Acesso ao principal conteúdo
Turquia

Queda a pique do valor da moeda e do poder de compra na Turquia

Apesar de a Turquia registar uma inflação elevada (21%), e enquanto os mercados exigem a subida das taxas de juro para a controlar, o presidente Recep Tayyip Erdogan é partidário de uma política de dinheiro barato que mantenha a economia ao rubro, também motivado por convicções islâmicas que condenam a renda.

O presidente turco, Erdogan, acredita que altas taxas de juros aumentam a inflação - o exacto oposto da teoria económica convencional.
O presidente turco, Erdogan, acredita que altas taxas de juros aumentam a inflação - o exacto oposto da teoria económica convencional. Andreas SOLARO AFP/File
Publicidade

O presidente turco tem por isso insistido em baixas taxas de juro, contrariando a teoria económica convencional. Nos últimos 4 meses o Banco Central já baixou as taxas de juro três vezes (para os actuais 15%), depois de sugestões do presidente, que anteontem voltou a reiterar, numa entrevista à TV turca, que pressionará para novas baixas no futuro. Nos últimos 2 anos três governadores do Banco Central foram demitidos por contrariarem a pouco ortodoxa abordagem económica de Erdogan.

Como resultado da última entrevista, a lira turca voltou a desvalorizar 4% ontem, e já perdeu 45% do seu valor contra o Euro desde o início do ano. Há 4 anos, 1 Euro comprava 4,7 liras - hoje compra 14,8. A próxima reunião do Banco Central é já no próximo dia 16 de Dezembro.

O presidente turco fala, entretanto, de uma verdadeira “guerra de libertação económica”, e convocou o Conselho de Defesa Nacional para analisar aquilo que considera ser ataques do exterior.

Esta desvalorização tem levado a uma queda abrupta do poder de compra, e do valor das pensões e poupanças dos turcos. Todos os produtos importados estão agora a preços incomportáveis para a generalidade dos cidadãos turcos – sente-se já, por exemplo, a falta de alguns medicamentos. Depois de uma década de diminuição, a taxa de pobreza voltou a aumentar, enquanto as desigualdades sociais aumentaram.

Pela primeira vez desde os protestos populares sobre o parque Gezi, em 2013, que marcou um momento de viragem na história recente da Turquia, várias manifestações saíram espontaneamente à rua na semana passada para protestar contra as políticas económicas de Erdogan.

Já as exportações têm aumentado em flecha, já que os produtos fabricados na Turquia registam agora preços muito competitivos. Como resultado, a economia turca está, globalmente, a crescer, e estima-se que registe um aumento de 9-10% no final do ano em relação ao ano passado.

Também porque em 2020, ano da pandemia, o crescimento foi pequeno (1,8%). O que parece um contra-senso porque uma grande parte do país está numa situação económica muito difícil. Esta aceleração da economia deve-se também ao facto de que muitos turcos, perante a desvalorização da lira, e os contínuos aumentos de preços, investiram em mercadorias e produtos para evitar perder dinheiro.

Os analistas financeiros dizem que esta política de crescimento económico baseada em crédito barato é insustentável e muito arriscada, com consequências a médio prazo graves.

A maior parte dos exportadores dependem ainda de energia importada (cada vez mais cara) e de muita maquinaria e matéria-prima do exterior.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Partilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.