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Chade

Chade: presidenciais opõem presidente cessante e primeiro-ministro

Chade – No Chade 8 milhões de eleitores escolhem nesta segunda-feira, 6 de Maio,  entre 10 candidatos para eleições presidenciais. O escrutínio deve encerrar a transição encetada há 3 anos após a morte em combate do antigo chefe de Estado, tendo o seu filho, o general Mahamat Idriss Déby Itno, ficado interinamente a assegurar o poder. O seu primeiro-ministro, Succès Masra, é outro dos candidatos a disputar estas eleições.

Votação para as eleições presidenciais chadianas, aqui um eleitor em Ndjamena, a capital, a 6 de Maio de 2024.
Votação para as eleições presidenciais chadianas, aqui um eleitor em Ndjamena, a capital, a 6 de Maio de 2024. AFP - JORIS BOLOMEY
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Leonel Claro é um padre português a residir no sul do país desde a década de 90. Ele alega que os eleitores estão cientes de que este é, sobretudo, um duelo, entre o presidente cessante, Mahamat Idriss Déby Itno, e o seu primeiro-ministro, Succès Masra, um ex opositor que, entretanto, se juntara ao regime.

Esta manhã fui dar uma volta pela cidade. Como são eleições e é feriado, tudo está fechado, mas está tudo calmo, tranquilo. Pelo menos aqui em Sahr as coisas estão calmas. É verdade que nestes últimos dias chegaram alguns militares da guarda presidencial, alguns uma dezena de carros cheios de militares e bem armados e vêem-se nas ruas. Há pouco passei e vi os, mas tudo, tudo calmo.

As pessoas sabem que, no fundo, [o escrutínio] joga-se entre entre duas, duas pessoas o presidente de transição e o Succès Masra [primeiro-ministro]. As pessoas sabem isso, sabemos muito bem. Há duas coligações também fortes uma coligação à volta do presidente e outra a coligação à volta do presidente [do partido] dos Transformadores, Succès Masra. As pessoas estão conscientes disso. Falando com as pessoas, noto dois sentimentos. Por um lado, um sentimento, um pouco de esperança que eventualmente as coisas possam mudar. Porque a campanha eleitoral correu pacificamente. Houve a oposição, o Succès Masra será conseguiu juntar mares de gente à volta dele, o que não aconteceu tanto com o presidente. E mesmo aqui há praticamente desde esta última semana, o presidente não fez campanha, parou a presidência e refugiou se Ndjamena. Foram depois os outros da coligação que andaram por aqui e por ali. Mas viu-se que Masra conseguia mesmo aqui em Sarh, em Sarh mas não só. Em Mondou, em Doba, Laï, Bongor,  e portanto, mesmo nas cidades mais próximas de Ndjamena.

Mondou é o feudo dele no Sul. Portanto, diz que de facto o Sul está todo adquirido à causa de Succès Masra, no Norte, em contrapartida, é muito o feudo do presidente cessante. É mesmo assim ? Estamos a ver aqui uma dicotomia entre o Norte e o Sul, entre Déby e Masra ?

A dicotomia sempre existiu. Eu, desde nos anos 90, cá estou desde as primeiras eleições. Sempre foi um pouco esta dicotomia. O Norte, o Sul, embora não seja assim tão evidente. Há muita gente no Sul que é pelo presidente do MPS [Movimento patriótico de salvação], portanto, que entrou no circuito do MPS. Porque se tu não fazes parte do MPS, o partido que agora apoia o presidente e que o antigo presidente fundou, se não entras no sistema do MPS não tens lugar em lado nenhum. Portanto, a nível de administração, a nível de postos de responsabilidade, ou és do MPS ou não entras em lado nenhum. E muita gente do Sul entrou nesse sistema, como também no norte.

