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Jason James Santos: “Medidas de Pequim acabam por aniquilar veleidades dos manifestantes”

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A China deu mais um passo para manter a segurança nacional em Hong Kong: nesta quarta-feira foi inaugurado o Gabinete de Salvaguarda da Segurança Nacional, escritório que vai apoiar o Executivo do desta região pertencente ao poder chinês.

Inauguração do Gabinete de Salvaguarda da Segurança Nacional em Hong Kong.
Inauguração do Gabinete de Salvaguarda da Segurança Nacional em Hong Kong. © VIA REUTERS - HONG KONG INFORMATION SERVICES
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Este Gabinete vem dar uma certa continuidade às medidas implementadas recentemente neste território asiático para controlar os manifestantes e os protestos contra a China, com pedidos de independência ou de desconfiança perante o poder central.

Para Jason James Santos, professor português no secundário a trabalhar em Hong Kong, estas medidas eram previsíveis, no entanto realça que ainda é necessário algum tempo para perceber o trabalho que vai ser realizado pelo Gabinete de Salvaguarda da Segurança Nacional.

Ainda é muito cedo para termos uma ideia bem clara daquilo que virá deste gabinete e da acção deste gabinete. Neste momento ainda continuamos muito às escuras. O texto já saiu, esta lei que foi passada já saiu, mas tem havido discussões sobre a tradução para inglês. A tradução em inglês não é exactamente a mesma, já houve advogados e analistas que olharam para a tradução e que levantam algumas questões em relação àquilo que realmente está dito na lei. Portanto enquanto não tivermos uma noção clara daquilo que a lei diz, e enquanto não dermos tempo para ver até que ponto haverá realmente algum tipo de acção assim mais directa por parte deste gabinete, nós por enquanto continuamos às escuras. Há pessoas mais preocupadas do que outras mas isso também depende bastante da sua posição política”, afirmou o professor de inglês, que revelou que a sociedade nesse território asiático está completamente dividida:A sociedade em Hong Kong está bastante polarizada […] e eu atrever-me-ia a dizer que não existe quase ninguém que esteja assim num campo neutro. Temos o campo das pessoas que abominam a lei, e o campo dos defensores que estão completamente de acordo”.

Jason James Santos admitiu que a situação estava complicada em Hong Kong e não foi surpreendente ver uma intervenção firme da China: “De uma forma geral tivemos seis meses de manifestações, tivemos seis meses de muito caos, muitas interrupções à vida normal. Fomos apanhados de surpresa com a rapidez com que o texto apareceu e foi publicado. Eu acho que era absolutamente previsível que Pequim tomasse uma medida porque estávamos num impasse porque o Governo local de Hong Kong parecia estar completamente preso, isto também do lado dos manifestantes. Era um impasse bastante negativo. Há muitas pessoas que não têm qualquer confiança no Governo. E do outro lado temos manifestantes que já tinham partido praticamente tudo o que podiam partir, já tinham feito as incursões que tinham a fazer e estávamos nesse ponto morto. Algo tinha que acontecer. Que eles tenham tomado uma decisão bastante radical não me parece uma surpresa, era apenas uma questão de tempo até que saísse uma medida mais pró-activa do lado de Pequim. Tivemos manifestações muito violentas, tivemos uma acção policial bastante violenta e tudo estava relacionado com esta ideia de independência. Uma parte, percebe-se por que é que foi esta lei que implementaram”.

A lei essa acabou por aniquilar as veleidades dos manifestantes como testemunhou o professor português: “Passados poucos dias depois da promulgação desta lei, toda a gente ou quase toda a gente que publicou fosse o que fosse nas redes sociais sobre esta questão, apagaram tudo. Pessoas que por exemplo usavam determinadas peças de roupa para mostrar solidariedade com os manifestantes, etc, tudo isto desapareceu. As pessoas estão a viver num clima de medo porque não sabem o que vai daqui sair. A nível de manifestações e de protestos não temos tido absolutamente nada. Acabou tudo. Agora se é um ponto final definitivo? Acredito que não porque há vários elementos pró-democracia que já não se encontram em Hong Kong e eles dizem que vão continuar a lutar pela causa e acreditam que é possível. No terreno, provavelmente já não vamos assistir a manifestações com tantas pessoas e com tanto apoio de tanta gente”.

Com todas as medidas implementadas pela China, a vida voltou quase ao normal, porque os habitantes de Hong Kong estão agora preocupados com uma outra situação como nos explicou este professor a trabalhar no secundário: “A vida voltou ao normal. Não tem havido protestos nem confrontos. No entanto há um outro aspecto que esse é muito mais importante neste momento: o Covid-19, a questão do vírus. Hoje tivemos 24 novos casos, 19 dos quais são locais. Já há algum tempo que não sabemos o que é viver o dia-a-dia normalmente”.  

Por fim Jason James Santos realçou que o apoio internacional é importante para Hong Kong, mas não esquece que os interesses vão muito para além do território asiático:Obviamente que por um lado é importante saber que a comunidade internacional está atenta, mas por outro temos a percepção que esta mesma comunidade internacional não conhece exactamente a realidade no terreno. Os Estados Unidos têm feito bastante barulho, mas é uma questão que já vem de há algum tempo com a própria guerra comercial começada pelo Donald Trump e a sua administração. A lei nacional é uma forma de manter as atenções sobre aquilo que a China está a fazer, mas a nível do panorama internacional, político e financeiro, é mais um capítulo para a comunidade internacional e para a forma como lidam com a crescente potência que é a China”, concluiu o professor português que ensina inglês no secundário em Hong Kong.

De notar ainda que o território asiático tem estado preocupado com o ressurgimento de casos de Covid-19 com 24 novos doentes nas últimas 24 horas.

08:44

CONVIDADO 08-07-2020 MM

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