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Anna Setton promete um “futuro mais bonito"

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Em tempos conturbados, a cantautora brasileira Anna Setton acredita que “O futuro é mais bonito” e fez questão de assim baptizar o novo disco. O álbum tem como ADN a Música Popular Brasileira, cruzada com as lembranças de clubes de jazz onde actuou e com outros registos mais contemporâneos, mas as letras têm Portugal como inspiração. “O futuro é mais bonito” vai ser apresentado no Studio de L'Hermitage, em Paris, a 18 de Abril, e em Lisboa, Bruxelas e Madrid também em Abril.

Capa do novo álbum de Anna Setton
Capa do novo álbum de Anna Setton © Anna Setton
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RFI: “’O futuro é mais bonito’. Porquê?”

Anna Setton, Cantora:“Este álbum foi um álbum que eu fiz em 2022, ano que eu me mudei para Portugal. É um álbum que nasceu desse espírito de mudança que eu estava vivendo na minha vida. Mudar de país, com novos ares, novos objectivos. Foi um álbum onde eu quis experimentar coisas diferentes e estava olhando muito para o futuro, para esse sentido de mudança e movimento da vida.

Então, acho que falar de futuro e esperar um futuro mais bonito, teve muito a ver com essa percepção que eu estava tendo desse eterno ritmo de mudança que a vida tem. Às vezes, numa vida quotidiana, onde a gente não está fazendo grandes transformações, a gente não percebe, mas está o tempo inteiro se transformando e a gente tem esse convite para poder fazer diferente, para poder fazer melhor e esperar que o futuro seja melhor.”

“A escrita das letras, a composição dos temas também foram feitas em Portugal?”

“Foi. Todas as letras foram escritas no ano passado, em 2022. Eu já estava em Portugal e essa canção, por exemplo, é uma parceria com Igor de Carvalho que é um compositor de Recife e ele me mandou um pedacinho da letra já pronta e a ideia da canção, e eu desenvolvi junto com ele essa letra, mas todas as outras foram feitas sob a inspiração do céu e da energia toda de Portugal.”

“Canta a saudade, o amor. Fale-nos um pouco daquilo que a motivou a escrever.”

“É um álbum leve, no geral. Eu acho que ele traz uma leveza nos temas das composições, não só nas letras, mas também na música, em todo o ritmo e toda a história dele. Queria fazer um álbum assim, que fosse uma coisa positiva, que trouxesse esse sentimento de coisas positivas para as pessoas que escutassem. Mas eu acho que a leveza que eu vivenciei em Portugal, no ano passado, apesar de todas as dificuldades de quando você muda de país e é um estrangeiro logo no início, mas é um país que nos recebeu muito bem.

Eu mudei-me com a minha filha e o meu marido e nós os três fomos bem recebidos e acho que tem uma leveza lá. As letras foram todas escritas entre a Primavera e o Verão, então eu acho que aquele clima todo me inspirou. E é um álbum que fala de amor, tem várias canções que falam de amor, é um álbum que fala de saudade, fala de encontros, fala desse movimento da vida. Eu acho que tudo isso eram temas que eu estava, de alguma forma, respirando.”

“Também fala de mar, de vento, de água, de terra. É um disco muito sinestésico, sensual… Foram elementos que também a inspiraram?”

“Sim. São elementos todos muito fortes em Portugal. O vento, o céu azul, aquele mar. Eu vivo na costa, vivo pertinho de Lisboa, bem perto do mar e aquilo tudo esteve bastante perto de mim.”

“O disco é uma grande homenagem à Música Popular Brasileira. Em termos musicais, como é que descreve este trabalho?”

“Este é o meu terceiro álbum. O primeiro e o segundo foram álbuns, de alguma forma, mais clássicos da música brasileira. Eu comecei a cantar em clubes de jazz no Brasil. O meu primeiro álbum tem muito essa influência jazzística dentro da canção, da MPB, mas foi gravado por um quarteto, músicos excelentes da cena de jazz do Brasil.

O meu segundo álbum é uma homenagem a canções brasileiras muito conhecidas, são as minhas leituras para grandes temas, essencialmente grandes temas brasileiros. Para este terceiro álbum, eu queria fazer alguma coisa onde eu mesclasse essa minha bagagem dessa MPB mais clássica, e até do jazz, com elementos mais contemporâneos, com atmosferas mais pop, mais dessa cena contemporânea e fui atrás disso. Convidei dois produtores de Recife.”

“Quem é que são eles?”

“Barro e Guilherme de Assis. Conheci o Barro durante a pandemia e a gente já vinha conversando sobre essa ideia de fazer um álbum que trouxesse para a minha MPB, para essa minha herança, para esse meu DNA, coisas contemporâneas, timbres, alguns ‘beats’, tudo de uma forma suave, mas que pudesse trazer esse frescor para essa música brasileira. E aí convidei para participar, para fazer, para produzir comigo e ele topou. Trouxe o Guilherme de Assis e a gente gravou o álbum todo em Recife. Foi muito interessante, com músicos dali, parceiros dele, todo um ‘network’ diferente do que eu já havia trabalhado antes porque eu sou de São Paulo. Então, diferente.”

“Agora vai tocar aqui em Paris no Studio de l’Hermitage. Quais é que são as suas expectativas com Paris e com o mercado francês?”

