Israel manterá bloqueio em Gaza
O governo israelense também anunciou que outros barcos devem chegar à costa de Gaza na quarta-feira e alertou que não vai permitir novas tentativas de ruptura do bloqueio na região, imposto em 2007. Em uma declaração, ONU lemanta mortes e pede uma investigação “completa e imparcial.”
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Um dia depois do ataque às seis embarcações que levavam suprimentos para a população de Gaza, o governo de Israel iniciou nesta terça-feira o interrogatório dos militantes pró-palestinos. Cerca de 700 pessoas estão presas na cidade portuária de Ashod, para onde foram conduzidos os barcos da Frota da Liberdade. Entre os detentos está a cineasta brasileira Iara Lee. Em entrevista à imprensa brasileira, ela diz que os israelenses atacaram de "forma indiscriminada." Ela também se recusou a assinar um documento assumindo que entrou ilegalmente no país, o que poderia acelerar sua deportação.
Segundo o ministro da segurança interna, Yitzak Aharonovitch, os presos devem ser liberados rapidamente. O primeiro-ministro francês, François Fillon, pediu a "libertação imediata" dos nove franceses e dos civis detidos a bordo do navio. Alguns prisioneiros gregos disseram que foram ameaçados na prisão. O ataque aos barcos deixou pelo menos nove pessoas mortas e 30 feridos, mas segundo a ONU, o número de vítimas fatais pode chegar a 19.
O governo israelense já alertou que não vai admitir que outros barcos naveguem na costa de Gaza e tentem furar o bloqueio. Segundo a rádio militar, duas outras embarcações carregando ajuda humanitária devem chegar na quarta-feira à região, e também devem ser interceptadas pela Marinha de Israel. Um nos navios vinha da Irlanda para se unir ao comboio atacado na segunda-feira e não chegou a tempo.
Enquanto isso, Israel continua o processo de investigacão e deportação dos quase 670 ativistas que participaram da Frota da liberdade. Segundo o Ministério das Relações Exteriores de Israel, o processo pode demorar alguns dias. Pelo menos 480 ativistas estão detidos na prisão de Beer Sheva, no sul de Israel, e outros 130 estão sendo transferidos do porto de Ashdod para a prisão. 48 pessoas que concordaram com a deportação foram transferidas para o aeroporto internacional Ben Gurion, em Tel Aviv.
O exército israelense comecou a investigar nesta terça-feira a operação que impediu que a expedição que carregava 10 toneladas de ajuda humanitária rompesse o bloqueio imposto ao território palestino em 2007, desde que o grupo extremista Hamas assumiu o controle na região. Apesar da mobilização da comunidade internacional,que considera que Israel passou dos limites, parlamentares e militares questionam as decisões que levaram aos violentos confrontos a bordo do navio turco Marmara.
Nathalia Watkins, correspondente da RFI em Jerusalém
O primeiro ministro Benjamin Netanyahu, que cancelou uma visita a Washington e retornou a Israel, deve reunir seu gabinete para discutir as consequências do ataque ainda nesta terça-feira. A imprensa israelense questiona a maneira como as embarcacoes foram recebidas por Israel, mas parece concordar que o bloqueio a Gaza deve continuar. Além disso, a mídia local lamenta mais um fiasco da diplomacia israelense.
Líderes arabes homenagearam as vítimas com uma greve geral e marchas nas comunidades árabes. A polícia está em estado de alerta em todo o país. No início da manhã, dois palestinos foram mortos quando, segundo fontes israelenses, tentavam cruzar a fronteira e entrar em Israel. Mais cedo, um míssil kassam atingiu o sul de Israel, sem deixar feridos. Além disso, as forcas israelenses reforçaram a segurança nas fronteiras com a Síria, Líbano e Faixa de Gaza.
Nesta terça-feira, o governo egípcio também reabriu a fronteira com Gaza, conhecida como passagem de Fatah, a única região que não sofre o bloqueio israelense. Segundo o presidente Hosni Moubarak, o objetivo é facilitar a entrada de ajuda humanitária e a circulação de doentes e feridos.
ONU pede investigação imparcial
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas foi taxativo e pediu uma investigação “imparcial” do ataque israelense, exigindo a liberação de todos os civis presos. A reunião de emergência do conselho começou na tarde desta segunda-feira e terminou de madrugada. A reunião foi realizada a pedido da Turquia e do Líbano, país que ocupa a presidência temporária do Conselho de Segurança.
Um desacordo entre a Turquia, redatora do projeto de texto, e os Estados Unidos, aliado de Israel, criou um forte impasse para a redação de uma declaração da ONU contra o ataque, que lamentou as mortes, mas não condenou Israel. A reunião foi realizada a pedido da Turquia e do Líbano – país que ocupa a presidência temporária do Conselho de segurança. Em um comunicado comum, a Rússia e a União Europeia também pediram uma investigação “completa e imparcial.”
Em Nova York, O Conselho de Segurança realizou uma sessão de consultas a portas fechadas e em seguida abriu um debate público onde participaram, além dos países membros do Conselho, representantes da Palestina e de Israel. Os países que compõe o Conselho de Segurança, além de expressarem solidariedade e indignação, pediram que Israel dê explicações completas sobre o ocorrido. A declaração, aprovada pleos 15 membros, associou o incidente às negociações para a retomada do processo de paz. O conselho condenou o ataque ao comboio de 6 navios que iam em direção à Gaza e foram tomados pelas forças israelenses.
O ataque foi realizado por membros de uma unidade de elite do exército israelense, a cerca de 20 milhas da faixa palestina, o que representa, segundo a ONU, águas internacionais. O chanceler turco, Ahmet Davutoglu, declarou que a ação foi terrorista, que isso é homicídio cometido por um Estado. A maioria dos ativistas presentes no comboio eram turcos.
Cleide Klock , correspondente da RFI em Nova York
O secretário-geral adjunto da ONU para Assuntos Políticos, o argentino Oscar Fernández Taranco ressaltou que esse acidente ocorreu "em um momento em que todos os esforços deveriam estar focalizados em reconstruir a confiança e em avançar nas negociações entre israelenses e palestinos". Ele pediu que as negociações continuem.
A embaixadora no Brasil na ONU, Maria Luiza Viotti, disse que o seu país recebeu com choque e consternação as notícias. De acordo com ela, o Brasil condena a ação israelense e pede o fim do bloqueio contra Gaza.
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