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Mali/ França

Hollande é recebido com festa em Timbuktu, no Mali

O presidente francês, François Hollande, chegou hoje a Timbuktu, no Mali, que até uma semana atrás estava tomada por islamistas radicais. Recebido com festa pela população local, o socialista foi ao país africano apoiar as tropas francesas que combatem rebeldes islâmicos na região do Sahel. Ele destacou que a ação militar no Mali "ainda não acabou".

Crianças se preparam para receber o presidente francês, François Hollande, em Timbuktu, no Mali.
Crianças se preparam para receber o presidente francês, François Hollande, em Timbuktu, no Mali. REUTERS/Benoit Tessier
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Hollande, acompanhado de seus ministros da Defesa, Jean-Yves Le Drian, das Relações Exteriores, Laurent Fabius, e do Desenvolvimento, Pascal Canfin, além da diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, foi recebido por um grupo de dançarinos e cantores no aeroporto de Timbuktu e depois visitou a Grande Mesquita, patrimônio mundial da Unesco. Também o presidente interino do Mali, Dioncunda Traoré, estava presente. Soldados franceses fortemente armados em veículos blindados e tropas locais cercaram a mesquita, construída com tijolos de lama e vigas de madeira. Bandeiras da França e de Mali estavam asteadas em postes de luz.

Os moradores comemoraram a visita gritando "Vive La France! Vive Hollande!" (Viva a França. Viva Hollande) e dançavam músicas tradicionais, que estavam proibidas durante a dominação dos radicais, que durou 10 meses. Os habitantes parabenizaram Hollande pela intervenção militar da França em sua antiga colônia no oeste africano. Muitos portavam camisetas estampadas com as bandeiras do Mali e da França. O presidente apertou a mão de vários malineses, e ainda visitou o Centro de Conservação de Manuscritos Antigos Preciosos, onde várias peças foram destruídas pelos islamistas por serem consideradas contrárias ao Islã.

"Desde 11 de janeiro já fizemos um grande trabalho, mas ainda não está completamente terminado. Vai demorar mais algumas semanas, mas o nosso objetivo é passar o testemunho", disse o presidente francês. "Nós não temos vocação para ficar. Os nossos amigos africanos poderão fazer o trabalho que até agora era nosso", acrescentou.

Os combates duraram três semanas e afastaram os combatentes islâmicos para áreas mais remotas de deserto e montanhas. Timbuktu fica a 900 quilômetros a nordeste da capital, Bamako, e era um dos principais objetivos da missão francesa. Em nome de uma interpretação rigorosa da charia, a lei islâmica, os radicais cometeram diversos excessos, punindo com chibatadas, amputações ou morte suspeitos de crimes, adultério, relações amorosas antes do casamento ou simplesmente fumar, dançar e não se vestir adequadamente.

Eles ainda chocaram o mundo ao destruir mausoléus históricos de santos muçulmanos, ao julgarem que a veneração a santos era “idolatria”, proibida pelo Islã. Também destruíram documentos preciosos conservados na cidade, considerada um grande centro cultural da região.

Polêmicas sobre abusos militares

A visita do presidente francês ocorre no momento em que várias organizações de defesa dos direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, denunciaram novas violações dos direitos humanos cometidas pelas partes envolvidas no conflito. O Exército do Mali prendeu e executou mais de vinte civis no norte do país, de acordo com um relatório publicado nesta sexta-feira pela organização, que exige uma investigação sobre um ataque aéreo que matou civis no centro do Mali no primeiro dia de intervenção francesa.

"É absolutamente imperativo que a França e o Mali abram uma investigação para determinar quem realizou este ataque" contra a cidade de Konna matando cinco civis, entre eles uma mãe e seus três filhos, declarou um porta-voz da Anistia, Gaëtan Mootoo. Segundo a ONG, militares franceses negaram qualquer ataque em Konna nesta data.

A Anistia Internacional afirma ter recolhido testemunhos que indicam que no dia 10 de janeiro, véspera do início da intervenção, "o Exército malinês prendeu e executou sumariamente mais de vinte civis", principalmente na cidade de Sevare. A Anistia, que realizou uma investigação de dez dias nas cidades de Segu, Sevare, Niono, Konna e Diabali, também relata "homicídios arbitrários e deliberados" por parte dos grupos islamitas armados e denuncia o recrutamento de crianças.

A Human Rights Watch (HRW) também acusou o Exército do Mali de ter "executado sumariamente ao menos 13 supostos membros dos grupos islamitas". E acusa os grupos extremistas em Konna da "execução de ao menos sete soldados malinenses".

O diretor de comunicação do Exército malinense, coronel Souleymane Maiga, desmentiu as acusações. "O Exército é uma força republicana que não comete violações", declarou. O imã da grande mesquita de Timbuktu lançou nesta sexta-feira um apelo pela "volta à calma" e o "fim dos ataques", pedindo aos fiéis que "evitem a comparação" entre as populações árabes e tuaregues com os islamitas e os rebeldes.

Garantir a segurança

Com a reconquista das últimas cidades, agora é necessário garantir a segurança da população. Em Gao e Timbuktu, que parecem ter voltado à normalidade, uma escola reabriu.

A situação é mais complicada em Kidal, que permaneceu por muito tempo nas mãos do grupo islamita Ansar Dine (Defensores do Islã) e que passou, antes da chegada dos soldados franceses, pelo controle do Movimento Islâmico do Azawad (MIA, dissidente do Ansar Dine) e do Movimento Nacional pela Libertação do Azawad (MNLA, rebelião tuaregue).

O MIA, que afirma rejeitar o "terrorismo" e defende o diálogo com Bamako, afirmou na quarta-feira ser contra o envio a Kidal, 1.500 km ao noroeste da capital, de soldados malinenses e africanos. A cidade é o último refúgio dos combatentes islamistas expulsos das cidades do norte.
 

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