“São as melhores! Eu já vim tocar aqui em 2019, apresentar meu primeiro disco e foi muito bom. Acho que vai ser muito bom de novo. A sala, o Studio de l’Hermitage, é uma sala que eu estou com muita vontade de conhecer e de tocar, só ouvi coisas boas, e acho que vai ser muito bom. Acho que as pessoas vão gostar muito.”

“Há bocado estava a falar-nos do seu percurso. Gravou o primeiro disco em 2018, intitulado ‘Anna Setton’. E foi a cantar em clubes de jazz que foi descoberta. Quer contar-nos essa história?”

“Sim, comecei a cantar em clubes de jazz. Numa dessas noites, eu estava lá cantando e o Toquinho, um grande artista, cantor brasileiro, foi assistir. Um amigo dele tinha dito que havia uma cantora que cantava lá e que ele ia gostar. Ele foi e sentou-se bem perto de mim. Eu estava tocando, o bar não era muito grande e ele sentou do lado da bateria, perto do palco. Ficaram assistindo a noite inteira a todos os ‘sets’, a todas as entradas e, no final, me convidaram para participar num ‘show’ muito grande, para 2.000 pessoas no teatro. Eu naquela altura nem acreditei. Falei ‘Isso é coisa de filme! Às duas da manhã, alguém me convidar para participar num ‘show’, amanhã ninguém me vai telefonar!’. Passei meu telefone, achando que era papo de jazz, mas, no dia seguinte...”

“O futuro foi mais bonito...”

[Risos] “Ligaram-me e e eu fiz esse ‘show’, o primeiro ‘show’ com ele. Dali, deu certo a nossa parceria. Ele gostou, convidou-me para gravar duas canções no álbum que ele estava finalizando naquele ano. Depois disso, foram quase cinco anos de parceria, viajando, fazendo ‘tournés’, foi uma experiência muito rica e muito positiva. Gostei muito. Isso foi entre 2010 e 2015. Depois desse período grande, resolvi que queria gravar o meu primeiro álbum e gravei em 2018. Viajei um pouco com ele, apresentei-o em alguns lugares e aí veio a pandemia.”

“Nessa altura, houve um outro tipo de concertos, os concertos ‘online’. Conte-nos porque é que quis partilhar a sua música com as outras pessoas que estavam confinadas e que daria origem ao seu segundo disco.”

“Foi uma coisa não planeada. A pandemia pegou todo o mundo de surpresa. Eu estava em casa e lembro-me que começou esse papo das pessoas nas redes sociais a fazerem ‘lives’ e eu falei ‘Vou experimentar fazer uma’, absolutamente despretensiosa. Fiz, foi muito divertido para mim e as pessoas gostaram muito. Falaram: ‘Faz de novo, faz de novo’. Aí eu fiz na semana seguinte, marquei uma agenda e todas as semanas, não me lembro se era terça ou quarta-feira, eu fazia ‘live’. Foi interessante porque, no começo, eu trazia as canções que já me acompanhavam, canções do meu primeiro álbum, outras canções que eu gostava de tocar e, ao longo desse processo, as pessoas falavam: ‘Você conhece aquela?’ e todas as canções da música brasileira que eu conhecia.”

“Foi um processo colaborativo, então?”

“Sim, as pessoas sugeriam e eu preparava para a semana que vem. Aprendia, tocava música e aquilo virou um encontro semanal que, para mim, foi muito bom porque eu visitei todas essas canções e estava em contacto com o público. Para as pessoas também foi muito bom, eu recebia muitas mensagens das pessoas dizendo como essa companhia, nos piores momentos da pandemia, era muito boa, ajudava muito as pessoas.”

“E daًí surge o disco “Onde Mora meu Coração”.

"Isso, foi a inspiração para o meu segundo álbum, que foi um álbum onde eu me voltei para essas canções que eu gosto muito, que é onde o meu coração mora, nesse berço sobretudo da MPB. Fiz esse álbum com voz e violão, homenageando essas grandes canções. Daí nasceu "Onde Mora meu Coração'."

“Depois de Paris, no Studio de L’Hermitage, o que é que se segue?”

“Antes de Paris, a gente faz o lançamento do álbum em Lisboa, no CCB, no dia 13 [de Abril]. Estão todos convidados para virem. Depois, a gente vai para Bruxelas e para Madrid nessa primeira ‘tour’ de Abril. No Verão, com certeza, estaremos em outros lugares.”

“Para terminar, num período de pós-pandemia e de algum cinismo, o que é que a sua música tem para realmente acreditarmos que ‘O futuro é mais bonito’?”

“Eu acho que a gente tem que acreditar na humanidade, apesar de tudo, apesar das guerras e de tantos desencontros e de tantas coisas que a gente vê errado. Eu acho que a gente precisa, sim, de denunciar tudo que está errado e a gente precisa de acreditar que a gente vai conseguir mudar.

Então, eu acho que ao cantar e ao fazer música, eu sou uma porta-voz de energias boas, de alguma forma, espalhar amor e sentimentos positivos para as pessoas. Eu me vejo como uma mensageira nesse sentido de trazer amor para as pessoas, afecto. Então, é nesse sentido que eu acho que é a minha missão, que é o meu dever com a música.”

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