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Reportagem

"Quem não conseguiu ter electricidade continua na escuridão"

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No bairro da Boa Esperança 2, no município de Moçâmedes, vivem mais de 20.000 pessoas. "Aqui para ter água as pessoas têm de a comprar", contou à RFI uma das moradoras. "Aqui não temos sonhos e nenhum esperança", lamenta outro morador.

Crianças do bairro da Boa Esperança 2, no município de Moçâmedes, onde vivem mais de 20.000 pessoas
Crianças do bairro da Boa Esperança 2, no município de Moçâmedes, onde vivem mais de 20.000 pessoas © RFI/Lígia Anjos
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Angelina Cahope nasceu no Namibe e vive no bairro há dois anos. A moradora deste bairro queixa-se da falta de água porque apenas o bairro da Boa Esperança um tem um chafariz. "Aqui para ter água as pessoas têm de a comprar. Quando não se tem dinheiro é preciso desenrascar 100 ou 150 kwanzas para comprar um balde de água", explica.

A distância entre o bairro da Boa Esperança 1 e 2 é grande. As pessoas demoram duas horas para ir buscar um balde de água. Angelina lembra que para transportar um balde de água é preciso cuidar "e andar devagar".

A estrada precisa de ser "endireitada por um tractor para a terra ficar batida", defende a moradora que se queixa dos acessos aos bairros.

O marido de Angelina Cahope, não se quis identificar, falou connosco sentado na mota e explicou-nos que o bairro foi inteiramente construído pelos moradores. "Os postos de betão e os de madeira foram construídos pela população. Os contratos quando chegam aos moradores chegam com uma dívida de 35.000 kwanzas. As pessoas ficam logo endividadas. Aqui não temos nenhuma esperança", concluiu o morador.

Ismael, 17 anos, está no sétimo ano de escolaridade, queixa-se de não poder jogar à bola à vontade porque se pode sujar e não tem água em casa. Para tomar banho, vai buscar água, além de percorrer uma hora a pé, quando chega ao chafariz tem ainda uma fila de espera.

"O bairro é bom, por acaso, é um bairro novo", começa por descrever o vice-presidente do conselho fiscal no bairro da Boa Esperança 2, Julião Tito. "Apesar de termos pessoas carentes e vulneráveis a viver no bairro, sempre dá para viver na medida do possível", explica.

Contudo, o dirigente do bairro enumera algumas coisas que poderiam melhorar: "falta-nos luz, a estrada está mal. Podemos adquirir uma motorizada, mas em menos de seis meses ela estraga-se por causa da estrada".

O bairro da Boa Esperança 2 tem duas escolas; António da Conceição Ananás e uma escola precária, "uma escola feita de chapa, já dá para auxiliar as crianças que não estão dentro do sistema", explica. As crianças que ficam fora do sistema, passam os dias nas ruas, enquanto os pais andam "no corre-corre".

"As pessoas do bairro passam fome. Há pessoas que conseguem as coisas para viver, mas outras não têm a mesma sorte", lembra.

Tchikete, Avis e Gelson são irmãos. Os três meninos vivem no bairro da Boa Esperança 2 e vão à escola à tarde. De manhã brincam junto de uma rua interna deste bairro sem infra-estruturas.

Tchikete vai à escola todos os dias às 13 horas, sabe contar, mas ainda não aprendeu a ler. Quer ser "polícia para sustentar o pai e a mãe", contou-nos.

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