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COP26: "Os países ricos é que criaram este problema das mudanças climáticas"

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Os líderes mundiais vão comprometer-se hoje na cimeira do clima das Nações Unidas (COP26) a deter a desflorestação até 2030 para combater as alterações climáticas, notícia avançada pelo governo britânico. O encontro, que reúne milhares de especialistas, activistas e pelo menos 120 chefes de Estado e de governo, está a decorrer em Glasgow, na Escócia, até 12 de Novembro.

Participante da COP 26, no dia 31 de Outubro de 2021.
Participante da COP 26, no dia 31 de Outubro de 2021. AFP - ALAIN JOCARD
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Esta declaração conjunta relativa ao controlo da desflorestação vai ser adoptada por mais de 100 países, entre eles países onde se situam cerca de 85% das florestas mundiais, como, por exemplo, a floresta da bacia do Congo, um dos principais pulmões do planeta.

O Brasil e a Rússia estão entre os subscritores deste acordo, no entanto, têm sido acusados, nos últimos anos, de acelerarem a desflorestação nos seus territórios.

Apesar disso, o executivo brasileiro comprometeu-se esta segunda-feira, 01 de Novembro, a eliminar a desflorestação ilegal até 2028, dois anos antes da data anteriormente estipulada.

As florestas são essenciais à vida humana na terra, mas estão a desaparecer a um ritmo verdadeiramente alarmante, que corresponde a 27 estádios de futebol por minuto.

Dipti Bhatnagar da ONG Justiça Ambiental de Moçambique e Amigos da Terra Internacional defende que o horizonte temporal de 2030 é muito distante.

"É muito distante, mas esta declaração também não é nada nova. É uma repetição da declaração que já aconteceu em Nova Iorque há alguns anos", começou por referir, explicando que o problema reside no facto de se falar em compensações a nível climático.

"Estão a falar de compensações. Isto é um jogo do governo do Reino Unido e também de outros países e corporações transnacionais que querem este conceito de net 0, de 0 emissões líquidas e não querem reduzir emissões, querem compensar as emissões. É um avanço de soluções falsas", complementou Dipti Bhatnagar.

Para a também activista, a solução das alterações climáticas passa por "reduzir as emissões e parar com os combustíveis fósseis".

Dipti Bhatnagar recordou que a terra é usada por várias comunidades indígenas, que estão "a conservar estes ecossistemas".

Segundo a nossa interlocutora, a data de 2030 vai dar lugar a mais uma década de desflorestação e deu o exemplo concreto de Moçambique.

"Estamos a ver esta situação em Moçambique. Estamos a ver contentores de madeira a sair o tempo todo e os camiões são apanhados, mas a madeira já está cortada. Moçambique recebeu recentemente dinheiro para este esquema. As florestas de Moçambique estão a ser cortadas", lamentou.

Para a activista, este tipo de declaração "está a trazer monoculturas e plantações e não está a proteger as florestas nativas".

"O problema desta comunidade e destes esquemas é que é para fazer compensações e puxar este lado de net 0 e mercados de carbono", o que segundo Dipti Bhatnagar nunca vai ser bom "para a terra, para as florestas e para o povo".

A defensora ambiental defende ainda que foram os países ricos os causadores das alterações climáticas. 

"Os países do norte, os países ricos é que criaram este problema de mudanças climáticas, que agora está a afectar mais os nossos países do sul que não criaram este problema. Precisamos que os países do norte parem com os combustíveis fósseis, o que significa que têm de parar com os combustíveis fósseis nos países deles e não financiarem combustíveis fósseis nos nossos países", reforçou.

Dipti Bhatnagar falou ainda sobre um projecto de gás no norte do país, mais concretamente em Cabo Delgado, que envolve o governo do Reino Unido, a Galp de Portugal e os Estados Unidos da América. A especialista defende que os vários líderes mundiais estão na cimeira a discutir as alterações climáticas, mas salienta que estes não adoptam soluções reais para os problemas existentes.

Recorde-se que, segundo o relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, publicado em 2020, o planeta Terra já perdeu 178 milhões de hectares de floresta desde 1990, um número verdadeiramente alarmante.

Nos últimos anos, a taxa de abate de árvores tem aumentado subtancialmente. Seguindo a actual taxa de perda, 30% da floresta tropical desaparecerá até 2030 e todas as florestas primárias podem ser completamente devastadas até 2100, segundo dados avançados pela Global Forest Watch, plataforma online que contempla dados acerca da desflorestação a nível mundial.

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