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“Papa Francisco vai à RDC como peregrino da reconciliação”

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O Papa Francisco chega esta terça-feira, 31 de Janeiro,  a Kinshasa, na República Democrática do Congo, 37 anos depois da última viagem de um sumo pontífice ao país, com cerca de 52 milhões de católicos. O padre Celestino Epalanga, secretário-geral da Comissão Episcopal de Justiça e Paz da CEAST, em Angola, afirma que o Papa Francisco vai à RDC como "peregrino da reconciliação, paz e justiça".

O Papa Francisco chega esta terça-feira, 31 de Janeiro, à República Democrática do Congo, 37 depois da última viagem de um sumo pontífice ao país.
O Papa Francisco chega esta terça-feira, 31 de Janeiro, à República Democrática do Congo, 37 depois da última viagem de um sumo pontífice ao país. REUTERS/Gregorio Borgia/Pool
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RFI: Qual é a importância desta visita do Papa Francisco à República Democrática do Congo, um país onde vivem cerca de 52 milhões de católicos?

Padre Celestino Epalanga: É o país mais cristão de África. Talvez também o mais católico do continente. Trata-se de uma igreja muito forte, sobretudo no que diz respeito à justiça e à paz. É um país com muitos problemas, desde a sua independência, praticamente, nunca conheceu um momento de paz. Uma paz que possa conduzir a um desenvolvimento integral.

Na República Democrática do Congo, são várias as denúncias de que a “Igreja é perseguida” e que “ser-se cristão significa ser-se vítima de perseguição”. Qual será a mensagem do Papa Francisco para alterar esta realidade?

O Papa Francisco vai à RDC como peregrino da reconciliação, da justiça e da paz. Vai recordar que a missão de promover a reconciliação, a justiça e paz é de todos nós, aos jovens e mulheres. De todos os cristãos católicos.

Inicialmente, estava prevista uma deslocação do Papa Francisco a Goma, no Leste do país. No entanto, as recentes tensões, com as ofensivas do grupo armado M23, levaram ao cancelamento da visita. De que forma pode ainda o sumo pontífice chegar a esta população populações vítimas dos atentados?

Infelizmente, esta visita não será possível. Esta visita estava marcada para o ano passado, em Julho, mas não aconteceu. Por um lado, o estado de saúde do Santo Padre, mas também houve graves ameaças sobre a segurança do Papa.  

De que forma pode ainda o sumo pontífice chegar a esta população vítimas dos atentados?

Tem que se fazer, obviamente, através do Núncio apostólico e dos bispos para, de resto, poderem visitar e escutar estas populações.

O Papa Francisco poderá apresentar-se como mediador no conflito que opõe a RDC ao Ruanda, com as autoridades a acusarem Kigali de financiar o grupo rebelde M23?  

Uma das missões do Papa Francisco é, justamente, levar a reconciliação e a paz a todos os povos. Não haverá dificuldade nenhuma em oferecer-se para mediar este conflito. Tal como já o fez em outras ocasiões e em outras latitudes. O desejo dele é que os congoleses e os ruandeses cheguem a uma reconciliação. Que o povo martirizado do Leste do Congo conheça, de uma vez por todas, a paz e a tranquilidade.

O administrador principal da Província dos Missionários Combonianos na República Democrática do Congo, Marcelo de Oliveira, revelou, no ano passado, que os ataques são permanentes na zona do país onde “o cobalto é uma fonte de riqueza”. Marcelo de Oliveira acusou a comunidade internacional de nada fazer “pelo povo sofredor do Congo e de continuar a beneficiar das riquezas do país", enviando "armas para poder manter a desordem e assim facilmente continuar a roubar". Qual é o papel da igreja? É o da denúncia?

Eu faço parte de uma plataforma inter-religiosa que é a Dignidade e Paz nos Grandes Lagos. Criámos esta plataforma em 2019, em Genebra, e [nas nossas investigações] constatamos isso. Existem actores estranhos que alimentam este conflito, justamente por causa destes recursos naturais. Cria-se uma situação de desordem, para que cada um possa vir e possa extrair a quantidade de recursos que quiser.

Esta situação não beneficia apenas a comunidade internacional. Eu já afirmei que há uma mão, visível ou invisível, das autoridades de Kinshasa, sobretudo durante o “reinado” de Joseph Kabila. Ele nunca se preocupou com a situação do leste da República Democrática do Congo.

 Esta situação está também a ser minimizada pelo actual chefe de Estado Félix Tshisekedi?

Não. Félix Tshisekedi parece que tem estado a tentar fazer alguma coisa. É a primeira vez que existe uma vontade política de fazer essa viragem. Não sei como explicar este posicionamento. Poderá haver outros actores, que, entraram em jogo e que estejam a interpelar o Presidente Tshisekedi, no sentido de fazer alguma coisa para acabar com esta desordem no leste do país.

Esta visita acontece alguns meses antes das eleições presidenciais de Dezembro. Presidente Félix Tshisekedi pode estar a tentar mobilizar o eleitorado católico?

Não sei. Há uma espécie de tréguas, justamente por causa da visita do Papa Francisco, entre a igreja católica e o Presidente Tshisekedi, ou o partido no poder. A igreja católica sente-se traída. Durante muito tempo apoiou, não tanto o partido como tal, mas os ideais e o desejo de ver um Congo mais democrático, normal. Todavia, parece-me que o poder mudou essa perspectiva. Houve várias clivagens entre a igreja católica e o Presidente Tshisekedi. Essas clivagens foram suspensas a partir do momento em que o Papa Francisco anunciou a sua visita àRDC. Resta saber se, depois desta visita, essas clivagens vão surgir. Pode ser que o Presidente Félix Tshisekedi reveja a sua atitude e assim ganhe a simpatia dos católicos.

 

A comunidade Homossexual na RDC é muitas vezes obrigada a viver na clandestinidade. As recentes declarações do Papa Francisco, considerando a homossexualidade um pecado, não estarão ainda mais a expor esta comunidade que já vive tão ostracizada?

Na igreja católica temos uma doutrina, segundo a qual, o sexo antes do matrimónio é pecado. Ele [Papa Francisco] diz que esta doutrina deve servir para todos. Ele não está a condenar os homossexuais. Está a condenar a prática da homossexualidade. Mas onde está o problema? O problema está no facto do direito canónico, a igreja, reconhecer o matrimónio entre um homem e uma mulher e, ainda, não reconhecer o casamento entre homossexuais. Ou, seja os homossexuais vão ter sempre este problema. Penso que o Papa Francisco não quer diabolizar ninguém. Não está a chamar o acto de “pecaminoso”, mas os homossexuais são, e o Papa os considera como, filhos e filhas de Deus.

 

 

 

 

 

 

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