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Paris expõe "resistências visuais" das lutas de libertação

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A exposição "Resistência Visual Generalizada", de Catarina Boieiro e Raquel Schefer, mostra fotografias, vídeos e livros realizados junto dos movimentos de libertação dos anos 60 e 70 em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Cabo Verde. A mostra abriu ao público a 24 de Novembro e está patente até 15 de Janeiro no Instituto Nacional de História de Arte, em Paris.

Exposição "Résistance Visuelle Généralisée". Instituto Nacional de História da Arte, Paris, 23 de Novembro de 2021.
Exposição "Résistance Visuelle Généralisée". Instituto Nacional de História da Arte, Paris, 23 de Novembro de 2021. © Carina Branco/RFI
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"Resistance Visuelle Généralisée"

“Résistance Visuelle Généralisée — Livres de photographie et mouvements de libération (Angola, Mozambique, Guinée-Bissau, Cap-Vert)” é o nome da exposição inaugurada esta semana no Instituto Nacional de História de Arte, em Paris. Uma resistência política e cultural que remonta ao tempo das lutas de libertação que aspiravam tanto à descolonização política quanto à descolonização estética. Uma resistência que encontra ecos em obras que denunciam o racismo estrutural hoje em dia, como o filme “Eu não sou Pilatus” do guineense Welket Bungué. A mostra tem a curadoria de Catarina Boieiro e Raquel Schefer.

“Um dos objectivos da exposição é criar uma cartografia das formas visuais e de formas visuais que assentam numa imbricação entre resistência política e resistência estética porque, na altura, se concebia a descolonização num sentido vasto. Ou seja, enquanto processo político e económico, mas também um processo de ordem cultural, estética, cognitiva. Teria de haver, segundo a visão daquele período, uma descolonização cultural, cognitiva, pedagógica”, explicou à RFI Raquel Schefer.

Exposição "Résistance Visuelle Généralisée". Instituto Nacional de História da Arte. Paris, 23 de Novembro de 2021.
Exposição "Résistance Visuelle Généralisée". Instituto Nacional de História da Arte. Paris, 23 de Novembro de 2021. © Carina Branco/RFI

A exposição acontece no âmbito de um projecto intitulado “Sismografia das lutas” que junta publicações anti-imperialistas de diferentes geografias. Catarina Boeiro e Raquel Schefer reuniram fotografias, vídeos e livros realizados no âmbito dos movimentos de libertação dos anos 60 e 70 em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Cabo Verde. Na altura, fotógrafos e cineastas, como Sarah Maldoror e Jean-Luc Godard, interessaram-se pelas lutas de libertação e tanto os livros, como a fotografia e o cinema eram vistos como armas para mobilizar apoio e internacionalizar lutas. Eram também meios para mostrar zonas libertadas do colonialismo português onde se experimentavam novas formas de organização económica, social e pedagógica. Foi o que descobriu e fotografou a italiana Augusta Conchiglia em Angola em 1968.

“Na altura, a vontade era de participar e fazer conhecer uma situação que era muito pouco acessível ao público porque ninguém falava de Angola na altura. O nosso ponto de partida foi a relação de amizade com uma tradutora italiana de vários poetas no mundo e ela escolhia expressamente aqueles que sofriam a repressão dos regimes autoritários. Quando soube que havia um certo Agostinho Neto na prisão de Aljube, ela conseguiu ter os papéis para chegar lá e ter autorização de um grande editor italiano para ir recuperar os manuscritos que traduziu depois. As primeiras edições internacionais de Neto foram na Itália em 1963. Esta relação com ela fez-nos pensar que havia ali um tema interessante”, recorda Augusta Conchiglia à RFI.

Fotógrafa Augusta Conchiglia na exposição "Résistance Visuelle Généralisée".
Fotógrafa Augusta Conchiglia na exposição "Résistance Visuelle Généralisée". © Carina Branco/RFI

As imagens da guerra de libertação, desta vez na Guiné-Bissau, forjaram o olhar de uma criança que, anos e anos mais tarde, continua um caminho académico e artístico aberto pelas fotografias que o pai trouxe da Guiné. Daniel Barroca expõe uma peça que rodopia, escondendo e revelando ora um retrato de um menino, ora uma imagem de um cadáver.

“De um lado, sou eu quando era criança. Do outro lado, é a fotografia de um supostamente guerrilheiro do PAIGC morto por soldados portugueses à pancada. Tem a ver com esse momento em que eu encontrei essa fotografia, quando era criança, em que vi aquela imagem pela primeira vez e nunca mais me esqueci e que marcou muito a minha vida, o meu percurso de vida, a minha relação com o meu pai. Foi uma fotografia que eu continuo a trabalhar basicamente e que marca, de uma forma brutal, a minha descoberta em criança do poder de uma imagem. Eu descubro o que é que é a violência da guerra e ao mesmo tempo descubro o que é uma imagem”, conta Daniel Barroca.

A exposição “Résistance Visuelle Généralisée” vai ficar patente até 15 de Janeiro no Instituto Nacional de História de Arte em Paris.

Paris, 23 de Novembro de 2021.
Paris, 23 de Novembro de 2021. © Carina Branco/RFI

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