França vai investigar "homicídio culposo" de jornalista
O Ministério Público da França anunciou hoje que vai abrir uma investigação por homicídio culposo para apurar as circunstâncias da morte do jornalista Gilles Jacquier, ocorrida na quarta-feira em Homs, na Síria. A France Télévisions, para quem o repórter trabalhava, questiona os elementos “preocupantes” que rodearam a tragédia.
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“Nossos colegas estavam no local com todas as autorizações necessárias, com vistos oficiais e sob proteção, que justamente no momento dos ataques, desapareceu”, afirmou o presidente da France Télévisions, Rémy Pflimlin. “Por isso, temos algumas questões em aberto.”
O corpo do cameraman, de 43 anos, chegou hoje em Paris e deve passar por uma autópsia para determinar que tipo de projétil provocou a sua morte. O diretor de informações da emissora, Thierry Thuillier, particpou da operação de repatriamento e disse que “há elementos preocupantes” nos fatos que resultaram na morte do jornalista.
“Por que os militares que escoltavam o grupo de jornalistas desapareceram da circulação no momento dos primeiros tiros?”, questionou, acrescentando que a emissora estatal síria estava no local antes mesmo que os repórteres estrangeiros chegassem. O regime acusa “um grupo terrorista” de estar por trás dos ataques, mas a França suspeita cada vez mais que o próprio governo pode ser responsável pela morte. Paris suspeita de uma manipulação das autoridades de Damasco, já que elas eram as únicas a ter conhecimento da visita do grupo de repórteres a Homs, epicentro da revolta popular contra o regime.
A Síria anunciou a abertura de uma investigação para esclarecer a morte do francês e de um grupo de pessoas atingidas por ataques de morteiros, na quarta-feira. No mesmo dia, o presidente Nicolas Sarkozy comentou o caso em tom pouco amistoso e pediu para que as autoridades sírias “esclareçam totalmente” as circunstâncias da morte do jornalista.
Uma fonte próxima à presidência francesa indicou ao jornal Le Figaro que a tendência é acreditar em uma “manipulação” dos acontecimentos, mas por enquanto não existem “provas”. “As autoridades sírias eram as únicas a saberem que um grupo de jornalistas visitava Homs naquele dia e em qual bairro eles se encontravam”, afirmou a fonte. O bairro de Nuzha é povoado por alauítas, comunidade devota ao presidente Bashar al-Assad e onde o ditador nasceu.
A visita dos jornalistas havia sido autorizada poucos dias antes pelo regime, em uma ocasião excepcional desde que começou a revolta popular contra o presidente. Os repórteres só podiam se deslocar a zonas autorizadas, onde o regime mantém o controle. No dia em que morreu, Jacquier havia reclamado que a reportagem parecia uma “operação de propaganda” da emissora France 2, para a qual ele trabalhava.
Em Paris, o palácio do Eliseu não descarta a ocorrência de um “triste acidente”, mas adverte que “ele cai bem em um regime que procura desencorajar os jornalistas estrangeiros e demonizar a rebelião”, conforme Le Figaro. Os colegas de Jacquier, inclusive o repórter da CNN, Nick Robertson, evocaram a impressão de terem sido pegos deliberadamente como alvos dos ataques militares.
Após a tragédia, a mulher do jornalista, a fotógrafa Caroline Poiron – que também estava no local a trabalho – se negou a entregar o corpo do marido aos serviços de informação sírios. Ela preferiu aguardar a chegada do embaixador da França ao local e exigiu que o repatriamento do corpo fosse feito exclusivamente pelas autoridades francesas. Poiron permitiu a realização de uma autópsia parcial no corpo para a verificação do tipo de projétil que o matou, no intuito de identificar quem atirou os morteiros.
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