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Itália

Demissão do chefe do governo italiano em contexto de crise política

O chefe do governo italiano, Mario Draghi, tornou a entregar a sua demissão ao presidente Sergio Mattarella, segundo anunciou hoje a Presidência da República Italiana em comunicado, um dia após a implosão de sua coligação de unidade nacional, o Presidente da República tendo tomado nota desta decisão.

Presidente do Conselho demissionário Mario Draghi durante o voto de confiança dos parlamentares ontem, dia 20 de Julho de 2020, em Roma.
Presidente do Conselho demissionário Mario Draghi durante o voto de confiança dos parlamentares ontem, dia 20 de Julho de 2020, em Roma. REUTERS - GUGLIELMO MANGIAPANE
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Considerado como um dos pilares da estabilidade da União Europeia, que deu impulsos significativos para se elaborar o plano de salvação da economia do continente no período pós-covid e que foi um dos arquitectos da resposta comum face à Rússia depois da invasão da Ucrânia, Mario Draghi que estava no poder desde Fevereiro de 2021 fechou hoje um parêntese de relativa estabilidade política num país em constante sobressalto.

Após receber a carta de demissão, o Presidente Sergio Matarella "tomou nota" desta decisão mas disse que mantém Draghi interinamente no cargo para gerir os assuntos correntes até à chegada do seu sucessor.

Isto acontece cerca de uma semana depois de Draghi ter apresentado uma primeira vez a sua demissão que na altura foi recusada pelo Presidente que tinha a expectativa de que o chefe do governo ainda conseguisse colocar um ponto final nas lutas intestinas que dividiam o seu executivo cujo espectro abrangia a esquerda até à extrema-direita.

Ontem, Draghi foi submetido a um voto de confiança do parlamento. Apesar de ter obtido in extremis essa confiança, nomeadamente com os votos do centro e da esquerda, a votação foi boicotada pela ala direita da coligação, a 'Forza Italia' do Sílvio Berlusconi, o movimento populista '5 Estrelas' e a 'Liga', formação de extrema-direita de Matteo Salvini, com o fito -segundo observadores- de se enveredar para um cenário de legislativas antecipadas nas quais são dados como possíveis vencedores.

De acordo com uma sondagem do dia 18 de Julho, 'Fratelli d'Italia', um partido pós-fascista fundado em 2012, recolhe 24% de intenções de voto, à frente do partido de esquerda 'Partido Democrata' com 22%, sendo que a 'Liga' recolhe 14% de intenções de voto.

O doravante Presidente do Conselho demissionário recolhia a seu favor o prestígio internacional granjeado durante a época em que foi Presidente do Banco Central Europeu entre 2011 e 2019, uma confiança dos mercados que lhe foi útil quando chegou ao leme do seu país. A sua demissão teve por conseguinte o efeito imediato de fazer com que a Bolsa de Valores de Milão caísse mais de 2%.

Minada pela crise política, a terceira maior economia da zona Euro, já considerada como sendo um elo fraco na Europa, enfrenta um endividamento da ordem dos 150% do seu produto interno bruto, uma dívida pública duas vezes mais pesada do que a dos seus vizinhos.

Neste contexto pós-covid ao qual a Itália pagou um pesado tributo, o país continua à espera de beneficiar da sua fatia dos fundos prometidos pela União Europeia – 191 mil milhões de Euros em empréstimos e subsídios – mas esta salvação está condicionada a reformas, avisa a Comissão Europeia.

Resta saber agora concretamente o que se vai passar nas próximas semanas. Estima-se que o cenário mais provável seja que o Presidente Matarella dissolva o parlamento e que sejam organizadas eleições antecipadas nos 70 dias a seguir a essa dissolução.

Todavia, alguns factores dificultam o cumprimento desse calendário: o mandato do actual parlamento termina em 2023 e o orçamento do ano que vem deve ser apresentado em meados de Outubro, ou seja precisamente na altura em que poderiam ser organizadas as legislativas, no caso de se respeitar escrupulosamente o que está inscrito na lei.

Reagindo a esta situação, o comissário Europeu para a Economia, o italiano Paolo Gentiloni, também antigo chefe do governo seu país, qualificou de "irresponsáveis" os partidos que abandonaram Draghi. Também preocupada, a França considerou que a saída de cena deste "pilar da Europa" inaugura um "período de incertezas".

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