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Vida em França

Jean-Louis Trintignant, a brilhante e discreta voz do cinema francês

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No final da semana passada, faleceu aos 91 anos de idade um dos monstros sagrados do cinema francês, Jean-Louis Trintignant. Revelado em 1956 no filme «Et Dieu… créa la femme», uma fita em que contracenava com a estrela Brigitte Bardot, Trintignant ficou igualmente conhecido pelo seu papel no filme «Um homem e uma mulher» de Claude Lelouch em 1966 ou ainda «O amor» de Michael Haneke em 2012, um dos filmes pelos quais recebeu um dos seus inúmeros prémios de interpretação.

Jean-Louis Trintignant em 2012.
Jean-Louis Trintignant em 2012. AP - Francois Mori
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Voz inconfundível, presença discreta, aveludada e por vezes inquietante, ele desdobrou um leque alargado de personagens ao longo de mais de 60 anos de carreira em França e também na Itália logo a partir dos anos 60.

Nascido no dia 11 de Dezembro de 1930 em Piolenc, no sul de França, no seio de uma família de industriais, Trintignant enveredou muito novo pela arte e subiu ao palco em 1951. Será contudo no cinema que vai encontrar o destino.

Ao recordar que «uma parte importante da carreira de Jean-Louis Trintignant foi feita no cinema italiano», Jorge Leitão Ramos, crítico de cinema ligado ao semanário português «Expresso» nota nomeadamente que Trintignant foi «um dos raríssimos actores franceses que quase não teve contacto com o cinema da ‘Nouvelle Vague’ (movimento lançado por um conjunto de realizadores em França nos anos 60)».

Referindo-se ao filme que lançou a carreira cinematográfica de Trintignant, «Et Dieu… créa la femme », uma fita de 1956 em que Trintignant contracenava com a então nova estrela do cinema francês, Brigitte Bardot, o crítico português recorda o choque provocado pela fita. «O escândalo do filme é sobretudo devido às cenas em que Brigitte Bardot se despe. Na vida privada, o grande escândalo foi o Jean-Louis Trintignant ter ‘fugido’ com a vedeta e ‘roubado’ a vedeta» ao realizador Roger Vadim que era na época o companheiro de Brigitte Bardot.

Depois de «Et Dieu… créa la femme», destaca-se também «Un homme et une femme», uma história de amor recompensada em 1966 com a Palma de ouro do festival de Cannes e cujo realizador Claude Lelouch foi dos cineastas com quem mais trabalhou.

Durante esse período de dez anos, Jorge Leitão Ramos refere que Trintignant esteve longe de estar de braços cruzados. Antes de «Un homme et une femme», ele «faz outros filmes. Ele entra até num filme mítico que nunca chegou a ser acabado que é «O Inferno» de Henri George Clouzot que teve um problema de saúde grave no meio da rodagem».

O crítico de cinema menciona também outro ponto marcante da filmografia de Trintignant que foi o «Z» , filme de 1969 do realizador de origem grega Costa-Gavras. A sua interpretação minimalista de um juiz de instrução durante a ditadura militar da Grécia merece um prémio no festival de Cannes naquele mesmo ano. «Jean-Louis Trintignant tinha aquele lado de bom rapaz, tinha aquela cara simpática, mas havia qualquer coisa de misterioso nos papéis que ele continuamente desempenhava e é uma das características centrais de Trintignant nos filmes mais importantes que ele fez», sublinha Jorge Leitão Ramos.

Bem mais tarde no seu percurso, Trintignant foi igualmente recompensado em 2012 pela sua prestação no filme «O amor» do austríaco Michael Haneke, uma dolorosa fita sobre o fim de vida. «Ele faz (esse filme) com mais de 80 anos (…) e é um papel terrível porque é uma história com duas pessoas, octogenárias, que estão a morrer e o Trintignant fazia aquilo extraordinariamente».

Desempenhando frequentemente no ecrã personagens atormentadas, a sua vida também foi marcada por dramas, nomeadamente a morte violenta da sua filha, Marie Trintignant, também actriz, assassinada pelo companheiro em 2003. Este episódio trágico que refere nunca ter conseguido ultrapassar acabou por transparecer também na sua forma de transmitir as emoções nos filmes. «Todos os grandes actores põem a sua vida no cinema», conclui o crítico Jorge Leitão Ramos sobre este artista cuja última aparição cinematográfica foi em 2019, ou seja apenas 3 anos antes de falecer.

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