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Portugal: Município de Braga acolhe 45 deslocados vindos da Ucrânia

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Ao nono dia da invasão russa à Ucrânia, são já mais de 1 milhão as pessoas que decidiram fugir deste cenário bélico e deixar tudo para trás, na esperança de encontrar protecção num lugar seguro. Para que tal seja possível, a Comissão Europeia aprovou um dispositivo inédito que permite conceder um acolhimento temporário aos refugiados ucranianos em território europeu.

Família deslocada na região de Luhansk, leste da Ucrânia. Terça-feira, 22 de fevereiro de 2022.
Família deslocada na região de Luhansk, leste da Ucrânia. Terça-feira, 22 de fevereiro de 2022. AP - Vadim Ghirda
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O Município de Braga, no norte de Portugal, é pioneiro nesta matéria, e prepara-se para acolher, no final desta semana, 45 refugiados ucranianos, num trabalho conjunto, que está a ser realizado entre a Câmara Municipal de Braga e as várias instituições públicas e privadas do concelho e que conta igualmente com uma forte mobilização da sociedade civil, com o objectivo de ajudar estas pessoas.

Nesta missão humanitária, começaram por ser contemplados apenas 30 deslocados ucranianos, um número que viria depois a crescer, conforme nos deu conta Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga.

RFI: Como é que surgiu esta ideia por parte do executivo bracarense de acolher os 30 refugiados vindos da Ucrânia?

Ricardo Rio: Na verdade, não vão ser 30. Vão ser 45 refugiados ucranianos. Ao longo dos últimos dias, conseguimos sinalizar mais 15 pessoas e, portanto, o número já subiu em mais de 50%. Esta iniciativa surgiu, desde logo, por uma relação histórica que Braga tem com a comunidade ucraniana. Nós temos, no nosso concelho, de há vários anos a esta parte, quase 800 cidadãos perfeitamente integrados na nossa comunidade, que vivem, obviamente, com especial angústia esta situação no seu país e que nos pediram algum apoio para poder transportar para Braga algumas pessoas, seus parentes, numa primeira linha, que estavam já do lado da fronteira polaca, fora da Ucrânia. A iniciativa começou com este repto e acabou por ser alargada com o envolvimento de muitas instituições e acabámos por conseguir formatar esta missão, cujo resultado esperamos que seja bem sucedido daqui a 3 dias, quando estes 45 cidadãos chegarem à nossa cidade.

RFI: Estas 45 pessoas são, portanto, familiares de pessoas que já vivem em Braga. Este foi o meio utilizado para sinalizá-las? 

Ricardo Rio: As primeiras sim. Depois, no grupo, acabaram por ser identificadas pessoas que não têm essa ligação familiar. São predominantemente mulheres e crianças e que, obviamente, estavam numa situação de fuga do país e que até, pela sua delicadeza - no grupo há uma mulher grávida e crianças menores - nós também manifestámos exactamente a mesma disponibilidade para lhes prestar esse apoio no transporte.

RFI: E onde é que estes cidadãos vão ficar alojados? Já tem alguma ideia concreta neste sentido?

Ricardo Rio: Sim. Imediatamente a partir do momento em que esta iniciativa ganhou corpo, nós começámos a receber muitas disponibilidades de cidadãos particulares, de empresas e de unidades hoteleiras, sendo que algumas destas situações são de carácter mais temporário, outras de carácter mais permanente, admitindo que estas pessoas se possam efectivamente radicar na nossa cidade por alguns meses ou alguns anos até e, portanto, naturalmente que conseguimos rapidamente encontrar soluções de habitação e de emprego para muitas destas pessoas ou até mesmo soluções de apoio à educação das crianças menores. Nós, até por força dessa comunidade que temos na nossa cidade, teremos alguma facilidade em ter tradutores que possam acompanhar estas novas pessoas que se vão instalar na nossa cidade e esta é, diria, uma primeira iniciativa que poderá vir a ser repetida nas próximas semanas.

RFI: E numa primeira instância há prazo da permanência destes cidadãos em Braga ou, por agora, ainda não existe essa margem temporal?

Ricardo Rio: Não. Não está definido. Acredito, como digo, que alguns possam ficar apenas alguns meses, principalmente aqueles que não tiverem essa ligação familiar a pessoas que já estão radicadas em Braga. Admito que outras, que tenham essa ligação e essa proximidade, possam obviamente ficar com as suas famílias na cidade de Braga, até por força, naturalmente, das oportunidades que aqui vão ter para desenvolver a sua actividade profissional.

