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Turquia

Chefe da NATO visita Turquia ainda em estado de choque 10 dias depois do sismo

O secretário-geral da NATO visita hoje a Turquia para mostrar solidariedade – e continuar a pressionar a Turquia para levantar o veto à adesão da Suécia e Finlândia à organização. Mas este tema não será a preocupação principal de Erdogan, a braços com a gigantesca tarefa de reconstruir o país, perante críticas cada vez mais persistentes sobre a responsabilidade do Governo no balanço deste desastre natural que até ao momento se eleva a mais de 36 mil mortos no país.

Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, em conferência de imprensa conjunta com o chefe da diplomacia turca Mevlut Cavusoglu, neste dia 16 de Fevereiro de 2023 em Ancara.
Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, em conferência de imprensa conjunta com o chefe da diplomacia turca Mevlut Cavusoglu, neste dia 16 de Fevereiro de 2023 em Ancara. © AFP
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Com as autoridades turcas a braços com uma gigantesca operação humanitária para alimentar e realojar as centenas de milhares de sobreviventes do sismo do passado dia 6 de Fevereiro que perderam as suas casas, o tema da adesão da Suécia e da Finlândia a NATO, que Ancara tem bloqueado, parece uma coisa muito distante.

Mas a verdade é que este assunto será certamente abordado com Jens Stoltenberg, o secretário-geral da Aliança Atlântica, durante a visita que está a efectuar hoje e amanhã à Turquia, em parte para mostrar solidariedade de todos os membros da NATO para com o seu aliado da Turquia, após aquilo a que o presidente Recep Tayyip Erdogan chamou o "desastre do século".

Perante a complexa situação no terreno – mais de 36.000 mortos só na Turquia, mais de 100,000 feridos, dos quais 13.000 ainda estão a receber tratamento hospitalar, quase um milhão de desalojados, Stoltenberg foi mais apaziguador: “Compete à Turquia decidir como quer fazer com a ratificação da adesão destes dois países – se o faz aos dois - a minha recomendação, ou se ratifica apenas um”, disse o secretário-geral após a reunião esta semana dos ministros da defesa dos aliados da NATO, abrindo a porta a uma adesão mais rápida da Finlândia, algo que a Turquia já tinha sugerido, já que Ancara tem considerado que a Suécia ainda não fez o suficiente para impedir a actuação de grupos curdos que a Turquia considera serem terroristas separatistas.

Antes do terramoto, já era dado como certo que uma decisão turca não aconteceria antes das eleições presidenciais, marcadas para 14 de Maio, e todos apontavam para tentar uma decisão a tempo da próxima cimeira da Aliança Atlântica, em Julho, em Vilnius, após o escrutínio na Turquia.

O problema é que perante as crescentes críticas da sociedade turca com a forma como o governo de Erdogan organizou e coordenou as operações de salvamento – o próprio presidente admitiu falhas nos primeiros dias, começa-se a especular cada vez mais sobre a possibilidade de Erdogan adiar as eleições – o que mergulharia este processo numa incerteza ainda maior.

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A verdade é que muitos responsabilizam o regime de Erdogan pelo elevado número de vítimas registado no terramoto. Muitos analistas sugerem que a excessiva centralização à volta do presidente, com variados organismos sem autonomia para a tomada de decisões, e a politização das agências relevantes, populadas por partidários leais, mas sem competências técnicas, contribuíram para a descoordenação observada.

O governo de Erdogan procura agora controlar a narrativa, dizendo que o sismo foi demasiado violento para uma resposta eficaz, e procura lançar responsabilidades sobre empreiteiros e engenheiros - centenas de mandados de captura já foram emitidos, e dezenas de pessoas detidas.

Mas muitos sugerem que haverá também que pedir responsabilidades políticas – o próprio Erdogan decretou várias amnistias que legalizaram centenas de milhares de edifícios ilegais por todo o país, e pelas câmaras municipais, a maior parte do partido do presidente, que licenciam e inspeccionam edifícios, que deveriam ser construídos de acordo com os regulamentos anti-sísmicos.

A oposição é clara – culpa Erdogan pela situação e recusa o adiamento das eleições, que segundo a Constituição só poderia ocorrer em caso de guerra. Este terrível terramoto pode, pois, deitar por terra não só uma adesão da Suécia e da Finlândia à NATO, mas também o próprio futuro político de Erdogan.

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