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RDC/Bélgica/Collnização

RDC/60 anos de independência: rei Philippe da Bélgica pede desculpa pelas "feridas" da colonização

A República Democrática do Congo assinala esta terça-feira 60 anos de independência do Reino da Bélgica e pela primeira vez na história do país, o Rei Philippe pediu desculpa aos congoleses, pelos actos de violência e crueldade cometidos durante a colonização, em carta endereçada ao Presidente Félix Tshisekedi.

Rei Philippe da Bélgica nesta terça-feira 30 de junho de 2020, pediu pela primeira vez "desculpa" aos congoleses pelas "feridas infligidas" no período colonial.
Rei Philippe da Bélgica nesta terça-feira 30 de junho de 2020, pediu pela primeira vez "desculpa" aos congoleses pelas "feridas infligidas" no período colonial. © Getty images
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O Rei Philippe da Bélgica, no poder desde 2013, apresentou esta terça-feira (30/06) e pela primeira vez na história do país "os seus profundos remorsos" pelas feridas infligidas durante o período colonial no Congo belga, a partir de 1971 República do Zaire e desde 1997 República Democrática do Congo.

Em carta endereçada ao Presidente Félix Tshisekedi, por ocasião da comemoração dos 60 anos da independência, que se assinalam esta terça-feira (30/06) o Rei Philippe - sem nomear o rei Leopoldo II - escreveu "quero exprimir os meus mais profundos remorsos, por essas feridas do passado, cuja dor é hoje revivida pelas discriminações ainda presentes nas nossas sociedades".

O rei Philippe assumiu o compromisso de "combater todas as formas de racismo, para que a memória seja definitivamente pacificada", pode ler-se na carta, em referência a uma comissão parlamentar belga, com peritos belgas e africanos, criada para analisar a memória colonial e no momento em que a mobilização contra o racismo é mundial, em nome do movimento Black Lives Matter, despoletado após o assassínio por asfixia em maio 2020 em Minneapolis do cidadão afro-americano George Floyd.

Em Bruxelas e Antuérpia foram vandalizadas inúmeras estátuas do cruel monarca belga, na sua maioria com tinta vermelha, para simbolizar o sangue vertido pelos congoleses e muitas universidades e municípios decidiram retirar as estátuas ou bustos de Leopoldo II, como deve acontecer esta terça-feira (30/06) num parque público em Gand.

Numa petição que já recolheu 80.000 assinaturas, o colectivo de militantes anti-colonialistas designado "Reparemos a História" reclama que todas as estátuas em homenagem a Leopoldo II sejam retiradas de Bruxelas, designadamente a que o representa a cavalo frente ao Palácio Real, os signatários acusam o soberano de "carrasco e de ter morto mais de 10 milhões de congoleses".

Esta carta do Rei Philippe surge depois de o seu irmão mais novo, o príncipe Laurent, ter afirmado não acreditar que o rei Leopoldo II "tenha feito sofrer a população" da actual República Democrática do Congo, mas para alguns historiadores o reinado de Leopoldo II foi um "holocausto esquecido".

Em 2000/2001 uma comissão de inquérito parlamentar debruçou-se sobre o assassínio em janeiro de 1961 do efémero primeiro-ministro congolês Patrice Lumumba e concluiu na "responsabilidade moral de alguns ministros e outros actores belgas".

Breve Histórico

Em 1885 a Conferência de Berlim desenhou o "mapa cor de rosa" que dividiu África, atribuindo vastos territórios africanos aos países colonizadores e concedeu ao rei belga Leopoldo II a Bacia do Congo e o designado Estado Livre do Congo, que este administrou como sua possessão pessoal e privada entre 1885 e 1908, com excepção do Enclave de Cabinda, que se transformou num protectorado português a 1 de fevereiro de 1885 através do Tratado de Simulambuco, enquanto Angola passou a ser uma colónia de Portugal.

Leopoldo II que reinou entre 1865 e 1909 em 1908 cedeu o território do Congo belga à Bélgica, que o colonizou de forma brutal e racista, com separação estrita entre africanos e brancos até 1960 e em seu nome, foram cometidas atrocidades e mortos milhões de congoleses, "feridas" que ainda pesam na memória colectiva dos congoleses.

60 anos depois da independência os congoleses não sabem o que é viver em paz

A 30 de junho de 1960, mal os horrores ligados à produção de borracha infligidos por Leopoldo II terminaram, o primeiro Presidente do país foi Joseph Kasa-Vubu, mas a violência continuou, sobretudo depois do assassínio - ainda hoje polémico - no Katanga do seu efémero primeiro-ministro Patrice Lumumba a 17 de janeiro de 1961.

Em 1965 o excêntrico Mobutu Sese Seko que ficou 30 anos no poder, derrubou Joseph Kasa-Vubu e criou um novo sistema de exploração, baseado nos depósitos inesgotáveis de cobre da província do Katanga, despoletando uma guerra civil que causou pelo menos meio milhão de mortos civis e militares.

A 27 de outubro de 1971 Mobutu criou a República do Zaire, que em 1997 se transformou em República Democrática do Congo, sob o regime de Laurent-Désiré Kabila, seguido pelo seu filho Joseph Kabila proclamado chefe de Estado a 26 de janeiro de 2001 após a morte do pai e obrigado a renunciar a um terceiro mandato em agosto de 2018 e a 10 de janeiro de 2019 Félix Tshisekedi, foi proclamado chefe de Estado, encarnando a primeira alternância pacífica na RDC, mas que não se consegue libertar da tutela de Joseph Kabila, cujo partido é maioritário no parlamento congolês.

A violência e opressão continuam no país, tal como os conflitos, sobretudo no leste da RDC, que provocaram milhares de mortos e milhões de refugiados.

Maldição dos recursos naturais ? A  RDC tem enormes jazidas de ouro, urânio, cobre, diamantes e outros minerais estratégicos, mas também borracha e marfim.

Posição estratégica na região dos Grandes Lagos ? 

 

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