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Bau: “O cabo-verdiano tem o dom da música”

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Rufino Almeida, conhecido como Bau, é uma figura incontornável na música de Cabo Verde, mas nunca quis deixar a sua ilha, São Vicente. É que “isto de estar no meio do mar traz toda uma nostalgia” e acarreta inspiração, tanto mais que o Mindelo respira música. Para Bau, essa vitalidade artística é simplesmente porque “o cabo-verdiano tem o dom da música”. 

Bau. Mindelo, 23 de Março de 2022.
Bau. Mindelo, 23 de Março de 2022. © Carina Branco/RFI
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13:44

Bau e "o dom da música"

O encontro foi marcado para o Jazzy Bird, clube icónico do jazz e da música ao vivo na cidade do Mindelo, em São Vicente, onde Bau vai tocar regularmente. É noite de mais um concerto e o passeio da rua começa a encher como é habitual por estas bandas, onde a música faz parte do dia-a-dia e ainda mais da noite.

Como explicar a vitalidade musical desta ilha? Bau responde: “O cabo-verdiano tem esse dom da música. São Vicente, principalmente, teve sempre um desenvolvimento musical diferente por causa do Porto Grande. Vinham aqui muitos músicos, havia muitas influências. No cinema ouvia-se muito música americana, swing e aquelas coisas. Então, o pessoal ganhou toda aquela desenvoltura em torno da música que é diferente das outras ilhas. Já não digo agora porque agora a coisa globalizou, o mundo ligou com a internet, mas antigamente não. Não se podia ter um livro com acordes. Era difícil, era só de ouvido.

E foi de ouvido, com o pai, que Bau aprendeu a tocar guitarra, cavaquinho e violino, os instrumentos que vão regressar, em breve, a estúdio. Rufino Almeida anda a preparar várias surpresas, nomeadamente trabalhos em nome próprio e participações em discos de outros artistas. Por enquanto, prefere não adiantar muito, dizendo simplesmente que vai entrar em estúdio “ainda este ano” no que toca aos novos projectos pessoais.

Bau nunca deixou São Vicente, que descreve como a sua ilha, onde nasceu e cresceu rodeado de “todo o ambiente musical”. “Sinto-me feliz em viver aqui. Saio sempre para o estrangeiro para fazer os meus trabalhos, espectáculos, gravações, etc. Agora, com alguns estúdios aqui, aproveito e gravo aqui, salvo algumas coisinhas a nível de masterização e mistura que vou fazer fora”, conta.

O Jazzy Bird está decorado com fotografias de vários músicos cabo-verdianos, incluindo uma de Cesária Évora, mesmo atrás do balcão. Bau dirigiu a orquestra da “diva dos pés descalços” vários anos e o que ficou foi muito mais que “Sodade”.

Todo aquele percurso que fiz com ela marcou-me muito por vários motivos. Foi uma grande cantora da música de Cabo Verde, principalmente morna e coladeira. Foi uma pessoa com um 'feeling' e um sentimento a cantar que é uma coisa extraordinária. Eu gostava muito. Eu gosto do que ela fez. Deixou um grande legado a nível musical. Foi uma experiência interessante. Andei em vários palcos do mundo durante quatro anos como chefe de orquestra, arranjador. Conheci vários músicos, várias pessoas…”, recorda.

Paris era a nossa segunda casa”, acrescenta, admitindo que gostaria de voltar aos palcos da capital francesa para apresentar os seus projectos.

Depois das digressões com Cesária Évora, surgiu o convite para que a música “Raquel”, do seu primeiro disco a solo, entrasse no filme “Fala com Ela” de Pedro Almodóvar. “Raquel é uma mazurca bastante lenta. Ele ouviu a música, não sei onde. Ele ouviu, estava a fazer o filme e interessou-se pela música. Contactou o produtor que falou comigo e eu ‘Ok, por mim não há problema’ (…) Teve um grande impacto. Houve vários compositores, Caetano Veloso e outros, que participaram na banda sonora. Foi muito bom, foi um grande reconhecimento realmente”, conta.

Em Cabo Verde, canta-se a saudade, o amor à terra-mãe, o amor simplesmente, a coragem, a abertura ao mundo. E o que contam as melodias de Bau? “Nós temos um ‘feeling’ da ilha. Isto de estar no meio do mar traz toda uma nostalgia, com as pessoas que saem para emigrar, etc. A morna toca-nos muito. É como o fado, como o blues, é uma música que traz muita emoção. Para nós, a morna é que identifica o sentimento cabo-verdiano”, resume, poeticamente, o músico.

Veja aqui um pouco de um dos seus concertos, a solo, na véspera da entrevista com a RFI.

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