facto de atraso no desenvolvimento.

Se olharmos especificamente para crianças e jovens, isso acaba afectando a nossa educação. A época chuvosa calha com o início do ano lectivo. Muitas das vezes, quando ocorre em cheias ou ciclones, as escolas são destruídas ou não é possível estudar lá porque está cheio de água ou porque se transformou em local de acomodação.

Afecta a nossa educação. Além disso, afecta a nossa vida. Por exemplo, alguém que está a começar um negócio, cria uma empresa e, de repente, é destruída. As mudanças climáticas atrasam o nosso processo de desenvolvimento.

Outro impacto é na capacidade de produzir renda. A maior parte da população do nosso país, vive da agricultura. As cheias destroem tudo.

Ilda Cerveja faz parte da Plataforma Juvenil para Acção Climática em Moçambique.
Ilda Cerveja faz parte da Plataforma Juvenil para Acção Climática em Moçambique. © Ilda Cerveja

Mohamadu Saido Baldé veio da Guiné-Bissau, nesta COP 28 debruçou-se mais sobre questões de energia, indústria e transição energética. Quer perceber a estratégia climática do país e apela a um trabalho mais inclusivo e representativo da sociedade guineense.

Enquanto jovem também estou interessado em saber qual é a perspectiva do país em termos das metas que quer atingir no que tem a ver com alterações climáticas.

Estamos a puxar para tentar influenciar políticas que têm sido feitas.

Qual deve ser o plano ou a estratégia que o país deve adoptar para incluir mais jovens no processo?

Deve-se fazer um trabalho sério, credível e mais inclusivo, para que a nossa representatividade seja mais efectiva e que consiga trazer resultados que beneficiam o povo guineense.

Questionado sobre os possíveis objectivos da COP 28 refere que o problema recorrente prende-se com traduzir em acções concretas os múltiplos compromissos anualmente assumidos pelas partes. Mohamadu Saido Baldé insiste na necessidade de lideranças responsáveis e mecanismos de transparência na aplicação de fundos.

Cada COP tem um acordo, tem protocolos, vários compromissos. Como traduzir esses compromissos em acções concretas, é o problema.

Já tivemos um progresso, com a adopção do fundo ‘Perdas e Danos’, mas agora, como operacionalizar?

Não é só disponibilizar os fundos, mas como é que se desenvolve uma liderança responsável, sobretudo os países vulneráveis, incluindo o meu país?

São precisos mecanismos de aplicação de transparência para que o fundo chegue ao destino, que seja traduzido em benefício, em desenvolvimento, em prosperidade da sociedade.

Mohamadu Saido Baldé activista da Guiné-Bissau na COP 28.
Mohamadu Saido Baldé activista da Guiné-Bissau na COP 28. © Mohamadu Saido Baldé

De Angola, veio o biólogo Timóteo Júlio. Lembrou as formações que foram recebendo até chegarem à COP 28 e a importância que têm para a compreensão do funcionamento da conferência. Do Dubai diz que regressa com a lição de que as soluções climáticas não são universais e que devem ser adaptadas ao contexto local e regional.

Nos primeiros dias tive a oportunidade de participar no fórum do clima sobre negócios e filantropia. Foram debatidas diversas questões relacionadas com as finanças e a filantropia.

Qual é o papel do sector privado nas questões do clima? Como é que essa questão da filantropia entra dentro das alterações climáticas? 

Também se falou muito das questões relacionadas com a inovação e adaptação. Foram os meus melhores dias durante a COP 28, porque tive acesso a informações de alto nível, de oradores de diversos países e que trouxeram inputs muito significativos para aquilo que é são as questões das alterações climáticas. 

Houve um orador que frisou que nós devemos abordar as questões climáticas no contexto continental. Não podemos abordar de uma forma muito generalizada, porque senão estaremos a tentar resolver um problema que não existe na nossa realidade.

Por exemplo, nós, em África, não temos as mesmas questões climáticas que alguém que está na Ásia, então temos que olhar internamente e tentar resolver os problemas internos, dentro do nosso contexto, senão estaremos a importar coisas que não irão funcionar na nossa realidade.

Questionado sobre o desfecho da COP 28, Timóteo Júlio alerta para a necessidade de medidas urgentes e desburocratização do processo de acesso ao financiamento:

Há muita burocracia quando se trata de ter acesso a fundos internacionais para poder resolver questões climáticas. Leva-se muito tempo para que os projectos sejam aprovados.

e as soluções não tiverem mecanismos para serem aplicadas, não vão servir para muita coisa, vão servir para estar no papel.

2023 foi um ano mais quente nos últimos 100 anos, se não tomarmos medidas em breve, vamos cozer dentro desse planeta.

Timóteo Júlio biólogo angolano na COP 28.
Timóteo Júlio biólogo angolano na COP 28. © Cristiana Soares

O activista ambiental guineense Dembo Mané Nanque participar na COP 28, no Dubai a convite do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e da AFRIWOCC (Africa Woman and Children Conference - Conferência das mulheres e crianças africanas).

Activista desde tenra idade, Dembo Mané Nanque pede “mais juventude na frente das negociações”. No seu país desenvolve actividades de consciencialização para as actividades climáticas, dia que o país não tem falta de legislação, mas problemas com a aplicabilidade da lei. 

Dembo Mané Nanque participa pela primeira vez numa COP, chegou com as expectativas elevadas, mas rapidamente percebeu que as negociações são demoradas, mesmo assim, este jovem guineense diz-se “muito persistente”.

Existem jovens com qualidade, com conhecimentos, com ideias inovadoras, com soluções que fazer face às mudanças climáticas, o que deve ser feito é colocar a juventude na frente das negociações, os jovens conhecem bem a realidade. 

Comecei o activismo ambiental com 12 anos, nas organizações Todos os anos, no mês de Agosto participo na formação de mais de 2000 jovens, em diversos espaços educativos da Rede Nacional de Acções Juvenis, do Conselho Nacional da Juventude e Parlamento Infantil. 

Temos muitas zonas que, por falta de conhecimento ou não engajamento, estão a ser destruídas porque são zonas húmidas e nós, enquanto jovens, estamos já a sensibilizar, educar e consciencializar a nossa geração para que possam advogar em prol das mudanças climáticas. 

Sou um jovem muito persistente. Mesmo com dificuldades, não baixo o ânimo. Há coisas que é preciso resolver de imediato, mas as pessoas levam muito tempo. Acho que há muitos interesses.

Dembo Mané Nanque activista ambiental da Guiné-Bissau na COP 28.
Dembo Mané Nanque activista ambiental da Guiné-Bissau na COP 28. © Dembo Mané Nanque

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