Dívida francesa 'explodiu' durante o mandato de Sarkozy
O mandato do presidente Nicolas Sarkozy ficará marcado pela explosão da dívida pública, que aumentou 21,4 pontos do Produto Interno Bruto (PIB) de 2006 até o final de 2011. Na avaliação de economistas, a crise financeira é a maior responsável pelo agravamento do rombo atual, mas Sarkozy também é criticado pelo afrouxamento da gestão dos gastos públicos.
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O crescimento da dívida francesa foi quase idêntico ao da dívida global da zona do euro no período analisado pelo Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE). A França se sai melhor do que os Estados Unidos, que viram sua dívida dar um salto de 29 pontos do PIB, e do que a Grã-Bretanha, um dos piores alunos do bloco europeu, com um crescimento de dívida da ordem de 40,6% do PIB nos últimos cinco anos.
Economistas franceses respeitados dizem que Sarkozy não é o único culpado da derrapagem, uma vez que os impactos da crise financeira internacional foram violentos na zona do euro. A França, porém, não estaria na situação atual, com uma dívida projetada de 89,1% do PIB em 2012, se o governo tivesse conciliado políticas de crescimento e cortes nos gastos públicos, avaliam esses mesmos economistas.
De 2006 a 2011, a dívida francesa aumentou 620 bilhões de euros. Tirando os juros do serviço da dívida e despesas decorrentes da crise econômica, a OFCE estima que o governo Sarkozy apimentou o valor da nota em 35 bilhões de euros.
O erro estratégico de Sarkozy foi não adotar, desde o início de seu mandato, uma política de redução drástica do déficit público. Seu maior erro de avaliação da conjuntura foi reduzir os impostos em vez de reforçar a arrecadação fiscal, o que lhe rende hoje o estigma de "presidente dos ricos".
Em seu último relatório, o Tribunal de Contas francês condena as políticas governamentais dos últimos 30 anos, que "acumularam ano a ano" os déficits orçamentários até tornar "a dívida um problema estrutural". O tribunal condenou os sucessivos cortes de impostos.
O economista Christian Saint-Etienne, da Universidade Paris Dauphine, diz que o mais preocupante são "os déficits exteriores" acumulados pela França, com um déficit comercial (diferença do saldo de importações e exportações) abissal e o "enorme volume da dívida pública francesa em posse de estrangeiros", cerca de 60% do volume total, segundo o economista.
Favoritos têm abordagens diferentes de combate à crise
No programa de 60 propostas lançado pelo socialista François Hollande, favorito nas pesquisas, o candidato da oposição diz que vai combater o déficit público cobrando impostos dos mais ricos e de grandes empresas que se beneficiam, sem precisar, de exonerações fiscais.
Hollande promete privilegiar políticas de incentivo às pequenas e médias empresas, que se tornariam em seu governo as principais fontes de novos postos de trabalho na França. O socialista preocupa alguns economistas quando afirma que vai rever a reforma das aposentadorias e a regra de equilíbrio orçamentário aprovadas por Sarkozy e consideradas medidas oportunas para reduzir o déficit público.
Sarkozy adota em seu programa econômico medidas fiscais compensatórias. Se reeleito, ele quer aumentar o imposto sobre produtos e serviços (TVA) de 1,6%, mantendo a taxa inalterada para alimentos, remédios e outros produtos de primeira necessidade. Em outubro, a TVA atual de 19,6% passaria para 21,2%.
O presidente também propõe um aumento do imposto cobrado nas aplicações financeiras, que subiria para 10,2%. Essa receita suplementar financiaria os 13 bilhões de euros de contribuições sociais obrigatórias que o Estado deixará de cobrar dos salários, para estimular a criação de empregos.
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