Paris e Florença querem aliança de teatros europeus e africanos
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O Théâtre de la Ville, em Paris, e o Teatro della Pergola, em Florença, querem dinamizar as trocas entre os teatros europeus e africanos. O projecto tem juntado profissionais de vários países, incluindo de Angola, que vai refazer “consultas poéticas” em Setembro e deverá ter um festival com participantes europeus e africanos em 2024.
Cerca de um ano depois de o Théâtre de la Ville, em Paris, e o Teatro della Pergola, em Florença, terem lançado o projecto “Nova Aliança de Teatros Europeus”, a iniciativa começou a integrar companhias africanas. Em Janeiro de 2023, a experiência foi reforçada com um programa de formação de actores. O mês de Maio foi palco de encontros, em Florença e em Paris, entre profissionais dos dois continentes para criar projectos comuns e quebrar fronteiras e estereótipos.
Em Paris, as mesas-redondas e encontros aconteceram no âmbito do festival Chantiers d’Europe, promovido pelo Théâtre de la Ville. Emmanuel Demarcy-Mota, director deste espaço, explica que se tenta “reinventar uma cooperação” com o teatro africano e com uma “nova geração” de artistas, nomeadamente em torno da questão de “o que é ser um actor neste século XXI”. Ainda assim, o encenador lembra que o projecto se inspira “nas relações que foram criadas a partir dos anos 70”, nomeadamente com o trabalho do britânico Peter Brook no continente africano, em que participou, também, o português João Mota.
Paralelamente, em 2020, o Théâtre de la Ville lançou a chamada "Trupe do Imaginário" para se fazerem “consultas poéticas, musicais e dançadas”. O projecto começou durante a pandemia como uma forma de ajudar e remunerar profissionais de um sector altamente afectado pela crise sanitária e conta, hoje, com uma centena de artistas a fazerem essas “consultas poéticas” em 25 línguas e em vários países. Além de várias estruturas na Europa, a trupe tem companhias de uma dezena de países africanos, nomeadamente Angola. Ngau Tchiama Diakusekele, directora da companhia angolana de artes “Ngau Moyo Arte e Cultura”, conta que em Setembro, Luanda vai ter novamente “consultas poéticas”, depois de uma primeira edição em Dezembro. Por outro lado, está a ser preparado, para 2024, um festival de teatro com participantes europeus e africanos.
Ver o mundo de um ponto de vista africano e descentralizar os discursos e as práticas da criação artística é um dos desafios de uma eventual aliança entre teatros europeus e africanos. A trabalhar nesse sentido está a bissau-guineense Elizabeth Gomis que, no final de 2024, sob a alçada do governo francês, espera ter pronta a "Maison des Mondes Africains" [« Casa dos Mundos Africanos »] em Paris. A ideia surgiu da constatação que “a França é o país europeu que tem a maior diáspora africana”, mas “não há nenhum local para unir, para celebrar e para lembrar”.
“Vai haver uma programação pluridisciplinar, com destaque para as artes, porque sabemos que há uma arte contemporânea africana muito forte e que não está nos programas escolares. O angolano Binelde Hyrcan contou-me que estudou aqui [França] e quando quis tratar de temas africanos, os professores não quiseram e ele disse que tem um ponto de vista africano e angolano, não vai estudar um artista contemporâneo clássico europeu. Ou seja, temos de tratar do ensino, da memória e ter uma programação pluridisciplinar, que contemple também o cinema. Temos a Cinemateca África que são mais de 1700 filmes africanos guardados no Instituto Francês, mas estes filmes devem ser mostrados porque são o património de todo o continente e queremos colaborar com esses países”, explicou Elizabeth Gomis.
Reportagem no Théâtre de la Ville a 22 de Maio de 2023
(Reportagem áudio com excertos da música “Bloodflow” de Grandbrothers)
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