Psiquiatria e homossexualidade: nova polémica do Papa
O papa Francisco mencionou, este domingo, o recurso à psiquiatria quando os pais se apercebam de tendências homossexuais dos filhos durante a infância. Por outro lado, o papa não comentou as acusações de um arcebispo, segundo as quais ele teria tido conhecimento de abusos sexuais cometidos pelo cardeal norte-americano Theodore McCarrick.
Publicado a: Modificado a:
As declarações do papa Francisco, a bordo do avião que o transportava da Irlanda para Roma, estão a suscitar reacções de indignação.
Questionado sobre o que diria aos pais que constatem a homossexualidade dos filhos, o sumo pontífice declarou: “Dir-lhes-ia, em primeiro lugar, para rezar, para não condenar, dialogar, compreender.”
O papa acrescentou: "Quando [a homossexualidade] se manifesta na infância, há muita coisa que a psiquiatria pode fazer para ajudar a perceber como as coisas são. Mas é outra coisa quando ocorre depois dos vinte anos".
Além disso, defendeu que o "silêncio nunca será uma cura" porque "ignorar um filho ou uma filha com tendências homossexuais revela falta de paternidade ou maternidade".
Papa Francisco sobre a homossexualidade
Entretanto, na página do Vaticano, na transcrição da conferência de imprensa, a palavra “psiquiatria” desapareceu: “Uma coisa é quando se manifesta quando criança, quando há tantas coisas que podem ser feitas, para ver como estão as coisas; Outra coisa é quando se manifesta depois dos 20 anos ou algo parecido. Mas nunca direi que o silêncio é o remédio: ignorar o filho ou a filha com uma tendência homossexual é a falta de paternidade e maternidade.”
Por outro lado, o papa escusou-se a comentar as várias acusações contra ele, que constam do texto de um arcebispo, de que ele teria encoberto, pelo silêncio e durante anos, abusos sexuais atribuídos ao cardeal norte-americano Theodore McCarrick, antes de aceitar a sua demissão no mês passado.
Numa carta aberta publicada no fim-de-semana, um ex-núncio em Washington, o arcebispo Carlo Maria Vigano, pediu ao papa para renunciar por ter tido conhecimento, durante cinco anos, dos abusos sexuais do cardeal junto de jovens seminaristas e sacerdotes.
Ao longo de 11 páginas, Carlo Maria Vigano fala em “conspiração do silêncio” no seio da igreja, “não muito diferente da da máfia” e considera que “o papa Francisco deve ser o primeiro a dar o exemplo aos cardeais e aos bispos que encobriram os abusos de McCarrick e demitir-se com eles”.
O arcebispo escreve que alertou o papa em Junho de 2013, depois de este ter sido eleito, e que também informou em 2006 altos responsáveis do Vaticano, mas que nunca obteve resposta.
Theodore McCarrick, de 88 anos, renunciou no mês passado e foi-lhe retirado o título de cardeal, algo inédito.
O papa afirmou aos jornalistas ter lido comunicado e afirmou: "Leiam o comunicado atentamente e façam o vosso próprio julgamento."
"Têm capacidade jornalística suficiente para tirar conclusões. É um ato de confiança. Quando passar algum tempo e vocês tiverem tirado as conclusões talvez eu fale, mas gostaria que a vossa maturidade profissional fizesse isso", acrescentou o pontífice.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro