Turquia quer transformar o leste do Mediterrâneo num barril de pólvora
Recursos naturais, uma miríade de ilhas e rochedos, rivalidades históricas e fronteiras marítimas pouco claras. É esta mistura explosiva que está a transformar o Leste do mediterrâneo num barril de pólvora. Ancara enviou um navio de exploração, bem protegido por 6 vasos de guerra, para prospeções ao largo da ilha de Kastelorizo, uma pequena e remota ilha grega.
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Nos últimos dias o governo turco decidiu retomar as explorações sísmicas na região, supostamente em busca de jazidas de gás natural, em águas que Ancara e Atenas consideram suas, como resposta à assinatura de um acordo de jurisdição marítima entre a Grécia e o Egipto, que a Turquia já declarou “nulo e sem efeito”.
Para tal, Ancara enviou um navio de exploração, bem protegido por 6 vasos de guerra, para prospeções ao largo da ilha de Kastelorizo, uma pequena e remota ilha grega, a centenas de quilómetros do território grego mais próximo, mas a poucas centenas de metros da costa turca.
Ancara considera que as águas à volta de Kastelorizo são suas, enquanto Atenas insiste que esta ilha permite a delimitação de uma zona económica exclusiva grega. “Que uma ilha com uma área total de 10 km² justifique uma jurisdição marítima de 40,000 km² é uma brincadeira e não tem qualquer base na jurisdição internacional”, justificou esta semana o presidente turco Recep Tayyip Erdogan.
Há muito que o mediterrâneo oriental está em pé de guerra, e Ancara tem testado a paciência dos seus vizinhos, usando os navios de exploração sísmica para marcar as suas ambições territoriais.
A Turquia começou por enviar estes navios de prospeção para a zona económica exclusiva de Chipre, como resposta a acordos que o governo da República de Chipre fez com multinacionais para explorar jazidas de gás natural – os turcos entendem que esses recursos devem ser partilhados também com os cipriotas turcos do norte da ilha dividida.
Depois Ancara assinou um polémico acordo com o governo líbio, estabelecendo uma enorme zona de controlo turco, que inclui áreas também reivindicadas pela Grécia, a sul de Creta.
Perante a pressão da União Europeia, Atenas e Ancara decidiram encetar negociações bilaterais, e os navios de prospeção regressaram temporariamente aos portos turcos, mas o apaziguamento foi de curta duração
Agora, e perante um acordo semelhante assinado pela Grécia e o Egito, Ancara decidiu enviar de novo os seus navios de prospeção para águas a sul de Kastelorizo.
Entretanto, aviões turcos sobrevoam com frequência o espaço aéreo grego - há dias jatos turcos e gregos envolveram-se numa batalha área sobre a ilha de Kastelorizo que durou 2,5 h e levou os residentes ao pânico.
Atenas considera estas ações “ilegais”, e pediu apoio aos seus parceiros de Bruxelas, que discutem agora a potencial imposição de sanções a Ancara. Entre os países europeus mais críticos está a França, e Emmanuel Macron anunciou já que o país vai reforçar a sua presença naval na área.
Há umas semanas fragatas turcas e francesas confrontaram-se em frente às costas líbias, onde os dois países, aliados na NATO, estão em lados diferentes das barricadas na guerra naquele país do norte de África – Ancara apoia o governo de Trípoli, enquanto a França respalda o general rebelde Khalifa Haftar.
De Ancara, o jornalista José Tavares.
Correspondência da Turquia, 18/8/2020
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