Suspeita de financiamento ilegal de campanha ameaça Sarkozy

Duas novas pesquisas de intenções de votos para as eleições presidenciais francesas, divulgadas nesta terça-feira, indicam a subida do candidato Nicolas Sarkozy no primeiro turno, com 29%, no estudo da Harris Interactive, e 29,5%, no instituto Ipsos. François Hollande, o candidato socialista e principal rival do atual presidente, está logo atrás, com 26% e 27,5%, respectivamente. Mas o chamado "caso Bettencourt", em que Sarkozy é suspeito de ter realizado financiamento ilegal na sua campanha de 2007, pode atrapalhar a situação do candidato conservador.

O presidente e candidato do partido francês de dureita UMP, Nicolas Sarkozy, durante campanha em Nancy, nesta terça-feira. EUTERS/Benoit Tessier

Apesar de ir pior no primeiro turno – como outras sondagens vêm confirmando nas últimas semanas -, Hollande ainda venceria as eleições na segunda votação, em maio, com 53% das cédulas, conforme o Harris, e 55%, de acordo com o Ipsos.

Os estudos demonstram que a terceira colocação na corrida presidencial continua confusa: no primeiro turno a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, viria em terceiro lugar na apuração da Harris, com 16%,  enquanto que na do Ipsos seria o da extrema-esquerda, Jean-Luc Mélanchon, com 14,5% - seguido de perto por Le Pen, com 14%.

A 19 dias do primeiro turno, as suspeitas sobre o financiamento ilegal da campanha de Sarkozy em 2007 ganham força, levando o presidente a se defender hoje. “Como sempre antes de uma eleição, sempre surgem ataques repugnantes. É clássico, e isso não surpreende ninguém, mas não significa que são verdadeiros”, afirmou.

“As contas da minha campanha de 2007 não foram contestadas por ninguém. A comissão das contas de campanha as certificou e disse que ‘não há um centavo que não se sabe de onde vem”, declarou. “Não há nenhuma despesa que não se saiba por quem foi financiada.”

Jornalistas que fizeram denúncias podem ser indiciados

Um juiz de instrução de Bordeaux, no sudoeste da França, investiga se saques realizados na conta da bilionária Liliane Bettencourt foram utilizados para financiamento ilegal da campanha de Sarkozy, já que na França as campanhas são pagas com dinheiro público. Dois dos saques foram de 400 mil euros cada e podem ter sido entregues ao tesoureiro do então candidato, Eric Woerth, que depois foi ministro do Orçamento durante o mandato de Sarkozy. A investigação já resultou na prisão de Patrice de Maistre, um dos assessores de Bettencourt, dona da L’Oréal e de uma das maiores fortunas do país.

Nesta terça-feira, dois jornalistas convocados a depor sobre o caso e que podem ser indiciados por “atentado à vida privada” se revoltaram contra a intimação. O repórter investigativo Fabrice Arfi e o diretor do jornal online Médiapart, Edwy Plenel, anunciaram que vão prestar queixa por “denúncia caluniosa”. Eles são suspeitos de ter divulgado extratos de escutas ilegais realizadas por um ex-mordomo de Bettencourt. Publicados em 2010, os diálogos amplificaram, entre outros elementos, as denúncias de financiamento ilegal da campanha de Sarkozy. Outros dois jornalistas da revista Le Point também podem ser indiciados pelo caso.

“Não podemos aceitar sermos questionados por termos feito o nosso trabalho. O jornalismo não é um delito”, protestou Arfi, lembrando que as gravações tinham sido entregues à polícia antes de caírem nas mãos dos repórteres. Já Plenel destacou que as reportagens publicadas abordavam trechos importantes para a compreensão das denúncias, e não sobre os aspectos da vida privada da família Bettencourt.

* Clique aqui para saber mais sobre os candidatos e regras das eleições presidenciais francesas e confira os bastidores da campanha na galeria de imagens.
* Não deixe de navegar pela série de matérias especiais e programas, aqui!
* Acompanhe facebook da RFI Brasil, clicando aqui.
* Se você prefere o twitter, clique aqui.