O Norte não é que não esteja por trás do presidente, até porque há outros partidos que têm muita implantação também no Norte e com os acontecimentos da morte há três anos, ou dois ou três anos, da morte da mãe do Dillou, que o antigo presidente mandou matar, ou dizem que mandou matar ele... E agora com a morte do Dillou [opositor assassinado em 2024] que dizem que também foi, foi o novo presidente que mandou matar, etc. O Norte está bastante dividido e viu-se também nalgumas redes sociais, por exemplo, candidatos no Norte, em Biltine, em Mongo, em Abéché, por exemplo, conseguirem reunir muita, muita gente à volta deles.

Portanto, não é que seja assim. Agora, realmente vê-se que há dois polos e mesmo o Masra no Norte tem também uma implantação. Porque a organização dele tem também muitos árabes do norte e até muçulmanos. Portanto, não é uma questão só de Sul/Norte. As pessoas estão mais divididas. Quer dizer, não é que seja o sulista, é do sul, o nordista é do norte. As coisas estão mais diluídas e há muita gente do Norte que é por Masra. E como há também muita gente do Sul que é pelo presidente, porque estão dentro do sistema do MPS.

Acha que há motivo para a apreensão, porque depois começa o apuramento dos dados. Enquanto não são divulgados resultados provisórios e depois definitivos. Em que medida que os eleitores vivem com alguma apreensão o desfecho destas eleições?

Pois é esse o segundo sentimento que eu sinto também nas pessoas. Portanto, o primeiro é ter um pouco de esperança, porque há qualquer coisa que muda e as redes sociais permitem isso. A comunicação permite isso agora. E há também esse sentimento de que tudo está feito já nada vai mudar mesmo.

O presidente já veio mesmo advertir para que as actas não sejam filmadas, não sejam expostas quando é contra o regulamento, pronto. E algumas associações já se revoltaram contra esta intervenção do Presidente da Comissão Nacional ! E portanto, há este... de uma certa maneira, sente-se um certo receio. Um certo medo da, digamos, da presidência do MPS e crê-se que pronto, as pessoas dizem "Por mais que a gente que a gente faça... Pronto, a gente já sabe isso". E os dois sentimentos que eu noto... agora eu não sei. Eu penso que estas eleições vão ser uma mudança.

E se houver transparência, se houver transparência, mesmo que Mahamat ganhe, que o Masra ganhe, as coisas poderão levar um certo rumo. Mas há também o perigo de faltar, de não haver transparência. Portanto, se não se publicarem as actas, não se publicarem os resultados e depois a Comissão Nacional fazer aquilo que quer demorar quatro, cinco ou seis dias de uma semana para depois publicar resultados que ninguém sabe de onde é que eles vêm ! É que as pessoas estão sensibilizadas para fazer pressão, para que as coisas sejam publicadas. Por exemplo, os militares votaram ontem e a diáspora também já votou e já se publicaram. Já sabem alguns resultados, por exemplo, de militares, etc. E portanto, quer dizer que mesmo que se procure camuflar e não publicar tudo, muita coisa vai ser publicada e esperamos que as coisas corram bem e que não haja nada de especial, de violência.

Falava-me da questão da transparência. Em que medida é que há observadores nacionais e internacionais e qual é o peso que eles podem desempenhar neste processo?

Os observadores internacionais, não sei, não estou a par. Não dei conta que tivessem chegado alguém aqui no Sul. Agora o que pode mudar são os observadores dos partidos. Penso que estas eleições vão ser uma mudança e se houver transparência, mesmo que Mahamat ganhe, ou que Masra ganhe, as coisas poderão levar um certo rumo. Mas há também o perigo de não haver transparência e, portanto, não se publicarem as actas, não se publicarem os resultados e depois a Comissão Nacional fazer aquilo que quer, são sensibilizadas para fazer pressão para que as coisas sejam publicadas. O que pode mudar são os observadores dos partidos e aí hoje há uma sensibilidade e maior formação para que nas mesas de voto estejam presentes os observadores dos partidos e que esses partidos sejam testemunhas e não saiam de lá até que sejam proclamados os resultados e à vista de toda a gente. Há uma maior sensibilidade dos actores internos.

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