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Taiwan: Vitória de Lai Ching-te "será o pior cenário para Xi Jinping"

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Taiwan realiza eleições presidenciais e legislativas neste sábado, 13 de Janeiro. Para o lugar de Presidente estão três candidatos e, segundo as sondagens, o actual vice-presidente, Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista é o favorito. Em causa está a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, mas as questões económicas também vão ditar as escolhas dos eleitores, reconhece Carlos Gaspar, Investigador do Instituto de Relações Internacionais.

Taiwan realiza eleições presidenciais e legislativas neste sábado. Para o lugar de Presidente estão três candidatos, o actual vice-presidente, Lai Ching-te, do Par-tido Democrático Progressista é, segundo as sondagens, o grande favorito.
Taiwan realiza eleições presidenciais e legislativas neste sábado. Para o lugar de Presidente estão três candidatos, o actual vice-presidente, Lai Ching-te, do Par-tido Democrático Progressista é, segundo as sondagens, o grande favorito. AFP - SAM YEH
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RFI: Nestas eleições, a questão da China não é o único elefante branco a ocupar a sala. Há ainda questões económicas, com o aumento do custo de vida, associado ao elevado preço da habitação. De que forma estas questões poderão influenciar a votação dos mais jovens?

Carlos Gaspar, investigador do Instituto de Relações Internacionais: Têm, com certeza, os efeitos normais que tem qualquer democracia pluralista. Taiwan é uma democracia consolidada e, portanto, nas eleições, essas múltiplas dimensões jogam. As questões internas são sempre as mais importantes numa eleição democrática. A questão da China não é uma questão interna para Taiwan, trata-se de uma questão externa. A República Popular da China deixou, não só de ter amigos em Taiwan, mas a esmagadora maioria dos eleitores identificam-se com taiwanêses e não como chineses.

De acordo com as sondagens, a maioria da população é favorável à manutenção do Status Quo, ou seja, nem independência nem reunificação. Esta é uma das propostas do actual vice-presidente, Lai Ching-te, do Partido Progressista Democrático, favorito na corrida, que promete, entre outros, o apoio "inabalável" à manutenção do status quo no Estreito de Taiwan. Esta é a solução?

Certamente, é a posição que os Estados Unidos e a União Europeia preferem, mas que entre em choque com a posição da República Popular da China. A China suspeita, não sem uma parte de razão, que o candidato presidencial do Partido Democrático Progressista- independentemente das suas tomadas de posições formais- dirige um partido que é fortemente a favor da independência de Taiwan. Neste partido existem correntes políticas fortes que querem formalizar a independência, a separação entre Taiwan e a República Popular da China. Ou seja, a transformação de Taiwan num Estado normal como qualquer outro. A possibilidade dessa posição ganhar terreno é o maior pesadelo para a China.

Num caso de vitória do candidato presidencial, Lai Ching-te, esse resultado poderá ser visto por Pequim como uma humilhação? Xi Jinping repetiu na mensagem de ano novo que a reunificação será inevitável.

A reunificação será, com certeza, inevitável. A questão é saber quando é que ela se irá realizar. A reunificação com Taiwan é uma prioridade de todos os dirigentes do regime comunista, defendida desde o tempo de Mao Tsé-Tung, mas que tem sido adiada sucessivamente. Designadamente, porque existe uma garantia implícita dos Estados Unidos a Taiwan contra uma tentativa chinesa de mudar pela força o status quo. Obviamente que uma vitória do candidato do Partido Democrático Progressista será o pior cenário possível para Xi Jinping e para a direcção do Partido Comunista.

Para além das retaliações militares e económicas, Pequim poderá servir-se do direito, adoptando leis que visem punir cidadãos taiwaneses, vistos pelas autoridades como separatistas?

Com certeza que pode sancionar cidadãos,  de Taiwan em particular, embora isso não tenha um grande efeito. Pelo menos até agora, essas sanções nunca tiveram qualquer efeito significativo, designadamente para as relações económicas entre Taiwan e China. Há um número importante, dezenas de milhares de taiwaneses, que trabalham na China e vivem em Taiwan.  Isso é importante, desde logo, porque é um laço entre a China e Taiwan. Cortar os laços- humanas económicos- é obviamente contra-producente.

Pequim instou os taiwaneses a não votarem em Lai Ching-te. Este acto de ingerência poderá favorecer o candidato o Kuomintang, principal partido da oposição, Hou Yu-ih e favorável à aproximação com Pequim?

Eu acho que as tomadas de posição de Pequim não têm nenhum efeito na eleição interna de Taiwan e isso é problema para a China. As autoridades apercebem-se que as suas posições não têm eco na comunidade política taiwanesa, que tem a sua própria agenda, os seus próprios problemas e que olha para a República Popular da China como uma ameaça distante, mais do que como um jogador activo, relevante na política interna de Taiwan.

O terceiro candidato surpresa, Ko Wen-je, do partido popular Partido do Povo Taiwanês, ex-presidente de Taipei, pretende fortalecer as capacidades de autodefesa da ilha para que Pequim entenda que uma guerra "tem um preço alto". Trata-se de um candidato muito presente nas redes sociais e muito próximo dos jovens. Que hipóteses tem este candidato nesta eleição presidencial?

[Ko Wen-je] foi presidente da Câmara de Taipé, com o prestígio, e tem esse eco. Porém, todos os candidatos defendem que Taiwan deve aumentar a capacidade de defesa, perante a pressão estratégica, constante, da República Popular da China- que é o único efeito que tem na campanha eleitoral. Na vida dos taiwaneses estão as várias demonstrações de força militar que faz à volta da ilha, no espaço aéreo e marítimo.

Ko Wen-je poderá, de certa forma, destacar-se junto dos mais jovens?

É possível que sim. Todavia, as sondagens indicam que o candidato do Partido Democrático Progressista está à frente. Lai Ching-te tem uma posição política mais consistente. O Partido Democrático conseguiu quebrar o isolamento de Taiwan, apesar de todos os esforços da República Popular da China. Taiwan, hoje em dia, é reconhecido como uma democracia por outras democracias, designadamente da Europa Ocidental. Há múltiplas delegações parlamentares que partem para Taiwan, manifestando o reconhecimento da ilha como uma democracia. Essa dimensão, julgo ser importante, pode fazer a diferença na competição presidencial. Refiro-me à dimensão diplomática e ao  reconhecimento internacional. O fim do isolamento perigoso de Taiwan é muito evidente desde o início da guerra na Ucrânia. Taiwan ganhou um outro estatuto internacional.

Que impacto terão estas eleições entre as relações China e EUA?

Na eventualidade do Partido Democrático Progressista ganhar a eleição presidencial, como indicam as sondagens, de certa maneira e ironicamente, a China vai precisar mais dos Estados Unidos. Isto porque, nesse contexto, os Estados Unidos, tal como a União Europeia, são a favor do status quo. Esse status quo também implica impedir as autoridades e os partidos de Taiwan de declararem ou realizarem um referendo sobre a independência. O status quo é o mesmo para Pequim e para Taipé.  

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