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Colagens não deixam morrer vítimas de feminicídios em Paris

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Ao longo do ano, várias ruas de Paris quebraram o silêncio de uma pandemia de que pouco se fala: a da violência doméstica. Um grupo de mulheres saía à noite para colar frases nas paredes a lembrar o nome de vítimas que morreram nas mãos dos companheiros. O confinamento obrigou muitas mulheres a aguentar a violência 24 sob 24 horas e neste Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres falámos com a activista Luísa Semedo que também foi para as ruas colar frases para lembrar as vítimas e alertar consciências.

Parede de uma rua em Paris em que se pode ler "Nem perdão, nem esquecimento". 30 de Agosto de 2019.
Parede de uma rua em Paris em que se pode ler "Nem perdão, nem esquecimento". 30 de Agosto de 2019. AFP - CHRISTOPHE ARCHAMBAULT
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12:55

Entrevista a Luísa Semedo

Neste Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres,a activista e professora de Filosofia Luísa Semedo fala-nos sobre a campanha de colagens de frases nas ruas de Paris e que se estenderam a várias outras cidades. O movimento feminista foi criado por uma lusodescendente, Marguerite Stern, para denunciar os feminicídios ou assassínios de mulheres pelos companheiros. Luísa Semedo associou-se ao colectivo e participou activamente nas colagens.

"No começo, era para dizer os nomes das mulheres que tinham sido mortas e que ou eram anónimas ou nós sabíamos o nome. A primeira que eu colei era anónima, tinha sido morta com um machado... Dizemos como é que a pessoa foi morta porque normalmente o feminicídio é bastante violento, não é uma morte simples, é fruto de métodos muito violentos, com armas, com fogo. É bastante terrível, mas como se passa entre quatro paredes ninguém vê e não saem cá para fora as imagens", conta. 

De acordo com Luísa Semedo, este ano, o número de mulheres assassinadas pelos companheiros ou ex-companheiros, até agora, é de 87 contra 146 no ano passado. Uma redução que se deve também "à força dos movimentos feministas para que isso aconteça". 

"É muito importante nestas lutas ver que há progresso porque vale a pena lutar para que algo mude", explica a activista, ainda que sublinhando que os números devem ser interpretados com cautela porque são "apenas a ponta do iceberg".

O primeiro confinamento em França, na Primavera, provocou um aumento de queixas de violência contra as mulheres e contra as crianças e as operações da polícia aumentaram 42% nesse período. Esta quarta-feira, em entrevista à agência Lusa, a ministra responsável pela pasta da Igualdade, Elisabeth Moreno, considerou que o confinamento foi um factor agravante na violência doméstica no país.

O Presidente Emmanuel Macron anunciou, esta terça-feira, que o segundo confinamento vai ser substituído por um recolher obrigatório a partir de 15 de Dezembro. Ou seja, até lá, vítimas e agressores vão continuar a viver dentro de quatro paredes e as mulheres vão também ser as principais vítimas da "crise social que aí vem".

Nesta conversa, Luísa Semedo, fala ainda sobre as imagens da violência policial em Paris contra um acampamento de migrantes e sobre a lei que vai passar a proibir a publicação de imagens desse tipo. Na sua opinião, em vez de combater a violência policial, o governo decidiu silenciá-la. Por ter participado em várias manifestações e assistido a cargas policiais, Luísa Semedo assegura que filmar a polícia foi, várias vezes, uma forma de conter as agressões. Algo que - alerta - o projecto de lei aprovado na Assembleia francesa esta terça-feira vai pôr em risco.

 

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