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Angola

Agressão da esposa de um jornalista crítico em relação ao executivo angolano

A sociedade civil angolana alertou que ontem a esposa de Cláudio Pinto, jornalista da Rádio Despertar -órgão considerado próximo da Unita na oposição- foi espancada e ferida com arma branca nos dois braços dentro de casa, nas imediações de Luanda, por homens não identificados. De acordo com o marido, jornalista conhecido pelas suas críticas à acção do governo, os autores da agressão teriam por intuito silenciá-lo, estes últimos tendo deixado uma mensagem referindo que se tratou de um "aviso".

Cláudio Pinto, jornalista da Rádio Despertar
Cláudio Pinto, jornalista da Rádio Despertar © Facebook
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De acordo com o activista angolano Dito Dali que esteve em contacto com o jornalista, "agentes não identificados -mas ele (Cláudio Pinto) alega que são agentes dos serviços de inteligência- usaram uma chave profissional e entraram no interior da casa, encontraram a esposa e começaram a brutalizar. Os mesmos informaram a esposa que fizeram aquela acção para que o marido dela se calasse e deixaram uma carta, carta essa que não está disponível ao público".

Da conversa com o jornalista Cláudio Pinto, o militante sublinha ainda que este último está convencido de que os autores da agressão pertencem aos serviços de inteligência nomeadamente devido às circunstâncias e ao método utilizado na ocorrência. "Primeiro, ele disse que tinha recebido chamadas anónimas com ameaças de que se não parasse de criticar o regime, poderia se surpreender e acredito que 'a surpresa' era essa. Segundo, a forma como eles entraram no interior da casa, só podem ser os serviços secretos, só eles é que têm a técnica para entrar numa casa sem deixar rasto. Não levaram nada. A única missão deles era mesmo estrangular a esposa ou a família do jornalista com o objectivo de atingir esse jornalista."

Ao confirmar que há uma queixa-crime para averiguar o que está por detrás desta agressão, Dito Dali refere que a família está em choque, que "a esposa está a receber a assistência de psicólogos" e que "o jornalista neste momento nem está a conseguir sair de casa para ir trabalhar. Tem prestado todo o apoio e ajuda possível à mulher."

Embora refira acreditar que "as autoridades vão investigar esse caso", o activista comenta que se vive actualmente "um momento de terror porque temos um governo ilegitimo e esse regime ilegítimo acha que para se afirmar, é necessário usar a violência. Nós vivemos num ambiente tenebroso. Os activistas cívicos são constantemente detidos e espancados".

Para além do caso envolvendo a família do jornalista da rádio despertar, Dito Dali dá conta de outros casos do mesmo teor, nomeadamente a situação de uma jornalista da Rádio Ecclesia. "Tenho informações sobretudo sobre Esmeralda Chiyaka, jornalista da rádio Ecclesia, que tem feito um trabalho excelente e que tem sido ameaçada constantemente. Escrevem textos no Facebook, associam o trabalho dela à Unita, ela não é militante da Unita, deixam-lhe aviso que 'se ela continuar, terá um destino impróprio'. Isso tem sido recorrente. Desde o momento em que Angola convocou a realização das quintas eleições que aconteceram a 24 de Agosto, a jornalista tem estado a sofrer essa perseguição. Na verdade, esse é o ambiente em que nós vivemos aqui. Nos últimos dois anos, não morreu nenhum jornalista, mas não deixaram de espancar jornalistas. E essas intimidações todas que fazem contra os jornalistas, é para ver se conseguem dissuadir os jornalistas de exercer a sua profissão".

Isto sucede no momento em que Mário de Oliveira, ministro das telecomunicações, tecnologias de informação e comunicação social de Angola que acaba de tomar posse na segunda-feira, disse ser aberto às críticas designadamente sobre a actuação dos órgãos públicos. "Esta mensagem é simplesmente para o 'boi dormir', porque aceitar ou estar aberto às críticas, é despartidarizar a comunicação social de Angola", considera Dito Dali que ao qualificar de "desastroso" o desempenho da comunicação social de Angola, argumenta que "não existe contraditório, o regime usa e abusa destes meios públicos para perseguir e atacar a oposição. Não existe abertura aí. Então se ele diz que está aberto às críticas, ele tem que abrir, tem que despartidarizar a TPA, a televisão e os jornais públicos, para dar voz às outras pessoas que não fazem parte do regime."

Evocando a perspectiva da manifestação pela cidadania convocada pela Unita para o sábado 24 de Setembro, o militante recorda que "a manifestação está prevista na Constituição da República de Angola, no seu artigo 47°. Qualquer cidadão, organizações cívicas ou políticas têm o direito de sair à rua para manifestar o descontentamento ou repudiar qualquer acção que tenha sido cometida pelo regime. A Marcha pela cidadania, pela liberdade e pela despartidarização das instituições, eu acredito que tomaram uma boa iniciativa. Esperamos que o governo faça respeitar as leis, cumpra com a constituição, não persiga ninguém. Não precisa de brutalizar ninguém, é um direito que assiste a todos nós, é um exercício normal da democracia. Infelizmente, nas ditaduras, encontramos obstáculos e resistências à mudança", conclui o activista.

Refira-se ainda que Angola acaba de vivenciar um processo eleitoral marcado pela contestação da vitória do MPLA com um pouco mais de 51% dos votos face aos seus mais directos adversários da Unita que obtiveram quase 44% dos votos. Tanto o principal partido de oposição, como organizações da sociedade civil, têm denunciado fraudes, detenções e tentativas de intimidação contra quem coloca em dúvida a transparência e isenção do pleito. 

Foi neste contexto tenso que João Lourenço tomo posse na passada quinta-feira para um segundo mandato como Presidente da República, tendo sido empossados os novos deputados no dia seguinte e o novo governo nesta segunda-feira.

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