Falta de igualdade de género na Igreja leva a "desinteresse" dos jovens
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Ouvir - 09:13
Maria João Sande Lemos é fundadora do movimento "Nós somos Igreja" que defende um maior papel para as mulheres na Igreja Católica, incluindo a ordenação. Para esta activista, as mulheres só terão igualdade na hierarquia no Vaticano quando o celibato obrigatório dos padres acabar.
A mulher que quer paz, a mulher do lar e a mulher como base da Igreja Católica têm sido referenciadas pelo Papa Francisco em Lisboa, durante a Jornada Mundial da Juventude. No entanto, Maria João Sande Lemos considera há vários anos que a mulher deve ser mais do que isso, defendendo a ordenação das mulheres e maior participação feminina nos lugares de destaque do Vatica.
"O Papa Francisco fez alguns esforços, de pôr leigas no Conselho Sinodal, mas muito poucas. Eu acho que o problema das mulheres na Igreja só se resolve com o fim do celibato obrigatório e enquanto a Igreja Católica não resolver o problema das mulheres na Igreja eu vejo com muita dificuldade o crescimento da Igreja", defendeu Maria João Sande Lemos em entrevista à RFI.
Sem igualdade, esta católica questiona como é que as raparigas e mulheres vão continuar a frequentar a Igreja e acreditar num instituição que só promove homens, especialmente num momento em que se pede que a juventude se mobilize.
"A JMJ correu muito bem, mas se formos ver o desinteresse dos jovens é muito grande, porque os jovens não se revêem. Como é que as raparigas e as mulheres se vão rever? É só olhar para o palco na Jornada. Aqueles cardeais todos, aqueles homens todos vestidos de branco. Onde está a representatitividade das mulheres? Quando as mulheres são a pedra angular do funcionamento da Igreja e sentimos uma grande revolta. É uma coisa horrível", declarou.
Para esta mulher política, que esteve na fundação do PSD e trabalhou na Comissão para a Igualdade dos Direitos das Mulheres portuguesa, tendo participado em conferências da ONU sobre o tema, a Igreja tem dado "um péssimo exemplos.
"Era uma grande ajuda [mais igualdade na Igreja] até para as mulheres europeias, que supostamente estamos mais avançadas [nos nossos direitos], mas depois há este tropeço da Igreja Católica que dá um péssimo exemplo. Não se explica esta segregação machista? Até porque isto é ao arrepio dos fundamentos da Igreja, as primeiras comunidades eram lideradas por mulheres. Era nas casas delas que se faziam as coisas", explicou.
O facto de as mulheres terem um papel reduzido na Igreja acabou por influenciar ao longo do tempo outras estruturas da sociedade, levando a um apagamento da história, segundo esta activista.
"As mulheres foram apagadíssimas da História. Houve rainhas que foram relevantes, mas o facto de a Igreja Católica que era predominante ser de tal maneira misógina que alastrou para as administrações púbicas e mesmo que os Governos façam um esforço, a IGreja Católica não está a caminhar nesse sentido", concluiu.
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