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Prémio Medicis Étranger

Lídia Jorge “muitíssimo feliz” com “presente da cultura francesa literária”

A escritora portuguesa Lídia Jorge contou à RFI estar “muitíssimo feliz” com o “presente da cultura francesa literária” que constitui o Prémio Médicis Étranger, que venceu, esta quinta-feira, com o romance “Misericórdia”, em ex-aequo com "Impossibles Adieux", da sul-coreana Han Kang. “Este prémio ajuda a dizer-me que tudo o que eu tenho feito tem algum sentido”, resumiu a escritora.

Lídia Jorge, em Paris, a 29 de Janeiro de 2019.
Lídia Jorge, em Paris, a 29 de Janeiro de 2019. Carina Branco/RFI
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Lídia Jorge é a primeira autora de língua portuguesa distinguida com o Prémio Médicis Étranger, criado em França em 1970. A escritora venceu com o romance “Misericórdia”, em ex-aequo com "Impossibles Adieux", da sul-coreana Han Kang. O prémio foi entregue pela primeira vez ao italiano Luigi Malerba e distinguiu, entre outros, autores como Milan Kundera, Julio Cortázar, Doris Lessing, Umberto Eco, Elsa Morante, Antonio Tabucchi, Philip Roth, Orhan Pamuk, Antonio Muñoz Molina e David Grossman.

“Estou muito feliz. Estou muitíssimo feliz. Considero que é uma espécie de presente que a cultura francesa literária me dá, o facto de incluir o meu livro numa fila de livros tão prestigiados. Sinto-me orgulhosa e compreendo qual é a importância da editora francesa, neste caso, que conseguiu fazer uma tradução magnífica e conseguiu fazer chegar a muitos leitores e, sobretudo, a estes leitores que são este júri – são dez escritores notáveis que escolhem livros de escritores. Por isso, este prémio é um prémio literário. É um prémio entre gente que ama os livros, que considera, no caso do romance, o romance como obra de arte e não apenas como testemunho - ainda que atente ao testemunho e à verdade do livro, a verdade vivida do livro - mas vê sobretudo a parte literária, a capacidade de transfiguração de uma obra”, começou por reagir a escritora.

Lídia Jorge acrescentou que se trata de uma “recompensa extraordinária” na sua vida: “Considero que este prémio ajuda a dizer-me que tudo o que eu tenho feito tem algum sentido e este livro tem algum sentido porque fala para leitores que são inteligentes, que são exigentes e sensíveis. Por isso, não posso estar mais feliz.

“Misericórdia”, actualmente na 6.ª edição em Portugal, é descrito pelas publicações D. Quixote como “um livro absolutamente novo na obra da autora e muito provavelmente em toda a literatura portuguesa”. O romance foi “encomendado” pela mãe da escritora, que é a personagem principal do livro, e a quem Lídia Jorge diz dever tudo.

Devo-lhe muito. Devo-lhe a vida, devo-lhe tudo. Devo-lhe o facto de ela ter apostado em mim desde criança, ter achado que eu não podia ficar agarrada à terra, que eu não poderia ser uma camponesa […] Foi ela que promoveu a estudante, depois a universitária, com o esforço da sua vida. Nisso, ela fez alguma coisa que as mulheres que agora têm 90 anos fizeram aos seus filhos. Foi promovê-los, levá-los à escola, levá-los à universidade, dar-lhes cursos para que saíssem do Portugal antigo e passassem para o Portugal moderno. E isso aconteceu, um pouco, pela Europa toda. As mulheres que agora têm 90 anos, que se aproximam dos 100, foram alavancas importantes, sobretudo, na emancipação das mulheres porque, até aí, a leitura e a alfabetização eram para os homens. Em meados do século XX, elas promoveram as filhas e, hoje, as mulheres são europeias, são livres, são autónomas, são cidadãs de pleno direito.

O livro foi editado em França pela Métailié e era, também, um dos finalistas dos Prémios FEMINA, em França. Para além de França, tem os direitos de publicação vendidos para Espanha, Alemanha, Colombia e México.

O romance “Misericórdia” - publicado em Portugal em Outubro de 2022 e editado em França pela Métailié - venceu já o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores; o Prémio Urbano Tavares Rodrigues; o Prémio do PEN Clube Português; o Prémio Fernando Namora; o Prémio para o Melhor Livro Lusófono publicado em França. Chegou, ainda, aos finalistas dos Prémios FEMINA, também em França, e mantém-se na corrida ao Prémio Oceanos, um dos mais importantes para autores de língua portuguesa, cujo vencedor será conhecido no próximo dia 7 de Dezembro.

Amplamente traduzida e publicada no estrangeiro, Lídia Jorge recebeu, anteriormente, o Prémio ALBATROS, da Fundação Günter Grass, o Prémio Charles Bisset, da Associação Francesa de Psiquiatria, e o Prémio Fil de Literatura em Línguas Românicas de Guadalajara, aos quais agora se junta o Prémio Médicis Étranger.

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