Acesso ao principal conteúdo
Turquia/ Política

Estado turco recorre a mão de ferro para presos curdos de círculos dissidentes

Políticos e dissidentes curdos sofrem horrores nas prisões turcas. O Estado turco mantém uma mão de ferro sobre aqueles que considera terroristas. Uma advogada e ex-deputada, que defendeu o líder separatista curdo Abdullah Ocalan, tornou-se um dos alvos do governo da Turquia.

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e os seus aliados nacionalistas, defendem  um  posicionamento duro contra o separatismo e o activismo político curdo.
O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e os seus aliados nacionalistas, defendem um posicionamento duro contra o separatismo e o activismo político curdo. Adem ALTAN AFP
Publicidade

Aysel Tugluk, uma advogada e ex-deputada curda que chegou a defender Abdullah Ocalan, o líder histórico do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão, separatista curdo, e considerado um grupo terrorista por Ancara, a União Europeia e Washington).

Tugluk, que está  a cumprir uma pena de prisão de 10 anos por “terrorismo”, encontra-se na fase terminal de uma doença neurológica grave.Ela é um dos alvos da mão de ferro do Estado turco, contra os círculos  curdos dissidentes.  

Um painel médico recomendou a sua libertação por motivos humanitários, algo que o Estado turco tem recusado.  

Nos últimos dias, outra prisioneira curda, Garibe Gezer, detida desde 2016, também por “terrorismo”, e que tinha acusado a existência de violações, assédio sexual e tortura na prisão, foi encontrada morta na sua cela solitária.

A  autópsia do corpo de Gezer foi realizada sem a presença do seu advogado, e o veredicto final foi “suicídio”.

O próprio Ocalan, que  cumpre uma pena de prisão perpétua desde 1999, não tem recebido nenhuma visita dos seus advogados ou familiares, nos últimos dois anos, por motivos disciplinares, por ter falado com outros prisioneiros na prisão-ilha de Imrali, perto de Istambul.

A última vez que o líder do grupo terrorista curdo contactou com os seus advogados, e recebeu a visita do seu irmão, foi em 2019.

Estes três exemplos demonstram a mão pesada que o Estado turco aplica a todos os prisioneiros curdos, acusados de terrorismo. Uma “crueldade institucionalizada”, como lhe chamou a jornalista, Amberin Zaman.

Organizações turcas e internacionais de defesa dos direitos humanos, entre as quais o Comité Europeu para a Prevenção da Tortura (CPT) consideram o tratamento destes e doutros presos nas prisões turcas “inaceitável”.

Pelo menos 7000 militantes e quadros do Partido Democrático do Povo (HDP, curdo, 11% nas últimas eleições legislativas em 2018), incluindo vários ex-deputados, e o seu líder atual, o carismático Selahattin Demirtas, estão actualmente atrás das grades.

 Os militantes curdos são acusados de terrorismo, enquanto a justiça turca procura a eventual ilegalização do HDP, o terceiro maior partido da Turquia.

 O governo de Ancara tem ignorado uma decisão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que ordenou a libertação de Demirtas.

O procurador pede que 687 quadros do  Partido Democrático do Povo sejam banidos da política para sempre, incluindo os actuais 55 deputados, devido às “ligações" entre o partido e o PKK, com o objectivo de destruir a integridade da Turquia”.

Cinquenta dos 60 autarcas, eleitos nas últimas eleições locais, já tinham sido substituídos por comissões de gestão apontadas pelo Governo central.

Após um período de aproximação e  até de  contactos formais entre o Governo de Recep Tayyip Erdogan, o actual presidente, e o próprio PKK, em 2013, e uma “primavera curda” onde direitos e liberdades individuais pareciam ser respeitados, houve uma volta de 180° na abordagem de Ancara em 2015.  

A  partir da referida data ,o HDP recusou apoiar o regime presidencialista de Erdogan, ao mesmo tempo  em que as milícias curdas sírias, com ligação ao PKK, começaram a ser apoiadas pela comunidade internacional para combater o Daesh na guerra na Síria.

 Ancara considerou uma ameaça, à sua segurança interna, o apoio às milícias curdas sírias. Desde então   Recep  Tayyip Erdogan, e os seus aliados nacionalistas, têm defendido uma abordagem dura contra o separatismo e o activismo político curdo.

Ouça aqui a correspondência de José  Pedro Tavares.

01:09

Correspondência de José Pedro Tavares 21 12 2021

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Partilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.