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Israel: “Unidos contra Netanyahu” é o único ponto em comum da coligação

Em Israel, os adversários do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu chegaram a um acordo para formar um governo de coligação heterogéneo e improvável. O único ponto em comum dos diferentes partidos coligados é estarem “unidos todos contra Netanyahu”, explica Maria João Tomás, especialista em assuntos do Médio Oriente.

O ultranacionalista Naftali Bennett (à esquerda) e o centrista Yaïr Lapid (à direita).
O ultranacionalista Naftali Bennett (à esquerda) e o centrista Yaïr Lapid (à direita). AP - Ronen Zvulun
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Após uma maratona de negociações, o líder da oposição israelita, Yaïr Lapid, conseguiu chegar a um acordo “in extremis” para formar um governo de coligação. Na quarta-feira à noite, cerca de meia hora antes do final do prazo, o centrista Yair Lapid ligou para o Presidente israelita, Reuven Rivlin, para anunciar que alcançou o apoio necessário (61 de 120 deputados) para uma coligação que pretende acabar com o governo do primeiro-ministro que ocupou o cargo por mais tempo no país, Benjamin Netanyahu. Lapid disse ao Presidente que o novo executivo “estará ao serviço de todos os cidadãos de Israel” e que “fará todos os possíveis para unir".

Para Maria João Tomás, especialista em assuntos do Médio Oriente, está-se perante “o fim da era Netanyahu” e abre-se a possibilidade de uma mudança da imagem de Israel.

Eu espero que signifique uma mudança de página em Israel, em que esta má imagem dada ao longo destes últimos tempos por Netanyahu - de corrupção porque ele próprio é indiciado por isso, de instabilidade política, de autoritarismo, de avanços sobre os territórios da Palestina que tanta indignação têm criado no mundo - que essa má imagem criada por Netanyahu nestes últimos tempos realmente chegue a um ponto final agora e que este governo vingue e que saiba viver”, considera a investigadora.

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Maria João Tomás, Especialista do Médio Oriente

A história política de Israel prepara-se, assim, para uma mudança com uma coligação governamental assinada pelos líderes de oito partidos - dois de esquerda, dois de centro, três de direita e um árabe.  A última vez que um partido árabe israelita apoiou um executivo, sem participar nele, foi em 1992, durante o governo de Yitzhak Rabin. Desta vez, o partido Raam, do islamita Mansur Abbas, assinou o acordo sem informar se vai participar activamente do governo.

Em meados de Maio, Yaïr Lapid foi incumbido de formar um governo, após o fracasso do actual primeiro-ministro, com base nos resultados das eleições de Março, as quartas em dois anos. A negociação passou quase despercebida durante a guerra de 11 dias entre o exército israelita e o movimento islâmico Hamas em Gaza.

Nos últimos três dias, a maratona negocial juntou as equipas dos principais dirigentes da esquerda, do centro e de uma parte da direita - como a Yamina, a coligação do líder da direita radical, Naftali Bennett, a quem foi prometido o posto de primeiro-ministro rotativo no quadro de uma alternância no poder.

A coligação é heterogénea e discorda em quase todos os temas, desde o conflito com os palestinianos à recuperação económica, passando pelo lugar da religião na política. Porém, tem como ponto em comum estarem “unidos todos contra Netanyahu", que chegou pela primeira vez ao poder há 25 anos e governou de 1996 a 1999, antes de ser reeleito em 2009 e de se ter mantido na chefia do governo nos últimos 12 anos consecutivamente.

Eu acho que este governo é um pouco reflexo daquilo que é Israel que é uma Israel fraccionada que, de alguma forma, tem realmente sionistas que são nacionalistas de direita de base religiosa, mas também tem do outro lado partidos árabes de base islâmica. Depois, tem no meio um conjunto de outros partidos laicos, outros menos laicos e mais nacionalistas, mas parece que se uniram todos contra Netanyahu”, acrescentou Maria João Tomás.

Na sua opinião, se este governo vingar e se o Presidente norte-americano continuar a ser pressionado pela ala esquerda dos democratas, “tudo pode acontecer”, nomeadamente a concretização de “ver reconhecido o Estado da Palestina e a solução dos dois Estados”.

 

Actualmente, Netanyahu está a ser julgado por corrupção em três casos, o que faz dele o primeiro chefe de Governo israelita a enfrentar acusações penais enquanto está no cargo. Se deixar o poder, Benjamin Netanyahu voltará a ser um simples deputado e perderá influência para tentar aprovar uma lei que o proteja dos seus problemas legais.

Netanyahu e o seu partido de direita, o Likud, vão tentar impedir que o primeiro acordo de coligação sem ele em dois anos obtenha a aprovação parlamentar e, de acordo com a imprensa israelita, o presidente do Parlamento, Yariv Levin (Likud), poderia adiar em uma semana o voto de confiança para ganhar tempo para dividir o campo anti-Netanyahu.

Os deputados elegeram, também, nesta quarta-feira, o sucessor do Presidente Reuven Rivlin, o trabalhista Isaac Herzog, de 60 anos, para este cargo essencialmente honorário.

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