RFI: E esta é, portanto, uma iniciativa que está a ser articulada com o governo? Em que medida é que esta situação está a ser acautelada junto do ministério da Admnistração Interna?

Ricardo Rio: Nós temos estado em contacto sobretudo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, que é a entidade que tem, obviamente, de legitimar a presença destes cidadãos no nosso país. Foi feito todo esse trabalho administrativo e de interligação com essa entidade. Em termos de organização da própria missão, ela foi feita sobretudo com as instituições locais, como disse, além das empresas e de instituições sociais, houve muitos organismos que, desde a primeira hora, se disponibilizaram para organizar esta missão e apoiar as pessoas que vão ser transportadas e, portanto, quase que diria que é um movimento colectivo de toda a sociedade bracarense para concretizar esta iniciativa.

RFI: Há pouco falou de largas centenas de cidadãos ucranianos em Braga. Tem noção da dimensão da comunidade ucraniana, particularizando ao nível do norte de Portugal? Tem dados nesse sentido?

Ricardo Rio: Não tenho. Sei que a comunidade de Braga acaba por ser relativamente maior do que em outros concelhos. Eu há dois dias comentava com um colega autarca, do norte de Espanha, da Galiza, onde, por exemplo, em Vigo, numa cidade que é maior do que Braga, apenas existem 150 cidadãos ucranianos, mas a verdade é que historicamente acabou por existir essa ligação. Foi um local onde muitos cidadãos se radicaram, praticamente desde a década de 90, depois no início deste século já, e essa ligação foi sendo fortalecida ao longo dos anos e, como disse, essa comunidade está perfeitamente integrada e tem sido uma parte activa da nossa vida colectiva na cidade de Braga.

RFI: Em que medida é que esta iniciativa se pode replicar no futuro e inspirar outras autarquias a seguirem o vosso exemplo?

Ricardo Rio: Não assumiria esse pioneirismo como fonte de inspiração, mas como fonte de demonstração do papel proactivo e da capacidade que as autarquias têm para concretizarem este tipo de soluções. Já assim aconteceu durante a pandemia, está novamente a acontecer durante esta semana, pelo menos no contexto de resposta à situação na Ucrânia. Eu próprio estou neste momento a participar, em Marselha, na conferência das cidades e regiões da Europa e são muitos os testemunhos de todos os países, de cidades de todas as dimensões, que, de uma forma ou de outra, se estão a mobilizar, ou para acolher refugiados ou para enviar meios humanos e materiais de apoio ao povo ucraniano e às situações de fronteira e isso é também demonstrativo de que, nesta matéria, as cidades são sempre as primeiras instituições a reagir e a terem capacidade de concretizar projectos com impacto.

RFI: Esta é, portanto, a primeira autarquia a nível nacional que vai receber cidadãos da Ucrânia, neste contexto de guerra?

Ricardo Rio: Numa lógica de resgate, como esta que está efectivamente a ser desenvolvida por nós, julgo que sim. Não tenho eco de nenhuma outra iniciativa semelhante. Sei que há cidadãos ucranianos que já vão chegando ao nosso país vindos de vários pontos da Europa, através de um transporte aéreo, numa ligação mais tradicional e não numa lógica de uma "missão de resgate", chamamos-lhe assim, como esta que acabámos por corporizar.

RFI: Quais são as suas expectativas a curto/médio prazo relativamente a este conflito e à vinda de mais pessoas refugiadas da Ucrânia?

Ricardo Rio: Obviamente como todo o mundo, com bom senso, todos desejamos que este conflito seja resolvido o mais depressa possível e que haja bom senso da parte da Rússia para interromper esta invasão e, obviamente, esperando que o próprio povo russo, que não é responsável por esta situação, possa também ser protegido e não ter de sofrer as consequências de um acto insano de quem governa o país. Naturalmente que, assim não acontecendo, será seguramente fonte de êxodo de muitos mais cidadãos ucranianos ao longo das próximas semanas e meses. Braga estará seguramente disponível para receber mais cidadãos, à nossa escala e à escala do nosso país, que não deixa de estar no outro extremo da Europa, mas obviamente que esta situação a manter-se vai ter consequências muito significativas a vários níveis para todo o continente europeu.

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